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Luto e tristeza

Como as escolas lidam com episódios trágicos, como o Caso Bernardo

Saiba como escolas brasileiras que passaram por tragédias de comoção popular trabalharam com o luto e a indignação

23/04/2014 - 06h03min

Atualizada em: 23/04/2014 - 06h03min


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Independentemente da forma escolhida pela escola para abordar episódios trágicos de violência, como o Caso Bernardo, os hábitos de não impedir que as crianças sofram e que chorem são os mais presentes.

Saiba como escolas brasileiras que passaram por tragédias de comoção popular trabalharam com o luto e a indignação em sala de aula.

Psicólogo especializado em luto, Candido Jeronimo Flauzino lembra que frases como "não chora, vai ficar tudo bem", ou "está tudo bem com o seu coleguinha, ele está no céu", não são indicadas.


Caso Isabella Nardoni
Diante da complexidade da morte de Isabella Nardoni, em 2008, a Escola Sir Isaac Newton, em São Paulo, adotou o silêncio. O diretor João Tomas diz que a intenção foi preservar a família, que estava fragilizada, e não fomentar a polêmica. O pai da menina, Alexandre Nardoni, e Anna Carolina Jatobá, a madrasta, acabaram condenados.

Os professores estavam orientados a falar sobre a morte apenas se a demanda viesse dos estudantes. Quando isso ocorria, o caso era inserido em uma disciplina já existente, chamada de Orientação (período destinado a temas como sexo, drogas e outros). A tragédia também foi trabalhada nas aulas de português e de técnicas de redação, nas quais o professor pedia que a turma escrevesse sobre o tema.

- A escola acredita que não deve trabalhar em cima da dor do outro. Procuramos levar tudo de forma natural, sem nenhum trabalho dirigido de maneira a aumentar a comoção - diz o diretor.

Caso Eloá
Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, foi morta pelo ex-namorado Lindemberg Alves depois de ser feita refém por mais de cem horas em 2008. Com ela, estava Nayara Rodrigues, da mesma idade, ferida no rosto.

Elas eram colegas na Escola Professor José Carlos Antunes, em Santo André (SP). Para orientar a comunidade escolar, uma equipe de psicólogos foi contratada. Candido Jeronimo Flauzino, psicólogo especializado em luto que integrou o grupo, diz que a primeira estratégia foi abrir o espaço para o diálogo:

- O atendimento diferenciado aos colegas de aula é muito importante, pois os demais alunos ficam mais comovidos pela repercussão do caso do que pela quebra do convívio. Já para os da turma, é pela perda em si.

Um trabalho individualizado também foi feito com os familiares mais próximos das vítimas.

Caso João Hélio
Foi só quando chegou ao velório de João Hélio Vieites, seis anos, que a diretora da escola Crianças & Cia, onde o menino estudava, no Rio, conseguiu mensurar a dimensão da tragédia. O ambiente lotado pela imprensa e por autoridades resumia o desafio dali em diante.

Na mesma hora, Maria Cecília Cury preparou material com orientação aos pais sobre como tratar do assunto em casa. A circular dizia para evitar colocar carga emocional muito pesada sobre a criança, evitando também chorar.

- Muitos ainda não sabiam, o crime foi à noite. Me dei conta de que eles chegariam em casa, ligariam a TV e ficariam chocados com o que aconteceu. A ideia era prevenir os pais de fazerem comentários inadequados à idade dos filhos - diz Maria Cecília.
João Hélio foi assassinado no Rio, em 2007, depois que assaltantes roubaram o carro da mãe e o arrastaram preso pelo cinto de segurança do lado de fora do veículo.

Caso do Bioquímico
Aluno do Colégio João Paulo I,  na zona sul de Porto Alegre, Mateus tinha cinco anos quando foi morto em casa, com a mãe Márcia Cambraia Calixto Carnetti, 39 anos. O pai, Ênio Luiz Carnetti, 47 anos, foi acusado pelos crimes.

A diretora Carla Quadros lembra que o fato ocorreu em 2012, durante as férias. A professora da criança recebeu acompanhamento psicológico para que estivesse restabelecida para acompanhar a turma. Pais foram orientados a como falar sobre o assunto em casa.

Uma psicóloga especializada em luto infantil foi chamada para dar suporte às equipes. Apenas os colegas do menino trabalharam o tema em sala de aula.

- Quando o agressor está na família, fica difícil de explicar. Dizíamos que aquilo aconteceu porque o pai estava doente. Eles acabam se convencendo por repetição - afirma Carla.


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