Polícia



Inocência a perigo

Adoção ilegal: juiz de olho em casórios na Bahia

Com o pedido de quebra de sigilo bancário de Carmem Topschall, solicitado terça-feira pela CPI do Tráfico de Pessoas, investigação sobre adoções suspeitas no Nordeste seguirá a trilha dos negócios da gaúcha

01/11/2012 - 09h40min

Atualizada em: 01/11/2012 - 09h40min


Uma alegada ação social para famílias pobres no município de Pojuca, na Região Metropolitana de Salvador, leva a Justiça da Bahia a engrossar a suspeita de adoções irregulares no sertão baiano, com conexão no Rio Grande do Sul. Seria mais uma faceta da organização que aponta a gaúcha Carmem Kieckhofer Topschall, 47 anos, e
o marido, o alemão Bernard Michael Topschall, 55 anos, como possíveis comercializadores de bebês sob o pretexto de adoções.

Estava marcado para maio deste ano um casamento coletivo na cidade, reunindo 500 casais no parque de eventos. Quem organizava era a "senhora Carmem", como  anunciavam jornais locais.

Lá, tem status de empresária a mulher que saiu há uma década de Gravataí e é apontada como principal intermediadora de adoções suspeitas.

● "Uma estratégia ardilosa"

O juiz Luis Roberto Cappio, que apura os casos de retiradas de crianças em Monte
Santo (BA), afirma:

- É uma estratégia ardilosa, pois são famílias simples e desavisadas que mordem essa isca. Casamentos assim servem como cooptação para que olheiros encontrem futuros
"fornecedores" de crianças.

A festa, transferida para agosto, foi cancelada quando o assunto surgiu no Fantástico. O juiz acredita que Carmem promoveu outros casórios coletivos.

A CPI do Tráfico de Pessoas já solicitou a quebra de sigilo bancário dela e das famílias que levaram as crianças da Bahia para Campinas (SP). Os deputados querem entender se houve pagamento à investigada, e assim incriminá-la.

● Advogado contesta juiz

Enquanto o juiz crê em numa série de empresas de fachada para legalizar o dinheiro, o advogado da gaúcha, Maurício Vasconcelos, contesta. Segundo ele, Carmem e Bernard estariam em Pojuca há dois anos por estarem mal financeiramente.

Até Fábio Jr. foi contatado

O anúncio do casamento coletivo contraria o argumento da defesa (problemas financeiros). Carmem prometia um final apoteótico. Cobrando ingressos de R$ 50 aos convidados dos casais, ela anunciou show com o cantor Fábio Jr., estimado em, pelo
menos, R$ 100 mil. O empresário do cantor, Luís Mussini, contou os bastidores:

- Ela negociou diretamente conosco, e sinalizou com o cachê. Mas eu achei muito enrolada essa negociação, porque nunca fechava a data. Depois de dizer que não sairia, em maio, ela chegou a cogitar um show em Salvador. Mas, no fim, encerramos a negociação.

Entenda o caso

● No começo de outubro, vieram à tona casos de adoções suspeitas no sertão da Bahia. Nos últimos três anos, pelo menos dez crianças teriam sido retiradas de suas famílias e, em tempo recorde, entregues a novos pais no interior de São Paulo.
● Num dos casos, os adotantes chegaram num dia e levaram as crianças no outro. Em função disso, um juiz de Monte Santo foi afastado e está sob investigação de favorecer
adoções irregulares.
● A gaúcha Carmem Kieckhofer Topschall é apontada como a principal intermediária dos casais paulistas. A Justiça suspeita que ela seja o elo de uma rede de tráfico de crianças que manteria contatos com Gravataí, sua cidade-natal.
● Convocada à CPI do Tráfico de Pessoas, esta semana, ela não compareceu. Os deputados solicitaram a quebra do sigilo bancário dela e dos casais. Suspeita é de que o patrimônio revele supostos contatos de um grupo organizado.


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