À mercê dos gatunos
Alunos sofrem com assaltos constantes ao redor de escola na Zona Sul da Capital
Direção fala em mais de dez casos este ano
Às 18h10min de sexta-feira, dois namorados, ambos de 17 anos, aguardavam o ônibus no ponto a cerca de 300m da Escola Estadual Odila Gay da Fonseca, no Bairro Ipanema, Zona Sul da Capital. Foram abordados por três homens, que mostraram uma arma e tomaram o MP4 da estudante.
- Eu disse para eles que não tinha celular, senão tinham levado também. Chegaram e saíram andando, sem correr - relatou a garota, ainda bastante assustada.
Ela e o namorado voltaram para a escola e ligaram para o pai da menina, que ficou de buscá-la. No colégio, o sentimento não era de indignação. Era de alívio.
- Em março, além de assaltar, bateram muito em um menino que estava aqui na porta. Ele chegou a ter convulsões. Ele estava vindo se matricular. Desistiu de estudar aqui - conta outra aluna, de 16 anos.
Diretora da escola, a professora Lucy Lopes acredita que, desde que as aulas começaram, foram pelo menos 11 assaltos semelhantes. Contando o de um pai, que teve o carro roubado enquanto aguardava na fila, e o de um estudante cuja moto foi furtada de dentro do pátio da escola.
- Antes, eram situações mais esporádicas, mas este ano a frequência dos assaltos está bem maior. Nunca um aluno tinha sido agredido. É uma situação realmente preocupante - analisa.
Ela conta que, em 2014, enviou dois ofícios ao 1º BPM pedindo reforço na segurança. E fez contato "diversas vezes" com oficiais do batalhão, sempre com o mesmo tema.
- Eles nos alegam que não há PMs suficientes para um patrulhamento mais constante, pois possuem 42 escolas na área. Mas aqui é um local escuro. Ao menos na hora de entrada e saída, seria necessário ter policiais presentes - clama.
A escola funciona nos três turnos e atende a 1,3 mil alunos dos ensinos básico e médio. A presença do chamado PM residente tem dado resultado no que diz respeito a ataques dentro do prédio. O sofrimento é nas imediações.
Portão chaveado
Para tentar minimizar a ação dos bandidos, a vice-diretora Maria Izabel Jankus adotou algumas medidas. Uma delas é, no turno da noite, deixar o portão chaveado e só abri-lo quando alunos estão chegando ou saindo. A outra é só permitir que os adolescentes deixem o local em pequenos grupo - sozinhos, nunca.
- Procuramos tomar medidas para dificultar a ação dos ladrões, mas não é fácil. São muitas ruas escuras aqui ao redor - lamenta.
Uma funcionária do colégio, no ano passado, conta que quase foi vítima de estupro. Ela saía da escola e, em uma rua próxima, o criminoso chegou a agarrá-la pela cintura.
- Me joguei no chão e comecei a gritar. O tarado viu pessoas vindo na nossa direção, entrou em um carro e desistiu. Pena não ter anotado a placa - relata a funcionária.
DP mobilizada. Porém, em um outro caso
Não bastasse o baixíssimo número de policiais civis na Capital, uma possível investigação dos assaltos ficou ainda mais difícil: a delegacia responsável pela área é a 6ª DP, que, desde o dia 24 de fevereiro, concentrou todas as forças na solução do latrocínio (roubo com morte) do empresário Lairsson Kunzler. Os três únicos policiais do setor de investigações atuaram no caso, cujo inquérito foi enviado à Justiça na sexta-feira passada.
Ainda na sexta-feira, a reportagem entrou em contato com a delegacia, que encontrou apenas um registro de assalto nos arredores da escola - justamente o do rapaz, de 18 anos, agredido e roubado. O caso deve ser investigado a partir desta semana.
- Incentivamos as vítimas para que registrem ocorrência, mas não podemos forçá-las - conta a diretora da escola.
A escola estuda trazer palestrantes para darem dicas básicas de segurança aos alunos.
Dicas
- Jamais fique parado em frente a escolas. Estudantes carregam celulares e outros equipamentos que interessam a ladrões.
- Evite deslocar-se sozinho, mesmo que por distâncias curtas. Quanto maior o grupo, mais vai inibir os assaltantes.
- Se tiver de atender ao celular, entre em um comércio. Não faça isso na rua, pois chama a atenção de gatunos.