Polícia



Violência em Sapucaia

Nove pessoas são assassinadas em seis dias em Sapucaia do Sul

Conforme o levantamento do DG, 44 pessoas já foram mortas na cidade desde o começo do ano. Quase o total de vítimas do ano passado inteiro.

01/10/2014 - 07h04min

Atualizada em: 01/10/2014 - 07h04min


Mateus Bruxel / Agencia RBS
Jovens foram mortos em frente à boate

Às 2h da última terça-feira, em um rápido telefonema, Jenifer Morgana Alves, 19 anos, ouviu pela última vez a voz do namorado, Alisson Rodrigues Rosa Maciel, 24 anos. Na conversa, fez mais uma vez um alerta:

- Te cuida, e não fica aí na frente da boate. É perigoso.

Pouco tempo depois, o celular só tocava sem ninguém atender. Às 7h, a Brigada Militar foi acionada até a boate Tropicaliente Drink, às margens da ERS-118, no Bairro Nova Sapucaia, em Sapucaia do Sul, onde dois jovens estavam mortos com pelo menos 23 tiros de pistolas.

Um deles, foi reconhecido como  Alisson. O outro, era Juliano Abreu Pires, 20 anos. Estavam caídos ao lado de duas cadeiras diante do estabelecimento de portas fechadas.

Os dois assassinatos elevaram para nove o número de pessoas mortas na cidade em apenas seis dias. Uma explosão de assassinatos confirmando o dado alarmante que, no ano passado, conforme o levantamento do Diário Gaúcho, colocou a cidade como a segunda mais violenta da Região Metropolitana. Em 2013, foram 51 pessoas mortas. Quase o mesmo número registrado este ano, quando 44 já foram assassinados.

A conta dos homicídios, de acordo com a polícia, está sendo multiplicada pelos traficantes. Em contrapartida, a cidade é uma das poucas a ainda não contar com uma delegacia especializada para investigar os homicídios.

Conforme os investigadores da 2ª DP de Sapucaia, a primeira hipótese apurada para o duplo homicídio em frente à boate, estaria relacionada ao tráfico. Na segunda, a boate estava fechada. A suspeita é de que os dois jovens tenham sido surpreendidos por pelo menos dois atiradores enquanto estavam sentados diante do estabelecimento. Os matadores teriam fugido a pé.

- O Alisson trabalhava como garçom na boate e morava comigo em Porto Alegre. Às vezes ele dormia aqui em Sapucaia, na casa do dono da boate, mas me disse que não queria incomodar ele. Então, ficou na rua mesmo - conta a namorada.

Segundo a polícia, os dois tinham antecedentes somente por posse de drogas.


Dois jovens foram mortos com 23 tiros de pistola durante a madrugada, em Sapucaia do Sul
Foto: Mateus Bruxel, Agência RBS

Crimes podem estar relacionados
A série de homicídios da semana começou na última quinta-feira, com uma chacina no Bairro Jardim. Naquela ocasião, três homens foram mortos com mais de 30 tiros de pistola .380 por uma dupla que invadiu o terreno onde moravam. Conforme os primeiros indícios da 2ª DP local, o crime teria sido uma ordem do tráfico. Mas o alvo, na realidade, seria um outro homem. As três vítimas teriam morrido de graça.

Das demais mortes, pelo menos três teriam características semelhantes à da chacina. O duplo homicídio ocorrido ontem e o assassinato de Jesiel Silva de Ávila, na manhã de domingo. Ele foi executado com mais de 10 tiros às margens da BR-116, no Bairro Vacchi.

À princípio, a polícia trabalha com a hipótese de desacertos pontuais do tráfico, mas não é descartada a possibilidade de um mesmo grupo estar por trás da violência. Em comum, os crimes têm os calibres usados - sempre .380 e 9mm - e a forma como as vítimas foram executadas, com muitos disparos.
 
Menino morto em disparo acidental
Entre os crimes da última semana, está a morte de um menino de 11 anos, no final da tarde de segunda. Ele foi atingido por um tiro disparado por outro menino, de 12 anos.

Ainda foi socorrido ao Hospital São Camilo, mas não resistiu. Preliminarmente, o guri que atirou disse que havia encontrado a arma e, enquanto manuseava com o amigo, disparou acidentalmente.

Os investigadores da 1ª DP de Sapucaia do Sul, no entanto, apuram de quem seria o armamento. A principal hipótese apurada pela polícia até o momento é de que realmente teria sido encontrada na rua.

BM aposta na inteligência
No começo do mês, o chefe de polícia, delegado Guilherme Wondracek, afirmou ao DG que não existe até o momento qualquer projeto para a criação de uma delegacia de homicídios na cidade. A medida havia sido pedida pelos delegados locais ainda no final do ano passado. Mesmo que algum projeto fosse encampado agora, dificilmente sairia do papel antes do final do ano, já que dependeria da sanção do governador.

Por outro lado, a Brigada Militar se desdobra para encontrar uma estratégia contra a onda de violência.

- Estamos investindo todo o esforço possível no serviço de inteligência para antecipar os movimentos do tráfico. Mas assassinatos deste tipo dificilmente são evitados - aponta a capitã Deise Kologeski, que responde interinamente pelo comando do 33º BPM.

A oficial destaca que, desde a chacina de quinta-feira, a Brigada já estava em alerta para possíveis desdobramentos violentos. E, para tentar evitar isso, garante a capitã, foram reforçadas as viaturas e a equipe do Pelotão de Operações Especiais (POE) na rua.

- O que sempre podemos fazer é abordar suspeitos. E, desde o mês passado, realmente aumentaram as apreensões de armas na nossa região - diz.
A estimativa é de que o batalhão de Sapucaia tenha um déficit de 30% do efetivo em relação ao que seria ideal para o policiamento da cidade.

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