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Crime em Porto Alegre

Execução em hospital é mais um capítulo da guerra do tráfico

César da Fé Bugmaer, o Russo, foi morto a tiros na noite de domingo

13/10/2014 - 16h27min

Atualizada em: 13/10/2014 - 16h27min


Júlio Cordeiro / Agencia RBS
Crime ocorreu no domingo

Considerado o braço armado de uma família com longa ficha no tráfico em bairros da zona norte de Porto Alegre, César da Fé Bugmaer, 42 anos, o Russo, era um homem jurado de morte por inimigos ganhos nas disputas pelos pontos de drogas. Na noite deste domingo, ele foi executado a tiros dentro do Hospital Cristo Redentor, onde estava internado desde sexta-feira. As circunstâncias ainda são apuradas pela Polícia Civil e pela própria instituição.

- Pelas informações preliminares, foi muito rápido. O andar é grande, e o guarda que estava no local não, necessariamente, presenciou. O relatório vai demonstrar - afirma Gilberto Barichello, diretor Administrativo e Financeiro do Grupo Hospitalar Conceição (GHC).

A principal linha de investigação da Polícia Civil é a da vingança. O pistoleiro que disparou estaria a serviço de uma das famílias de traficantes que tinha contas a ajustar com a vítima. Uma das últimas disputas ruidosas de Russo começou em 2012, em Torres, no Litoral Norte. Na ocasião, ele e dois cúmplices - Vilmar da Silva, o Samurai, e Júlio Aguiar de Oliveira - foram indiciados e passaram a responder a um processo na Justiça no qual são apontados como mandantes do assassinato de Anísio Brocca de Jesus, 52 anos, morto enquanto dormia em uma rede.

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- O Samurai está foragido. O Júlio Aguiar estava em liberdade e, na semana passada, foi morto com sete tiros - informa o delegado Celso Jaeger, de Torres.

Na sexta-feira passada, em uma discreta rua da Santa Cecília, populoso bairro de Viamão, Russo foi alvo de um atentado à bala. Testemunhas ouvidas por Zero Hora falaram que houve mais de 20 disparos. Ele foi ferido, mas, em fuga, teria se refugiado em uma das três residências que possuía na Região Metropolitana. Os disparos teriam sido feitos por dois homens em um veículo cinza.

- Estamos trabalhando no caso - diz Larissa Fajardo, delegada adjunta da 2ª Delegacia de Homicídios de Viamão.

A fila de inimigos

Outros que tinham contas a ajustar com Russo são os integrantes da quadrilha Bala na Cara, que opera o mercado de drogas em bairros de Porto Alegre. Entre os traficantes, Russo é considerado atacadista (que compra em grandes volumes), lembra o delegado Luiz Fernando Oliveira, que ficou no encalço dele quando trabalhava no Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc).

- Ele trazia a droga da fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai - afirma o delegado.

Esse é o quebra-cabeça a ser montado pela investigação para elucidar a execução de Russo. O responsável pelo caso é João Paulo de Abreu, delegado da 3ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP). Alegando ainda estar coletando provas no local do homicídio, Abreu não entra em detalhes. Mas o certo é que as informações que serão recolhidas no hospital deverão ser cruzadas com as que existem sobre a vítima no Denarc e nas delegacias de Torres e Viamão.

- Estamos empregando todos os nossos esforços para resolver este caso - relata o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Odival Soares.

Caso não é isolado

O crime ocorrido neste fim de semana no Hospital Cristo Redentor não é raridade. Do ano passado para cá, houve execuções ou tentativas em hospitais de Porto Alegre, Viamão e São Leopoldo, além do sequestro de um recém-nascido na Santa Casa da Capital.

Professor do curso de Tecnologia em Segurança Pública da Universidade Feevale, Charles Antonio Kieling observa que a estrutura de ensino e treinamento de segurança patrimonial propicia que casos como esses ocorram - não só em hospitais, mas em diferentes estabelecimentos.

- Quando se pega a malha curricular da preparação dos profissionais, se vê que não há nenhum treinamento nesse sentido. O treinamento é basicamente em situação de abordagem. Como montar um sistema que evite a penetração de pessoas armadas, não tem - explica.

O professor sugere que, quando um paciente dá entrada na instituição devido a um crime, passe a ser monitorado de forma diferenciada, com mapeamento para evitar o acesso de pessoas das quais é alvo. Outra sugestão é ter um ambiente exclusivo para internados nessa situação.

O diretor Administrativo e Financeiro do GHC explica que esse ambiente, geralmente, é o quarto andar, onde estava Russo. E que a instituição conta com um sistema com 19 câmeras de videomonitoramento, recepção que identifica visitantes e guardas que fazem ronda pelos corredores. As imagens captadas foram entregues aos policiais.

- Abrimos um processo de licitação em setembro que se concluiu na semana passada: está sendo feito o contrato nesta semana para instalação de mais quatro câmeras no quarto andar. Deslocamos dois vigilantes do Hospital Conceição para cá e estamos colocando mais dois, dada a estatística de vítima baleada acima da média (de quinta-feira a sábado, foram 10) - salienta Barichello.

- O problema é muito complexo. Esperamos que a direção tome medidas. Temos cobrado que elas sejam implementadas. Infelizmente, não foram 100% - relata o vice-presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul, Daniel Souza.

*Zero Hora


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