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Assassinato de moradores de Bento Gonçalves derruba chefes de polícia no Paraguai

Amigos executados no final de julho teriam ido ao país vizinho buscar drogas e armamento pesado

17/09/2014 - 18h33min

Atualizada em: 17/09/2014 - 18h33min


Montagem sobre fotos de arquivo pessoal / Divulgação
Lucas Morini, 23 anos, e Dionatan Cordova Dias, 28, foram assassinados a tiros e enterrados como indigentes

A morte de dois moradores de Bento Gonçalves estaria por trás de um escândalo que derrubou a cúpula da polícia que controlava a região do Alto Paraná, subdivisão administrativa do Paraguai.

>> 'Eu tinha esperança que ele estivesse vivo', lamenta pai de Dionatan

Lucas Morini, 23 anos, e Dionatan Cordova Dias, 28, foram assassinados a tiros e enterrados como indigentes no final de julho, possivelmente em esquema de roubo de cargas e drogas envolvendo policiais daquele país. As denúncias partiram de um agente e resultaram no afastamento de 13 policiais, entre eles o chefe de polícia do Alto Paraná, Marildo Rojas, o diretor da 4ª Zona Policial, Simeon Martínez, e o chefe de investigação do departamento de polícia, Baldomero Jorgge.

De acordo com informações publicadas nos jornais paraguaios La Nación e ABC Color, Lucas e Dionatan estavam no território paraguaio para buscar drogas e armas. Supostamente, os dois jovens foram parados em uma barreira em Itakiry, a 100 km de Foz do Iguaçu (PR). Quatro policiais da cidade teriam recolhido 22 quilos de cocaína e três fuzis AK-47 que estavam em poder da dupla brasileira. A apreensão não foi registrada na delegacia local.

Depois dessa abordagem, Lucas e Dionatan desapareceram. Os corpos foram encontrados na manhã de 27 de julho, em um rio de Itakiry, e permaneceram sem identificação durante três semanas. Ainda não está esclarecido se os agentes têm participação nos assassinatos.

Agentes de investigação da Polícia Nacional do Alto Paraná estiveram em Itakiry, alguns dias depois, e prenderam os policiais responsáveis pela apreensão da cocaína e das armas. Levados para a prisão, os policiais teriam sido liberados por ordem do chefe de investigação do Departamento de Polícia do Alto Paraná, Baldomero Jorgge. Contudo, a cocaína e os fuzis teriam sido negociados, com o acobertamento pela cúpula policial daquela região.

O escândalo estourou no início de setembro. As denúncias envolvendo os policiais são apuradas pelo Ministério Público e também pelo comando da polícia paraguaia. A investigação das mortes está sob a responsabilidade da fiscal Maria Raquél Fernandez (cargo equivalente a promotora de Justiça no Brasil).

Mãe desconhece envolvimento

A mãe de Lucas Morini, Nelci Brustulin, 40 anos, se diz espantada com as informações de que o filho estava envolvido com o tráfico de drogas. Ela garante que ele recebeu telefonemas de um morador de Santa Catarina, solicitando a viagem do rapaz.

- Ele foi chamado lá para sofrer uma emboscada, tenho certeza disso. Mas não sabíamos desse envolvimento. Isso não pode ser verdade - desabafou a mulher, por telefone.

A reportagem tentou contato por telefone com familiares de Dionatan Dias, mas não obteve sucesso. Antes de desaparecer, Lucas havia confidenciado a parentes próximos que estava ganhando bastante dinheiro em viagens ao Paraguai, sem revelar detalhes.

A Polícia Federal (PF) de Foz do Iguaçu, que mantém relações com a polícia paraguaia, não tem informações sobre a investigação da morte dos rapazes. A embaixada do Itamaraty em Assunção também não monitora o trabalho policial do país vizinho. Funcionários do Consulado-Geral do Brasil, em Ciudad del Este, informaram que o servidor responsável por acompanhar situações parecidas está de férias. 

Entenda o caso

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Lucas Morini e Dionatan Cordova Dias deixaram Bento Gonçalves no dia 25 de julho com destino ao Paraguai. Antes de entrar em território estrangeiro, os dois passaram na cidade de Palmitos (SC), onde mora um ex-companheiro da mãe de Lucas. O motivo da viagem dos amigos ao Paraguai não foi esclarecido.

:: A polícia do país vizinho encontrou os corpos no dia 27 de julho, às 8h, com várias marcas de disparos, na cidade de Itakiry. Como estavam sem identificação, os dois foram enterrados como indigentes. Nos dias 18 e 19 do mês passado, familiares reconheceram os rapazes por fotos. Os familiares de Lucas Morini foram ao Paraguai mas voltaram ao Brasil sem o corpo do rapaz.

:: Os ritos funerais ocorreram após um longo desenrolar burocrático quanto ao trâmite legal para liberação dos corpos.

:: No início de setembro, um agente da polícia paraguaia denunciou o envolvimento de colegas de Itakiry na apreensão de drogas e armas que seriam levadas pelos moradores de Bento. O Idea onde os jovens estavam ainda não foi localizado.


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