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Caso Bernardo

Ex-babá de Bernardo confirma que madrasta tentou matá-lo por asfixia: "se polícia chamar, eu falo"

Elaine Raber, 47 anos, trabalhou na casa do garoto quando a mãe dele era viva e tornou-se confidente de Bernardo

17/04/2014 - 19h43min

Atualizada em: 17/04/2014 - 19h43min


Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, foi enterrado em Santa Maria sob forte comoção

Com medo de represálias do casal Leandro Boldrini, 38 anos, e Graciele Ugulini, 32 anos, a diarista Elaine Raber, 47 anos, disse à Polícia Civil na última terça-feira, em depoimento, que o menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, morto no dia 4 de abril, não tinha sofrido tentativa de assassinato na casa deles. Porém, ela confirmou a Zero Hora na noite desta quinta-feira que o garoto relatou a ela que a madrasta tentou asfixiá-lo em 2012, e bateu nele com uma vassoura.

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O advogado Marlon Balbon Taborda, que representa a avó materna do menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, morto no dia 4 de abril, alertou ao Conselho Tutelar de Santa Maria, no dia 22 de novembro de 2013, e ao Ministério Público de Três Passos, em 6 de dezembro do mesmo ano, sobre o risco de vida que corria o menino.

Em troca de e-mails obtida por Zero Hora, Taborda informa, baseado em denúncia feita por Elaine, que também era babá de Bernardo e tinha uma relação íntima com o garoto, que ele "estava andando pela rua, abandonado, que foi tentado ser asfixiado em uma noite quando estava em casa, fato confirmado pelo menino". Conforme o Ministério Público, a denúncia é de 2012.

Elaine está disposta a conversar novamente com a polícia e a dar detalhes da suposta tentativa de assassinato cometida pela madrasta. Ela trabalhou como babá na casa de Bernardo entre 2007 e 2009, quando Odilaine Uglione, mãe dele, ainda era viva. Elaine disse que Leandro Boldrini era um pai presente e que a chegada da madrasta na vida do casal alterou tudo. Confira trechos da entrevista concedida a Zero Hora:

Zero Hora - Como era a vida de Bernardo antes da chegada da madrasta?
Elaine Raber -
A mãe dele nunca o maltratou. Às vezes o repreendia, mas cuidava dele, participava da sua vida, ia nas reuniões da escola, levava o menino para os lugares, comprava roupas. Era muito presente. O doutor (Leandro) era bem presente, brincava, dava atenção a ele. Nesse sentido eu não posso mentir.

Zero Hora - Por que, então, ele se tornou frio?
Elaine Raber -
Essa pergunta eu também me faço. Eu não consigo entender como o doutor se transformou nesse monstro, deve ser influência dessa mulher que está com ele. O doutor mudou radicalmente, no tempo que eu trabalhava lá, ele cuidava do Bernardo. Foi essa mulher entrar na vida dele, que ele se transformou nesse homem. Eu não consigo acreditar nisso.

Zero Hora - A madrasta maltratava o Bernardo?
Elaine Raber -
Ele disse que era maltratado por ela, que não gostava dela, que era muito ruim para ele. Nos primeiros tempos, ela até o agradou. Saía com ele, carregava para cima e para baixo, mas acho que era para pegar confiança do guri. Depois, começou a maltratá-lo. Eu fiquei um tempo afastada deles, mas voltei a me relacionar novamente com o Bernardo. Nesse período, quando eu ia trabalhar e ele ia para o colégio, nos encontrávamos na rua. Ele estava triste, abatido. Eu adoro esse menino, o tenho como filho. Ele se queixou que ela deixava ele para fora de casa, só podia entrar quando o pai chegava, encontrava ele mal vestido indo para a aula de manhã.

Zero Hora - Ele disse que ela tentou matá-lo asfixiado?
Elaine Raber -
Sim.

Zero Hora - Por que a senhora negou isso à polícia?
Elaine Raber -
Eu não sei, tinha um medo, não sabia que o Bernardo estava morto. Eles são poderosos na cidade, a gente fica com um pé atrás. Hoje eu sei que o Bernardo está morto, que não vai mais vir. Hoje, se a polícia chamar, eu falo. Ele falou uma vez que ela bateu nele de vassoura. A gente é pobre, quando vai lidar com pessoas assim, é complicado.

O caso que chocou o Rio Grande do Sul

Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugolini, 32 anos, para comprar uma TV.

De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.

Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.

Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini _ que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município _, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvania Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo. O casal aparentava uma vida dupla, segundo relatos de amigos e vizinhos.


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