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Caso Bernardo

Casal apontado por Bernardo para adoção diz que menino estava feliz com promessa do pai de mais afeto

Garoto chegou a ficar 30 dias na casa de Carlos José Petry e Juçara Petry, em Três Passos, após um acidente de moto de Leandro Boldrini

17/04/2014 - 11h00min

Atualizada em: 17/04/2014 - 11h00min


Carlos José Petry (E) e Juçara Petry (D) participaram da Primeira Comunhão de Bernardo em Três Passos

Um menino dócil, obediente, carente e que em momento algum falou mal do pai e da madrasta. É assim que Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos -  encontrado morto no dia 14 de abril em Frederico Westphalen -, era visto por Carlos José Petry, 51 anos, dono de uma confecção de roupas em Três Passos junto com a mulher, Juçara Petry. O casal, indicado por Bernardo como uma das famílias com que ele gostaria de morar, "adotou" inúmeras vezes nos últimos quatro anos e chegou a ficar 30 dias com o menino depois que o pai, Leandro Boldrini, 38 anos, sofreu um acidente de moto.

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- A gente cobrava que ele cortasse as unhas, fosse à escola, fizesse os temas de casa e respeitasse os mais velhos. Nos últimos tempos, ele estava feliz com a promessa do pai de mudar, de lhe dar mais atenção. Disse coisas do tipo "agora vou poder brincar com a mana (Bernardo tem uma irmã de um ano e três meses)", coisas não dimensionadas em valores.

A promessa de Leandro de dar atenção a Bernardo foi feita em uma audiência na Justiça em fevereiro deste ano. O garoto procurou o Ministério Público (MP) de Três Passos em janeiro e se queixou de indiferença e desamor. Na conversa com a promotora da Infância e Juventude de Três Passos, Dinamárcia Maciel de Oliveira, Bernardo chegou a apontar duas famílias da cidade com as quais gostaria de morar, entre elas a de Petry.

- Nunca pedimos a guarda dele e nunca questionamos a relação com o pai e a madrasta para a cabeça dele ficar leve. O Bernardo nunca contou nada sobre maus-tratos. Por isso, não conseguimos entender o que está acontecendo. Ele ficava conosco bons períodos de tempo, dormiu muitas vezes na nossa casa, a gente sentia que era carência - comenta o empresário.

Confira na linha do tempo a cronologia do caso Bernardo na Justiça:

Garoto era chamado de filho pela família

Os filhos de Carlos e Juçara já saíram de casa e formaram suas próprias famílias. Eles tinham a admiração de Bernardo, que ouvia reprimendas carinhosas, típicas de irmãos preocupados. A relação entre eles começou a ficar estreita quando Petry morava ao lado da antiga casa de Leandro e Odilaine Uglione, a mãe do garoto que teria cometido suicídio em 2010 dentro do consultório de Leandro.

- Ele chamava meus filhos de manos. Não tinha uma pessoa sequer que não gostasse dele em Três Passos - recorda Carlos José Petry.

O corpo do garoto foi enterrado na manhã da última quarta-feira, dia 16, no Cemitério Ecumênico Municipal de Santa Maria. O cortejo saiu das capelas do Hospital de Caridade às 9h50min em direção ao mesmo cemitério onde a mãe de Bernardo está enterrada.

O caso que chocou o Rio Grande do Sul

Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugolini, 32 anos, para comprar uma TV.

De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.

Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.

Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini _ que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município _, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvania Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo. O casal aparentava uma vida dupla, segundo relatos de amigos e vizinhos.


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