A marcha da morte só acelera

O chão ainda ensanguentado e o silêncio entre vizinhos amedrontados era o que havia sobrado, na manhã de ontem, de um crime ainda misterioso para a polícia na Zona Norte da Capital. No final da noite de domingo, Ana Luiza Maciel da Silva, 22 anos, foi morta com oito tiros no portão de casa, no Acesso H3, do Loteamento Wenceslau Fontoura, Bairro Mario Quintana.

Conforme o levantamento do Diário Gaúcho, o crime mostrou que nem o período frio do ano fez com que a incidência de assassinatos em toda a Região Metropolitana diminuísse. A média preocupante de aproximadamente cem assassinatos por mês foi mantida. Desde o começo de 2012, já foram 700 homicídios. Mais de três pessoas são assassinadas diariamente na região.

- Voltaram para chavear o portão

Passava das 23h quando o namorado de Ana Luiza chegou à casa em que eles viviam juntos há três meses, nos fundos da residência da família dela. O rapaz entrou e cerca de 40 minutos depois os dois teriam voltado ao pátio para chavear o portão. Neste momento, o silêncio da noite no Acesso H3 foi quebrado pelos disparos.

- "Era uma guria do bem"

O namorado conseguiu escapar para os fundos, mas Ana Luíza ficou. Foi executada no portão a tiros de calibre 38. A 2ª Delegacia de Homicídios, do Deic, ainda apura as circunstâncias do crime, já que nenhuma testemunha apontou aos agentes o que aconteceu com clareza. Não se sabe se ela foi morta por um atirador com dois revólveres, ou por dois matadores. A motivação também é obscura.

- Ela era uma guria do bem. Não tinha briga com ninguém e nunca se envolveu com nada errado - comentou um amigo da família na manhã de ontem, enquanto os parentes cuidavam do sepultamento, em Alvorada.

A jovem não tinha antecedentes criminais. Uma das possibilidades que passam a ser consideradas pela polícia é a de um crime passional, que envolveria o ex-namorado de Ana Luiza. Até ontem, no entanto, nem o atual, nem o antigo namorado dela haviam sido localizados.

Média macabra

- Morte 100 - 27 dias
- Morte 200 - 37 dias
- Morte 300 - 32 dias
- Morte 400 - 27 dias
- Morte 500 - 31 dias
- Morte 600 - 34 dias
- Morte 700 - 35 dias
- Desde o começo do ano a média de homicídios na Região Metropolitana é de 3,2 assassinatos por dia.
- Seguindo essa média, o ano fecharia com 1.172 assassinatos na região.
- Capital - Por volta das 23h30min de domingo foi encontrado o corpo de um homem negro, aparentando 25 anos, carbonizado dentro de um matagal na Rua Santuário, Bairro Vila Nova, na Zona Sul. Até a tarde de ontem, o corpo não havia sido identificado no DML.

Chacina misteriosa na Zona Norte da Capital

Ainda é um mistério para os policiais da 2ª Delegacia de Homicídios os motivos para uma chacina brutal que assustou moradores da Zona Norte da Capital, na madrugada de sábado. Dois homens e duas mulheres foram torturados por mais de duas horas, colocados no porta-malas de um carro e depois mortos a tiros e pauladas.

Os policiais ainda tentam entender o que aconteceu na Rua Dois de Fevereiro, no Bairro Passo das Pedras.

Enrolados em cobertores e lençóis, os corpos de Douglas Daniel Castro da Costa, 27 anos, e Leandro Castro Batista, 23 anos, e de duas mulheres não identificadas, ainda foram fuzilados a tiros de calibre .380.

- Vítima estava foragida

- Era uma cena de filme de terror - resumiu o plantonista da Volante da 1ª DPPA, delegado Fabrício de Santis Conceição.

Encarregado da investigação, o delegado Luciano Peringer esteve na casa onde as vítimas foram capturadas. A residência, no Bairro Mario Quintana, foi invadida por quatro ou cinco homens por volta das 23h de sexta-feira. Do lado de fora, deixaram um Citröen C3 prata, provavelmente o mesmo carro roubado horas antes no Bairro Cristal, na Zona Sul. Depois, os corpos foram deixados no bairro vizinho.

Condenado a 23 anos de prisão por latrocínio, Douglas estava foragido desde novembro. Foi a segunda chacina na Região Metropolitana na mesma semana - dia 31, três jovens foram mortos em Viamão.