Polícia



Morte suspeita

Líder do maior grupo de extermínio da região Metropolitana é encontrado morto em cela da Pasc

Jaime Evangelista Pires, o Nego Jaime, considerado um dos traficantes mais influentes de Canoas, foi encontrado morto em sua cela. Suicídio pode revelar ameaças de facção criminosa

15/07/2014 - 07h04min

Atualizada em: 15/07/2014 - 07h04min


Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Operação Cova Rasa movimento em conjunto da Brigada Militar e da Polícia Civil para combater o tráfico de drogas

Foi encontrado morto, enforcado com uma corda, dentro da sua cela na Pasc, em Charqueadas, na manhã da última segunda-feira, Jaime Evangelista Pires, o Nego Jaime, 41 anos.

Considerado um dos líderes do maior grupo de extermínio já preso na Região Metropolitana nos últimos anos, o criminoso de Canoas estaria afundado em dívidas com fornecedores e facções criminosas.

De acordo com o delegado Rodrigo Reis, da DP de Charqueadas, Nego Jaime cometeu suicídio, mas ele não descarta que o detento tenha sido pressionado e até induzido a este fim.

- Na última conferência do final da tarde de domingo, os agentes penitenciários informaram que estava tudo bem com ele. Na manhã da segunda-feira, quando um agente foi levar o café da manhã, constatou a morte. Neste intervalo de tempo, os presos ficam isolados em suas próprias celas individuais - afirma o delegado.

O agente foi ouvido já na manhã da segunda-feira e a polícia ainda pretende colher dados da direção do presídio que possam acrescentar à investigação. O laudo pericial é aguardado para comprovar se foi um suicídio.

- Podemos adiantar que o detento estava se sentindo ameaçado - diz o responsável pela investigação.

É que há uma semana Nego Jaime havia sido transferido - a seu pedido - da Galeria C, dominada pelos Bala na Cara, para uma ala segura. Foi para a ala de triagem. Neste período, segundo a direção do presídio, não estaria aceitando a alimentação. Há cerca de um mês vinha tendo acompanhamento psicológico, mas a assessoria da Susepe garante que nenhum distúrbio teria sido constatado.

Na última sexta, durante uma revista, um aparelho celular foi apreendido na cela do detento e, no dia seguinte, ele recebeu a última visita da mãe.

Condenado por homicídios e roubos - e ainda aguardando julgamentos pelos homicídios revelados pela Operação Cova Rasa e por tráfico -, ele tinha penas a cumprir até 2041.


Jaime Evangelista Pires
Foto: Divulgação, Polícia Civil


Dívida com os Bala pode ter sido fatal
A interceptação de um carregamento de 172kg de maconha, no Bairro Mathias Velho, pela Delegacia de Homicídios de Canoas, em agosto do ano passado, pode estar por trás da derrocada de Nego Jaime. Para fazer frente ao seu antigo aliado  rachado desde a Operação Cova Rasa , ele teria se associado aos Bala na Cara para retomar seu espaço.

A facção lhe garantiria o financiamento para a compra de drogas e os soldados para eliminar rivais. Ele usaria seus antigos contatos para, mesmo dentro da cadeia, fortalecer seu bando na rua. Mas a apreensão o teria deixado em dívida com o comando da facção. E isso o teria obrigado a pedir a saída da Galeria C.

Ainda em maio do ano passado, uma escuta telefônica autorizada pela Justiça teria revelado Nego Jaime ordenando a execução de um antigo gerente do tráfico no Bairro Mathias Velho que o teria traído. Mas os matadores, vindos da Vila Safira, em Porto Alegre, erraram o alvo e acabaram matando um rapaz de 18 anos.

A investigação resultou no pedido à Justiça de transferência do preso da Pasc para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), em uma penitenciária federal. O pedido foi aceito pela justiça gaúcha, mas negado na esfera federal. A permanência em Charqueadas pode ter sido fatal.

O que foi a Operação Cova Rasa
Entre 2008 e 2009, Nego Jaime foi apontado como um dos líderes de uma quadrilha responsável por cerca de 150 assassinatos na Região Metropolitana. Na época, ele já estava preso há 12 anos e comandava os homicídios de dentro da cadeia.

O grupo foi desarticulado em 2009, na Operação Cova Rasa.

A ação ganhou esse nome porque os criminosos cometiam os homicídios e abandonavam os corpos em barrancos ou valas, sem se preocupar em escondê-los. A maioria das vítimas eram traficantes ou usuários de crack com dívidas.

O grupo de extermínio teve 69 integrantes presos em 2009. Desses, 23 foram denunciados pelos homicídios ainda à espera de julgamentos.

Depois da ação policial, o bando rachou. De um lado ficou Nego Jaime, que pelo menos desde 2012 estaria aliado aos Bala na Cara. Do outro, o traficante conhecido como Lauri, aliado aos Manos.


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