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Da brutalidade à esperança

VÍDEO: a história de superação de advogado esfaqueado na Redenção

José Augusto Amorim, 39 anos, foi atacado pelas costas em maio de 2013 no Parque da Redenção e luta para recuperar movimentos

24/07/2014 - 04h01min

Atualizada em: 25/09/2018 - 11h34min


Cercado por cuidados e carinhos dos pais, de enfermeiras e da mulher, o advogado José Augusto Amorim, 39 anos, balbucia algumas palavras e faz brincadeiras ao receber ZH em seu apartamento no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Em casa desde 17 de março, Guto luta para recuperar os movimentos e a capacidade cognitiva após ser esfaqueado pelas costas no Parque da Redenção, em maio do ano passado. Nas próximas semanas, ele deve ser transferido para um centro especializado em tratamento neurológico em Brasília.

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Ainda sem movimentar nenhum membro do corpo e com falhas na memória, o advogado acorda diariamente às 7h para uma rotina intensa de fisioterapia e fonoaudiologia. Há pouco tempo, só se comunicava com os olhos e alimentava-se apenas por sonda. Com muito esforço, já consegue falar e comer papinhas três vezes ao dia. A evolução, mesmo que lenta, enche de esperanças a família e os amigos.

O drama de Guto teve início às 17h40min do dia 4 de maio de 2013, um sábado. Ele caminhava na Redenção, próximo ao minizoo, quando, conforme a polícia, foi atacado pelas costas por Rodrigo Borges Pereira, 37 anos, que lhe cravou uma faca na testa, em cima do supercílio direito, e fugiu. O trauma foi profundo e, graças à ajuda de dois PMs que passaram em seguida pelo local e chamaram a Samu, não houve óbito. 

O inquérito policial diz que, dias antes, vítima e agressor haviam discutido na Cidade Baixa. Os dois moravam na mesma rua, em edifícios próximos. Ao passear com o cachorro, Guto se deparou com Rodrigo portando uma faca. Eles trocaram olhares e, um tempo depois, novamente se encontraram e quase brigaram.

De acordo com a Polícia Civil, Rodrigo Pereira tem ficha extensa por ameaças e agressões. Os vizinhos chegaram a fazer um abaixo-assinado para que ele fosse retirado do prédio onde vivia.

- Ele (suspeito) responde por um fato muito parecido com esse, um ano antes, quando tentou matar um colega de trabalho. Os motivos são banais - explica o delegado Filipe Bringhenti, que indiciou o agressor por tentativa de homicídio qualificado. Rodrigo está recolhido ao Presídio Central, onde aguarda julgamento.

Veja fotos da vida de Guto Amorim:

Memória comprometida

Depois da agressão brutal, Guto foi encaminhado para o Hospital de Pronto Socorro e operado. Ele ficou em coma durante um mês. Até março de 2014, quando teve alta, recebeu tratamento no Hospital Mãe de Deus. Em casa, a família montou uma estrutura para seguir a recuperação.

Além das atividades clínicas, o advogado passa o dia olhando televisão, principalmente shows de reggae, e consegue lembrar de momentos de sua vida e associar as datas. Uma das maiores paixões de Guto, o surf, é vista em diversos artefatos decorativos espalhados pela casa e nos DVDs que assiste. Sobre o ataque na Redenção, há uma lacuna na memória.


Crédito: Reprodução

- Ele falava muito, às vezes a gente pedia para ele parar um pouco até. Acho que ele não tem noção do agora, só do passado. O Guto que eu conheço estaria desesperado se soubesse - relata a mulher do advogado, Tatiane Katz, que mora com ele no apartamento comprado quatro meses antes do crime.

Família luta por vaga em Brasília

Para seguir em evolução no tratamento, Guto terá de deixar Porto Alegre e ir para um centro neurológico especializado. A família busca uma vaga na Rede Sarah, em Brasília. A instituição exige que o advogado não esteja mais com sonda ou outros aparelhos para poder interná-lo.

Conforme o pai dele, José Amorim, 68 anos, a expectativa é que Guto esteja pronto para ir em poucas semanas. Sem guardar rancor do agressor e desejar vingança, o aposentado da Eletrobrás, que nasceu em Portugal e se mudou para o Brasil quando tinha 15 anos, pede apenas que a justiça seja feita e espera poder voltar a trabalhar junto no escritório de advocacia que mantinha com o filho na Cidade Baixa:

- Todo ser humano sente, no primeiro momento, revolta com a estupidez, falta de amor e loucura. Mas hoje eu quero só que essa pessoa seja retirada da sociedade e que meu filho volte a ser o que era. Volte a surfar, aos seus clientes, à sua vida.


Guto e a esposa, Tatiane Katz / Reprodução

Contraponto

O advogado Rodrigo Grecelle Vares apresenta a defesa final do acusado nesta semana. Ele acredita que, pelo andamento do processo, seu cliente deve mesmo ir a Júri Popular, provavelmente no primeiro semestre de 2015:

- No meu ponto de vista, pelo menos hoje eu não vejo elementos suficientes para manter a prisão. Acho que não há provas suficientes que coloquem ele como sendo o autor dessa tentativa de homicídio.

Por trás da reportagem: da brutalidade à esperança:


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