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Caso Bernardo

Pai, madrasta e assistente social estão na mesma cadeia, isolados e evitam contatos com os presos

ZH foi até a prisão onde eles estão recolhidos, conversou com apenados e teve acesso a relatos de quem frequenta as galerias

20/04/2014 - 09h39min

Atualizada em: 20/04/2014 - 09h39min


No tribunal informal da cadeia, o médico Leandro Boldrini, 38 anos, a enfermeira Graciele Ugulini, 32 anos, e a assistente social Edelvania Wirganovicz, 40 anos, já estão condenados. E a pena é proporcional à frieza e à crueldade do crime que os três teriam cometido contra o menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, filho de Leandro e enteado de Graciele.

Zero Hora foi até a prisão onde eles estão recolhidos, conversou com apenados do regime semiaberto e teve acesso a relatos de quem frequenta as galerias. Por motivo de segurança, o local e os nomes dos entrevistados serão ocultados.

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- Se pegarmos eles aqui dentro, deixamos só as roupas, em fiapos. Ninguém quer ver a cara deles aqui - falou um preso que progrediu do fechado para o semiaberto durante essa semana e cruzou algumas vezes pelas celas de Leandro, Graciele e Edelvania. O trio está na mesma penitenciária, isolado e sem nenhum contato entre si.

A ordem expressa é que a madrasta e a assistente social não conversem de maneira alguma. Isso porque foram elas que tramaram como Bernardo seria morto e enterraram o corpo em uma cova às margens de um rio em Frederico Westphalen, no dia 4 de abril, conforme depoimento da própria Edelvania à delegada Caroline Bamberg, que Zero Hora teve acesso com exclusividade.

A Polícia Civil tenta apurar o grau de envolvimento de Leandro, quem teria aberto o buraco para enterrar o garoto e o responsável por aplicar a injeção letal em Bernardo. Por isso, é fundamental mantê-los inacessíveis durante o tempo da prisão provisória, estipulada inicialmente em 30 dias.

A chegada deles à cadeia alterou a rotina da população carcerária. Pesa contra os suspeitos o fato de o homicídio ter sido praticado contra uma criança, inaceitável para a maioria dos criminosos.

Assim que a Polícia Civil concluir o inquérito e remetê-lo ao Ministério Público, a madrasta e a assistente social devem ser transferidas para presídios femininos, e Leandro seja levado para um local com segurança reforçada, se tiver de permanecer preso até o julgamento do caso.

- Estamos no sistema, já vimos tanta coisa. Os agentes são acostumados a episódios desse tipo e até piores, lidam com todo tipo de gente, faz parte da vida aqui - confidencia um servidor.

- No início é perigoso. Depois, com o tempo, os presos acostumam e ficam misturados sem maiores problemas - complementa um agente penitenciário.

A Polícia Civil e a Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) preferem não divulgar a cadeia que os acolhe para evitar uma pressão popular e até linchamento.

Juiz afirma que presos não aceitam assassinos de crianças

- Dentro da cadeia, esse tipo de crime tem uma repercussão muito maior do que o estupro, é bem mais grave a circunstância da morte de uma criança para os detentos. O estuprador, nos presídios do Interior, até que consegue conviver, mas o assassino de criança tem muita dificuldade. No caso das mulheres que já se envolveram em morte de criança, é preciso o isolamento, as presas não gostam mesmo. A visão é que jamais vai se aceitar que os pais matem os próprios filhos. O que mantém a esperança de um preso é a visita do seu filho. O autor de morte de criança sofre muito, porque ele é excluído pelos excluídos - explica o juiz Sidinei Brzuska, da 1ª Vara de Execuções Criminais (VEC) de Porto Alegre. - Até hoje, não consegui ver por muito tempo o isolamento de casos assim em presídios do Interior, é necessária a transferência para cadeias maiores, que têm alas para detentos com histórias semelhantes - acrescenta.

O caso que chocou o Rio Grande do Sul

Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugolini, 32 anos, para comprar uma TV.

De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.

Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.

Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini - que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município -, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvania Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo. O casal aparentava uma vida dupla, segundo relatos de amigos e vizinhos.


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