Polícia



Um assalto por dia

Moradores relatam rotina de medo em rua do Bairro Espírito Santo, Zona Sul da Capital

No lugar onde homem morreu baleado no domingo, moradores relatam ataques diários de assaltantes. Todos marcados pela violência nas abordagens

31/07/2014 - 07h08min

Atualizada em: 31/07/2014 - 07h08min


Cristiane Bazilio
Cristiane Bazilio
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A Rua Antônio Josefino Perrone, no Bairro Espírito Santo, em Porto Alegre, poderia ser cenário de um filme policial. Só nos últimos dois meses, foram dois homicídios e inúmeros roubos e furtos. Moradores relatam uma realidade alarmante: por lá, haveria pelo menos um assalto por dia. Todos marcados pela brutalidade dos ataques. Amedrontados, alguns garantem que têm evitado sair de casa, especialmente quem já viu o perigo de perto.
 
- Saí de casa para ir ao supermercado, com meu filho de sete anos no banco de trás do carro. Aqui mesmo, na rua, um carro partiu atrás de mim. Mais adiante, ele fechou a minha frente, um homem desceu e botou uma arma na minha cabeça. Não queriam nem deixar eu pegar o meu filho. Me bateram, mas consegui tirar ele do carro. Hoje, não vamos nem na pracinha nos finais de semana. Para ir ao supermercado, não levo mais meu filho ou tenho que mudar o trajeto, porque ele entra em pânico - conta uma vendedora de 28 anos, que, assim como os outros moradores, pediu para não ser identificada.
 
No domingo passado, um homem morreu baleado durante uma troca de tiros na Antônio Josefino Perrone, quase em frente à casa da vendedora. Da janela, o filho dela assistiu à cena.
 
- Ele ouviu os tiros e viu pela janela os bandidos correndo com armas na mão. Não tem conseguido dormir e, quando acontece, tem pesadelos. Chora e está com dificuldades na fala - relata.
 
O homicídio foi de Tiago Cristiano Silva, 21 anos, que, junto com outros dois comparsas, desceu de um carro branco e teria atirado contra um homem que estava em frente a um bar. O homem teria revidado e matado Tiago.
 
O delegado titular da 4ª DHPP, Rodrigo Pohlmann Garcia, investiga se o caso foi um latrocínio (roubo com morte) ou uma execução, mas admite a vulnerabilidade da área.
 
- Sabemos que é uma região muito próxima da Vila dos Sargentos, que é violenta, e da Serraria. Atendemos outro homicídio ali, há cerca de dois meses. Um traficante da Restinga que estava começando a vender na região foi executado - afirma.
 
Moradores relatam que o carro branco, supostamente o mesmo do qual desceram os homens do tiroteio de domingo, tem rondado a rua há tempos. Seria usado pelos criminosos na maior parte dos assaltos. A polícia, no entanto, não tem informações a respeito.
 
"Mais violentos do que antigamente"
 
Em meio a uma rotina de insegurança, a vizinhança da Rua Antônio Josefino Perrone contabiliza os assaltos.
 
- Em um ano que assumimos o ponto, foram cinco ataques. Dois nas últimas três semanas. Da última vez, me puxaram pelos cabelos, me colocaram de joelhos e, enquanto roubavam, diziam: "se chamar a polícia, a gente volta aqui e mata todo mundo" - diz uma comerciante, de 38 anos.
 
Um  aposentado de 63 anos, antigo proprietário do estabelecimento, reforça:
 
- Eu moro na rua há 39 anos e mantinha esse ponto desde que vim pra cá. Foram 18 assaltos que me lembro. Mas, antigamente, era gurizada que roubava produto, cigarro, R$ 30 que tivesse no bolso. Hoje, eles são violentos, já chegam machucando.
 
Sem estatísticas não há ação
 
Embora os moradores ouvidos pela reportagem afirmem que sempre avisam a polícia em caso de assaltos, na prática, são poucas as ocorrências registradas. Aliada ao medo de represálias, esta seria uma das explicações para que não haja um número expressivo de ocorrências nesta rua.
 
- Sabemos que são altos os índices de assaltos em toda a região, mas não chegaram até nós ocorrências específicas desta rua. O que acontece, muitas vezes, é que as pessoas chamam a Brigada Militar, pelo 190, mas, depois, não vêm à delegacia registrar - afirma a delegada titular da 6ª DP, Áurea Regina Hoppel.
 
A Brigada Militar faz coro à Polícia Civil e ressalta a importância do apoio da comunidade para que ações preventivas possam ser realizadas.
 
- Não temos informação de um índice assim tão elevado de assaltos nesta rua. A sensação de insegurança é gerada porque as pessoas deixam de fazer o registro. Não havendo ocorrência, não gera estatística, que é o que vai me permitir redimensionar minha ação ostensiva. A primeira orientação é que as vítimas acionem a BM e façam o registro de ocorrência - aponta o comandante interino da 4ª Cia do 1º BPM, capitão Heraldo Leandro dos Santos.

Marcelo Oliveira / Agencia RBS

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