Polícia



Mascotes em perigo

Cãezinhos sumidos em Gravataí podem ter sido trocados por crack

Onda de sumiços de cães no Bairro Morada do Vale I, em Gravataí, gera suspeitas de que eles estão se tornando moeda de troca do tráfico

12/12/2013 - 10h01min

Atualizada em: 12/12/2013 - 10h01min


Se você tem um cachorrinho de raça, na Morada do Vale I, em Gravataí, abra o olho. Eles estão sumindo. E o boato que corre na vizinhança é de que eles estão virando pedra nas bocas de fumo da região. A situação piorou nos últimos três meses, quando são furtados - ou desaparecem dos pátios - pelo menos três cachorros por semana.

Ninguém ousou buscar seu cão com os traficantes até agora, mas alguns arriscam até uma tabela de preços. Seriam vendidos por R$ 20 nas bocas. Valor pago aos gatunos em pedras de crack.

Há uma semana, o Doki - um yorkshire, amarelo -, foi levado do pátio da casa de Cleusa Deiques, 58 anos, na Rua Alfeu Leti. No sábado, outro cão da mesma raça teria sido furtado de uma casa a menos de uma quadra de distância. E na terça, na mesma quadra, um terceiro cachorro sumiu.

Vítimas não registram casos

- Dizem que um casal passou caminhando por aqui e pegou o Doki. A gente escuta essas histórias, mas tenho medo de ir atrás. O problema é que ele está doente - lamenta Cleusa.

Ela espalhou cartazes pelo bairro com uma foto e as características do cachorro de quatro anos.

- Até recompensa eu já pensei em oferecer para ter o meu cachorrinho de volta - diz.

Há cerca de um mês, no mesmo bairro, o cão da raça shih tzu, do filho da dona Cleusa, também foi furtado. Eles não registraram ocorrência, assim como nenhum dos vizinhos.

Três sumiços por semana

O primeiro lugar procurado por quem perde seu mascote é a pecuária de Áureo Tedesco, uma espécie de ponto de encontro para quem tem um bichinho na Morada do Vale I.

Lá, as paredes viraram mural para anúncio de cães desaparecidos.

- Chegamos a ter informação de até três cachorrinhos levados por semana. Sempre os de raça - comenta Áureo.

Uma das vítimas foi o cunhado dele, na Rua Araújo Vianna. Há três meses levaram o seu yorkshire. Até hoje, ele não teve notícias do cãozinho.

Sem denúncias, casos não são investigados

Uma das suspeitas dos moradores da Morada do Vale I é de que, levados para as bocas de fumo em troca de crack, os cachorros voltem ao mercado de cães de raça, provavelmente repassados em outros bairros. Mas nada é confirmado. Como os casos, geralmente, não são comunicados à polícia, não há investigação.

Nenhuma ocorrência foi feita na 2ª DP de Gravataí. Nos últimos meses, pelo menos duas ações foram feitas pela delegacia em pontos de tráfico da Morada do Vale I. Em nenhuma delas foram encontrados cachorros de raça.

A orientação da polícia é para que as pessoas registrem os furtos.

Para informações sobre cães perdidos ou furtados, acesse o Blog Bicharada.

Dona buscou poodle em boca de fumo

A desconfiança dos moradores de Gravataí faz sentido para uma aposentada de 57 anos, de Guaíba. Em outubro, um mês depois de furtarem a Priscila, sua poodle de cinco anos, ela a resgatou na casa de um traficante na periferia da cidade. Pagou R$ 500.

- Eu sei que foi arriscado. Fui desaconselhada, mas as pessoas não imaginam o quanto isso causa de dor nas famílias - desabafa.

A suspeita é de que um usuário de crack tenha levado o cachorro e pelo menos outros dois na mesma região.

Mulher se arriscou

O resgate de Priscila começou quando o suspeito de ter recebido o cãozinho viu, em uma loja, um cartaz feito pela aposentada. Ele disse à lojista que estava com o cão e mandou a dona dele procurá-lo.

- Quando disse ao taxista aonde iria, ele se apavorou. Eu não tinha ideia de com quem estaria lidando - conta a mulher.

O homem alegou que os R$ 500 bancariam o que ele teria gasto com pet shop e medicação da cachorrinha, que estava doente. A aposentada não crê:

- Antes, roubavam os cachorros porque achavam bonitinhos. Agora, viraram moeda de troca.


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