Polícia



Presídio S.A.

O esquema das cantinas piratas no Presídio Central

Sem forças para conter as facções dentro dos presídios, o poder público acaba facilitando o sistema administrado pelos criminosos

04/10/2013 - 07h44min

Atualizada em: 04/10/2013 - 07h44min


Mercadinho do Central não é para todos

Há ao menos dois consensos entre os presos e as facções que fortalecem o poder nas galerias do Central: ninguém aprova a comida servida pelo Estado e todos querem lucrar de alguma forma.

Incapaz de fornecer mais do que a alimentação básica aos presos - os 3 milhões de refeições mensais custam aos cofres públicos em torno de R$ 1,30 cada uma -, o poder público terceiriza um espaço dentro do presídio para que funcione a cantina, administrada por comerciantes, com preços tabelados e fiscalizados.

Estado cobra aluguel

A Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) ganha em torno de R$ 80 mil com a cobrança de alugueis dos mercados nas principais cadeias do Estado. Indiretamente, o sistema alimenta um dos principais mecanismos de faturamento das facções nas galerias: as cantinas "piratas".

No Presídio Central, a Susepe cobra R$ 35 mil mensais de aluguel, incluindo custos de água e luz, da comerciante que explora o serviço há oito anos. Se alugasse uma peça semelhante, com 78m², nos arredores do presídio, ela não gastaria mais de R$ 2 mil.

- Sei que o valor está acima do mercado, mas em qual outro lugar eu teria mais de quatro mil clientes cativos? Eles (presos) só têm a nós para comprar e trabalho com mais segurança do que na rua - justifica a comerciante, que tem sua identidade preservada.

Presos não têm opção

O mercado oficial vende desde refrigerante até produtos básicos, como os de higiene, que o Estado nunca entregou aos detentos. Mas a atividade já foi engolida pelo sistema dominado pelas facções.

Os presos comuns não vão ao mercado oficial. Quem vai lá são os "cantineiros", designados pela facção para fazer todas as compras da galeria. Depois, os produtos ficam em uma prateleira na galeria, com preços bem mais altos. É a única opção de compra para os detentos.

Comida é incrementada

Até a comida fornecida pela administração é "incrementada" na cantina das facções. E supervalorizada. Aquele R$ 1,30 gasto pelo poder público chega a R$ 15 nas galerias.

O aluguel do mercado do Central não é investido obrigatoriamente no presídio. O dinheiro vai para o Fundo Penitenciário, que gerencia obras em todas as cadeias gaúchas.

Leia a reportagem completa na edição desta sexta-feira do Diário Gaúcho

Clique nos links abaixo para conferir as duas primeiras reportagens da série Presídio S.A.:

Dívida é paga com a vida no Presídio Central, em Porto Alegre
Facções criminosas faturam até R$ 500 mil mensais nas galerias do Central


MAIS SOBRE

Últimas Notícias