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Crime

Fique atento ao golpe da casa própria

Pelo menos 20 pessoas pagaram por casas pré-fabricadas em Gravataí e não receberam nada. Polícia investiga a possível volta do golpe da casa própria

22/08/2014 - 07h05min

Atualizada em: 22/08/2014 - 07h05min


Divulgação / Arquivo Pessoal
Casa inacabada em viamão é obra de empresa investigada pela Polícia Civil

Foram dois anos de trabalho juntando o dinheiro para conquistar a sonhada casa nova para a família. Mas, há dois meses, a enfermeira Helen dos Passos Espíndola, 28 anos, está morando com o filho de apenas três meses e o marido na casa da sogra, em Viamão. Ela amarga mais de R$ 17 mil de prejuízo e a sensação de que foi vítima de um golpe ao comprar uma casa pré-fabricada da empresa Constru Art, de Gravataí.
O caso chegou à polícia, que já abriu inquéritos para apurar possível estelionato em pelo menos outros 20 casos semelhantes na cidade. De acordo com o delegado Eibert Moreira, da 1ª DP de Gravataí, todos os relatos são muito parecidos. As pessoas teriam pagado para receber suas casas a pronta entrega, que nunca acontecia.
- Há indícios de crime, mas vamos investigar todas as circunstâncias de que o serviço não tenha sido cumprido por essa empresa - aponta o delegado.

Há vítimas em cidades da Região Metropolitana

A suspeita é de que tenha voltado à cidade o antigo golpe da casa própria, descoberto pela polícia em outras empresas do mesmo ramo há 13 anos. Os prejudicados dessa vez são de Gravataí, Canoas, Cachoeirinha, Viamão, Eldorado do Sul, Porto Alegre e até do Litoral.
O atrativo, em anúncios de jornais, era sempre o preço acessível - entre R$ 9 mil e R$ 35 mil, dependendo do padrão da casa _ e a agilidade na entrega. Foi pensando nisso que, em junho, Helen procurou a Constru Art, na ERS-020. Pelo contrato, a casa deveria ser construída em dois meses.
- Como tudo seria muito rápido, derrubamos a casinha velha de madeira que tínhamos no terreno, em Viamão, e até aterramos tudo para deixar o terreno plano, mas fomos enrolados - lamenta.
Depois de diversas tentativas, a enfermeira não foi nem mesmo atendida pela empresa, que há duas semanas teria fechado as portas.

Sonho de construir casa na praia

No caso da pedagoga Maria da Glória Rodrigues, 30 anos, o sonho era de construir uma casa na praia. Em abril, fechou contrato com a mesma empresa. Depois de pagar 30% do valor no momento da assinatura do contrato, ainda desembolsou outros 50% quando parte do material foi entregue no terreno, em Imbé.
Só depois constatou que era tudo fachada. Depois de uma semana, os pedreiros sumiram do local, tendo feito somente o alicerce e metade das paredes do banheiro. Era para o que dava o material entregue.
- Eu cheguei a pesquisar na internet com todo o cuidado o histórico dessa empresa e não vi nada que desabonasse eles. Só depois fui conhecendo outras vítimas _ conta.
É que a situação dela é exatamente a mesma vivida por uma família de Viamão. O último prazo para entrega da casa era o começo deste mês. E nada, exceto o prejuízo de R$ 18 mil, aconteceu.
- Dificilmente vou ter meu dinheiro de volta, mas pelo menos vamos alertar para que não façam mais vítimas - desabafa a pedagoga.

Três mudanças em dois anos

Além do grande número de pessoas prejudicadas, a polícia também vai investigar outra possível estratégia da empresa que podem caracterizar um estelionato. No intervalo de apenas dois anos, os responsáveis já teriam trocado de nome comercial e endereço três vezes.
Até 2013, a empresa funcionava na ERS-118, primeiro com o nome de Casagrande. Depois, como Constru Art. Com o mesmo nome, mudou para outro endereço, na ERS-020, Bairro Neópolis. Durante todo este tempo, uma mesma mulher, de 27 anos, se apresentava como responsável.
Em julho, no entanto, a empresa fechou as portas sem dar explicações aos clientes prejudicados. Uma nova empresa, com outro nome, abriu logo em seguida, em um endereço próximo. A polícia investiga a suspeita de que a mesma empresária esteja por trás deste estabelecimento.
Durante dois dias a reportagem do Diário tentou contato com a responsável pelos telefones anunciados pela empresa, mas não obteve sucesso.

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Como funciona o golpe
Anúncios de casas em madeira, pré-moldadas, com garantia de pronta entrega e preços baixos, variando entre R$ 9 mil e R$ 35 mil, atraem os clientes.

Os compradores assinam um contrato, pagando 30% do valor no ato. É acertado que outros 50% são pagos no momento em que os materiais são entregues no local onde a casa será montada. O restante do valor seria pago no final da obra. Mas boa parte dos clientes, usando financiamento, quitam o valor no momento da contratação.

O prazo máximo estipulado pelo contrato para início das obras é de dois meses. Nos casos apurados pela polícia, nenhum prazo foi cumprido e a empresa não ressarciu os clientes.

Golpe antigo
Em 2001, dois homens foram presos por estelionato no final da investigação policial que descobriu o golpe da casa própria aplicado por duas madeireiras de Gravataí.

Na época, a polícia ouviu mais de 60 vítimas do golpe.


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