Polícia



Rincão do Medo

Bairro de Gravataí registrou 8 mortes em menos de um mês

Polícia atribui mortes a confronto de traficantes

06/03/2014 - 10h01min

Atualizada em: 06/03/2014 - 10h01min


Em uma esquina da Travessa Laranjeiras, o casebre de madeira já meio apodrecida está destruído, com janelas quebradas e sem porta. O piso tem rachaduras, o telhado está esburacado. Ao redor, o matagal começa a tomar conta. A casa, supostamente abandonada por um traficante em fuga, é o retrato das últimas semanas no Bairro Rincão da Madalena, em Gravataí.

Uma viatura da BM nas ruas esburacadas poderia passar impressão de segurança. Mas os números dão razão ao olhar de medo dos moradores quando em estranho chega.

Em 25 dias, foram oito mortes no Rincão - o mesmo registrado em todo 2013.
Moradora próxima ao casebre, uma mulher de 41 anos, temendo ser a próxima vítima, deixou a casa. Volta, eventualmente, para alimentar os cachorros. Quer vender o imóvel.

- E quem vai querer morar aqui? Pode ver na volta, todo mundo quer sair. Traficantes tomaram conta - diz.

As série de mortes começou em 9 de fevereiro. E só piora.

- Toda noite tem barulho de tiro. O jeito é ficar entocado em casa - conta um homem de 52 anos.

- Disputa também pelo "Vietnã"

Arrependido de ter vendido o sítio que tinha em Morungava, há um ano foi morar com a família no Rincão e, como ele define, "perdeu a vida":

- Aqui, a gente só sai quando precisa. Até para não se envolver.

A situação repete 2013, quando dois grupos disputavam o comando do Rincão e, também, do chamado "Vietnã", uma rota clandestina para armas e drogas, em meio à mata fechada que divide o Bairro Itatiaia.

Silêncio nas ruas

A Quarta de Cinzas amanheceu no Rincão sem crianças nas ruas. Em cada
janelinha, apenas olhos desconfiados de qualquer movimento. E o silêncio imperava.

Em uma casa, um carpinteiro, 53 anos, recorda o pânico da manhã anterior, quando ocorreu mais uma morte no local.

- Quando os tiros começaram, consegui correr com meus filhos para a salinha dos fundos. Mandei eles se agacharem e esperamos. Tenho certeza de que, se tivesse alguém na rua, eles atiravam também - conta ele, que protegeu os filhos de um, cinco, 11 e 15 anos.

Morador do Rincão há 18 anos, ele contabiliza ao menos 20 conhecidos que viu ter morte violenta:

- Tem época que acalma um pouco. Depois, volta tudo como era antes.

Histórico de mortes:

- 9/2 - Flávio Neres, 21 anos, seria ligado a traficantes e foi morto na Parada 72 da Avenida Dorival de Oliveira, Bairro São Geraldo.

- 11/2 - Carlos Pereira,37 anos, morto a tiros na Rua São Jorge.

- 15/2 - Luis Henrique Rodrigues, 20 anos, foi executado com mais de dez tiros, às 14h30min, na Rua Padre Cândido Santini.

- 15/2 - Paulo Roberto dos Santos Pereira, 21 anos, foi assassinado a tiros na Rua Jardim Paraíso.

- 16/2 - Juliano Barbosa de Ramos, 15 anos, levou quatro tiros e teve o corpo jogado em um valão, às 22h, na Rua Paulo Finck.

- 21/2 - Gilmar Fernando Lourenço, 54 anos, foi morto a tiros quando faria o pagamento de funcionários em uma obra na Rua Pedro Schneider. Para a polícia, não houve latrocínio (roubo com morte).

- 2/3 - Eusélio Melo Barbosa, 40 anos, foi executado quando consertava uma Kombi, às 15h, na Rua Lino Estácio dos Santos.

- 4/3 - Jair dos Santos Lopes, 19 anos, foi morto a tiros na Rua Bom Jesus por um trio que, às 9h, o chamou na casa da namorada.


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