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Heróis anônimos

Moradores de rua ajudam a polícia a socorrer vítima de estupro em Porto Alegre

Caso aconteceu próximo ao Anfiteatro Pôr do Sol, por volta das 23h30min de domingo

14/10/2014 - 05h05min

Atualizada em: 14/10/2014 - 05h05min


Cristiane Bazilio
Cristiane Bazilio
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Fernanda da Costa
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Everton Soares Pereira, 35 anos, foi um dos responsáveis por avisar a polícia do estupro a tempo

Foi graças a três moradores de rua que a polícia conseguiu prender dois suspeitos de terem estuprado uma adolescente de 16 anos. Ao ouvir os gritos da vítima, dois deles foram tentar socorrer a garota enquanto outro correu à Delegacia da Criança e do Adolescente (Deca) para chamar a polícia. O caso aconteceu próximo ao Anfiteatro Pôr do Sol, por volta das 23h30min de domingo.

Com um barraco de lona preta cravado às margens do Guaíba, nas proximidades do anfiteatro, o guardador de carros Everton Soares Pereira, 35 anos, foi um dos responsáveis por avisar a polícia a tempo. Foi ele quem ouviu os gritos de desespero da adolescente, que, segundo relatos, tentava pedir ajuda mesmo com a boca tapada pelo homem que foi detido minutos depois.
 
- Só pensei em tirar ela de lá - contou Pereira.
 
Quando se aproximou da cena, na esperança de resgatar a garota, um dos criminosos mostrou que estava armado, e mandou que o morador de rua fosse embora. Pereira então pediu que um amigo, outro morador de rua, fosse avisar a polícia do estupro enquanto ele procurava "um pedaço de pau" para se defender.
 
- Na hora que tu olha aquilo, só passa na cabeça salvar a guria. Ia de pau pra cima deles - relata.
 
Antes que ele colocasse em prática o plano de voltar sozinho ao local armado apenas com um galho, a polícia chegou. Um dos homens foi preso em flagrante e o outro fugiu, sendo detido pouco tempo depois.
 
- O que não estava estuprando a guria saiu correndo e atirando, mas a polícia pegou. Ajudei a carregar ela, que estava desmaiada - conta o morador de rua, que não se vê como um herói.
 
- Fiz o que todo mundo teria feito - responde com humildade o gaúcho de São Lourenço do Sul, que esta há oito anos morando nas ruas de Porto Alegre.


O morador de rua Everton Augusto Rodrigues Maciel também ajudou a polícia
Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS

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Pereira tinha família - mulher e dois filhos - e um emprego em uma cabanha, onde cuidava de cavalos crioulos, mas perdeu tudo ao se render ao crack. Diz que sabe muito da lida com os animais, da encilha ao laço, e que já cuidou de cavalo selecionado para o Freio de Ouro. Nas ruas da Capital, conta que já atuou como catador, mas hoje prefere apenas guardar carros no Centro ou na Cidade Baixa.

Quando conversou com a reportagem, antes de responder a qualquer pergunta, mostrou um pouco do altruísmo de que é feito:
 
- Vieram perguntar da guria? Como ela tá?

Ao saber que ela foi medicada e está internada, acrescentou:

- Tomara que fique bem, que consiga superar o trauma. Conviver com isso é muito difícil para a mulher. Conheci várias que já passaram por isso - resume.

Pereira atualmente divide o pouco espaço que tem em seu barraco com uma cadela e seus seis filhotes, e sonha em conseguir vacinas para que os cachorrinhos cresçam saudáveis.

- Sei que eles têm que tomar vermífugo. Já vi outros filhotes morrerem porque não tomaram vacina.

Vítima foi agredida e está em estado grave

O diretor do Deca, delegado Andrei Luiz Vivan, relata que a adolescente foi encaminhada ao Hospital de Pronto-Socorro (HPS) e, posteriormente, ao Hospital Fêmina. Até a noite de segunda-feira, o estado de saúde dela era grave.

- Ela foi tão agredida que foi muito difícil identificá-la - revela Vivan.

Segundo a polícia, a adolescente é estudante, mora no Bairro Jardim Sabará e estava em uma festa na Usina do Gasômetro, acompanhada por uma amiga. Quando a parceira resolveu ir embora, a vítima teria decidido ficar.

- São informações que ainda precisam ser apuradas. Só poderemos entender melhor quando conseguirmos ouvir a vítima - afirmou o diretor do Deca.

Marlon Patrick Silva de Mello, que completou 25 anos no domingo, e Rodnei Alquimedes Ferreira da Silva, 56 anos, foram presos em flagrante e encaminhados ao Presídio Central. Silva, que correu e trocou tiros com os agentes, segundo a polícia, já respondeu por roubo e lesão corporal e cumpriu pena por roubo com tentativa de estupro, em 2010. Atualmente, estava em liberdade.

O delegado ressalta que a pena para estupro vai de 8 a 12 anos, mas é ampliada quando o ato é praticado por mais de uma pessoa.

- Nesse caso, eles podem pegar de 10 a 15 anos de prisão - esclarece.

A Polícia Civil não soube informar se os detidos registraram advogado de defesa.


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