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Tráfico de drogas

Vila Maria da Conceição: Um império em debandada

Casas de luxo abandonadas em meio à pobreza das vielas da Vila Maria da Conceição refletem a debandada dos aliados do traficante Paulão

07/06/2013 - 07h41min

Atualizada em: 07/06/2013 - 07h41min


Casebres e vielas contrastam com a mansão de traficante (ao fundo)

Há um rei deposto na Vila Maria da Conceição, Bairro Partenon. Ou um exército em retirada estratégica. Essa é a constatação possível quando se entra pelas vielas de terra - com becos onde mal passam duas pessoas a pé - e surgem na paisagem suntuosas casas, destoantes do ambiente de pobreza. Estão, na maior parte, abandonadas.

De acordo com a Brigada Militar, foram deixadas para trás pelos principais gerentes do tráfico naquela área, ligados a Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição, nas duas últimas semanas.

Ninguém quer ocupar as casas

Mesmo com portas arrombadas e a maior parte dos móveis já retirados, ninguém ousa ocupar, até agora, as residências. Na tarde de quarta, a reportagem constatou essa situação em pelo menos cinco casas da vila.

- Quem está saindo de casa não são moradores comuns, e, como não há um novo comando, ninguém invade. Por medo e respeito. Ou porque esperam o que pode acontecer - acredita o sargento Diógenes da Silva, que comanda a força-tarefa do 19º BPM, que atua dentro da vila.

Parentes de Paulão fugiram

No começo de maio, o traficante conhecido como Xu, um antigo gerente de Paulão, resolveu assumir o controle do tráfico na Conceição. Desde então, a zona está em guerra aberta. Nas ruas, o boato é de que os últimos parentes do Paulão da Conceição que ainda moravam na vila buscaram abrigo em outras regiões.

Um luxo só

O maior símbolo da debandada provocada pela guerra do tráfico está em um beco estreito no final da Rua Irmã Nely. Camuflada por uma série de casebres, ergue-se uma mansão com três andares e cobertura.

A casa é apontada pela polícia como o local onde a família de Paulão viveu por mais de uma década. Nos últimos anos, pelo menos três mandados judiciais foram cumpridos no local pelo Denarc e o Ministério Público. Sempre vinculados ao traficante, atualmente preso na Pasc, em Charqueadas.

O acesso é difícil, porque não se veem portões ou um pátio. É preciso passar por um labirinto de corredores, quase por dentro dos casebres. Um caminho sinuoso até chegar à mansão, de porta arrombada.

Com pintura caprichada, detalhes em tijolos à vista e poucas janelas, tudo lembra as casas dos líderes do tráfico carioca. Lá dentro, há banheiros com hidromassagem, pelo menos seis quartos, lustres de cristal, quadros e azulejos decorando cada ambiente. Nas paredes, imagens de santos - em especial São Jorge.

Tudo está abandonado, só os eletrodomésticos foram retirados.

Até boca de fumo virou casa fantasma

O esgoto correndo a céu aberto e o caminho com lixo espalhado pelos cantos contrasta com as duas casas amplas, bem cuidadas e de pintura nova no final do Beco Caxias. As duas estão vazias desde o começo de maio. Teriam sido as primeiras abandonadas na vila, logo depois da morte de um dos gerentes de Paulão.

A última casa abandonada, no entanto, não era uma moradia. Conforme o levantamento da polícia, era o local onde Sandro Drey de Souza, 21 anos, sobrinho do patrão do tráfico e executado há uma semana, mantinha uma boca de fumo. O local onde os usuários supostamente se reuniam - uma sala ampla - tem como únicos móveis bancos que formam um círculo.

- Aqui que eles faziam a "farinhada" (consumo de cocaína) - aponta um PM.

Há indícios de que remanescentes da quadrilha ainda sustentam esse ponto de tráfico.

A guerra

A região abrigaria pelo menos 50 pontos de tráfico, com movimentação de mais de R$ 1,2 milhão por mês.

Um império que ganhou status de maior da Capital nos anos 90, liderado por Paulão da Conceição.

Com o líder preso e doente, um antigo gerente, conhecido como Xu, rebelou-se e estaria liderando a guerra para tomar o controle da região. Paulão também perdeu o controle da galeria da qual era líder, na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas.

A polícia investiga articulações para a retomada do controle, tanto por parte de Beto Drey (enteado do Paulão), quanto do próprio Paulão.

Golpe no bando que tenta tomar o poder

O grupo de traficantes que estaria desafiando o poder da quadrilha liderada por Paulão sofreu um duro golpe na madrugada de ontem. Na sequência de três ações, a Brigada Militar prendeu seis homens na Zona Sul da Capital.

Entre eles estavam João Carlos da Silva Trindade, o Colete, 35 anos, e Anderson da Silva, o Tetão, 26 anos, ambos com antecedentes por roubos, tráfico e homicídio, e apontados pela polícia como os principais articuladores aliados ao traficante Xu que comanda a tomada dos pontos da Vila Maria da Conceição.

Quem fica na vila, fica calado

Na tarde de quarta, um menino miudinho, com não mais do que seis anos, de bermudas rasgadas, sem camisa, pés descalços, saiu correndo de um barraco, indiferente ao contraste da mansão.

Carregava um cano de PVC simulando um fuzil. Os tiros imaginários, no entanto, não quebravam o silêncio permanente nas últimas semanas no coração da vila. Depois das 18h, não se vê ninguém nas ruas.

Reflexo do medo, uma casinha verde, na esquina entre as ruas Irmã Nely e Carlos de Laet, há duas semanas está fechada. Moravam ali três mulheres com quatro crianças. Ao abandonar a casa, a moradora explicou aos PMs:

- Eu sei que vai dar tiroteio. Com paredes de madeira, é muito arriscado.

Do outro lado da esquina, uma casa foi "fortificada". O muro existente foi erguido até a altura do teto da moradia. Foram deixadas só algumas frestas, supostamente, para atiradores.

De acordo com a Brigada Militar, fica nesse local o centro nervoso das bocas lideradas pelo bando de Paulão.

Sem piedade

Desde o começo de maio, pelo menos quatro gerentes do tráfico, pertencentes à facção de Paulão, foram executados.


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