Balanço da ofensiva
E as mortes esfriaram na Região Metropolitana
Desde a chegada dos PMs do Interior, índice de homicídios caiu. Período coincide com aumento do frio e das chuvas, que tradicionalmente freiam a criminalidade
Eram 20h30min de terça-feira passada quando uma moradora da Vila Grécia, no Bairro Agronomia, foi surpreendida por um homem ferido, cambaleante. Ele entrou no pátio e caiu sem vida próximo da porta. Estava ferido a tiros e pauladas. Até ontem, seguia sem identificação no DML.
Diante da estratégia da Brigada Militar, a morte parece uma afronta àquele que é considerado o maior desafio do policiamento este ano. Afinal, ocorreu na área mais preocupante da Capital: o limite das zonas Norte e Leste.
Neste ano, redução de 20,2%
Na noite de terça, completaram-se os primeiros dois meses de reforço das duas regiões de Porto Alegre, além de Alvorada, Viamão, Gravataí e Cachoeirinha. E os números foram positivos. Conforme o levantamento do Diário Gaúcho, houve queda de 20,2% nos homicídios nesses municípios na relação com os 60 dias anteriores. Os números coincidem com os da Brigada.
Contudo, a explicação para a queda vai além do reforço da patrulha. O frio e a chuva, comuns entre maio e julho, contribuem para a diminuição.
- Nesse período é comum os criminosos se encolherem um pouco, realmente. É preciso esperar um intervalo maior para termos a noção exata da repercussão das nossas ações - disse o comandante do CPM, coronel Silanus Mello.
Em 2011, queda de 16,1%
Fazendo o mesmo comparativo entre bimestres no ano passado, sem ofensiva da Brigada Militar, houve queda de 16,1% nos crimes das cinco cidades.
O responsável pelo policiamento da Capital, coronel Paulo Stocker, discorda da influência do frio:
- A prioridade no combate aos homicídios se verificou exatamente a partir de junho do ano passado, quando começou uma curva ascendente nos índices. Recebemos o reforço baseado nesse aumento verificado no começo desse ano. A única comparação justa é com o período anterior à chegada dos policiais.
No entanto, ele admite que há preocupação para quando a temperatura voltar a subir. Os comandantes negociam com o governo a permanência dos reforços ao menos até o começo da Operação Golfinho, no fim de novembro.
Reforço policial
A ofensiva da Brigada Militar começou em 11 de maio, com remanejo de 200 PMs do Interior.
Na Capital, a Zona Norte recebeu 50 PMs e a Zona Leste ficou com 25 PMs.
Outros 125 PMs foram divididos entre Alvorada, Cachoeirinha, Gravataí e Viamão.
Inicialmente, a ação duraria 60 dias, mas já foi prorrogada até setembro.
A tentativa dos comandantes é estender a ação até o final de novembro.
Em Alvorada, balanço empatado
Uma curiosidade na análise dos dois meses de reforço aparece justamente no município da Região Metropolitana onde há o maior índice de homicídios no ano. Desde a chegada dos PMs, foram 18 homicídios em Alvorada, representando uma queda de 25% em relação ao verificado dois meses antes (24 casos).
Entre o começo de maio e o início de julho do ano passado, aconteceram 15 assassinatos contra 20 nos 60 dias anteriores. Ou seja, exatos 25% de queda dentro do período analisado.
- Estamos aprimorando nossas ações de policiamento, mas as características dos homicídios seguem as mesmas. As vítimas e os autores, em geral, já têm antecedentes criminais - explicou o coronel Silanus.
Coronel faz reivindicação
Segundo o comandante, enquanto o sistema prisional não mudar, só o policiamento e a investigação não vão resolver no combate à criminalidade.
Mais crimes na Lomba do Pinheiro
Na divulgação dos seus números, a BM considerou apenas os homicídios nas duas áreas priorizadas pelo reforço na Capital, ignorando a hipótese de os criminosos terem migrado para outras áreas.
Se o Extremo Norte de Porto Alegre, vigiado pelo 20º BPM, teve queda de 40%, o efeito foi contrário na Zona Leste. Houve 11 homicídios desde 11 de maio, um acréscimo de 80% em relação aos dois meses anteriores.
Ainda é cedo para repensar
- O 19º BPM recebeu a metade do efetivo do 20º BPM. Mas é cedo para falarmos em reforçar o Leste. Precisamos avaliar com cuidado se essa não foi uma situação pontual, que se resolva com o serviço de inteligência mais apurado - afirmou o coronel Stocker.
Nova zona de conflito
A maior parte das mortes estariam relacionadas a um conflito entre jovens das vilas Mapa e Quinta do Portal, na Lomba do Pinheiro. De acordo com o delegado Cléber dos Santos Lima, da Delegacia de Homicídios, do Deic, a região é uma das que mais preocupam atualmente na cidade.
Planilha DG sobre homicídios em 2011
Total
De 11/3 a 10/5: 118
De 11/5 a 10/7: 99
Queda de 16,1%
Alvorada
De 11/3 a 10/5: 20
De 11/5 a 10/7: 15
Queda de 25%
Gravataí
De 11/3 a 10/5: 12
De 11/5 a 10/7: 9
Queda de 25%
Viamão
De 11/3 a 10/5: 11
De 11/5 a 10/7: 12
Aumento de 9,09%
Porto Alegre
De 11/3 a 10/5: 69
De 11/5 a 10/7: 61
Queda de 11,5%
Cachoeirinha*
De 11/5 a 10/6: 6
De 11/6 a 10/7: 2
Queda de 66,6%
Crimes antes e depois da ofensiva de 2012
Total
60 dias antes: 138
60 dias depois: 110
Queda de 20,2%
Alvorada
60 dias antes: 24
60 dias depois: 18
Queda de 25%
Gravataí
60 dias antes: 16
60 dias depois: 7
Queda de 56,2%
Viamão
60 dias antes: 15
60 dias depois: 12
Queda de 20%
Porto Alegre
60 dias antes: 77
60 dias depois: 70
Queda de 9,09%
Cachoeirinha*
30 dias antes: 6
30 dias depois: 3
Queda de 50%
(*) Período é menor em função de a ofensiva da BM ter chegado à cidade 30 dias depois.