Polícia



Descaso em Porto Alegre

Delegada vai indiciar PMs por estupro

Polícia busca esclarecer o crime contra jovem de 19 anos, deficiente mental. Delegada afirma que omissão dos PMs foi responsável pelo fato e quer indiciá-los.

07/11/2014 - 15h02min

Atualizada em: 07/11/2014 - 15h02min


Eduardo Torres / Diário Gaúcho
Mãe da jovem briga por justiça em caso de omissão policial

Os dois policiais militares do 19º BPM suspeitos por omissão em caso de jovem, com deficiência mental, desaparecida e que acabou estuprada no dia 25 de outubro, serão indiciados pelo crime de estupro. Essa é a convicção da delegada Jeiselaure Souza, da 5ª DHPP, que agora trabalha para descobrir o autor do abuso sexual contra a jovem.

- Para mim não restou dúvida que a omissão dos PMs, ao liberarem essa menina na rua depois de a encontrarem, foi fundamental para que ela acabasse vítima de estupro posteriormente - aponta a delegada Jeiselaure.

De acordo com o artigo 13 do Código Penal, a omissão da autoridade policial quando poderia ter evitado diretamente um crime é passível de responder pela consequência do seu ato.

PM que liberou jovem desaparecida em Porto Alegre foi ouvido pela polícia

Nos últimos dias, os investigadores percorrem os lugares por onde a jovem seguiu entre a noite de quarta, 22 de outubro e a manhã do sábado, 25 de outubro, quando apareceu bastante machucada e com roupas que não eram dela no Hospital Conceição. No local, os médicos constataram que ela havia sido vítima de estupro.
A suspeita é de que ela perambulou entre a Vila Planetário, no Bairro Santana, e o Centro. Dormiu pelas ruas, provavelmente entre usuários de crack que se reúnem na região.

- Ela não tem condições de reconhecer o autor do estupro, mas vamos tentar reconstruir esse caminho e buscar reconhecimentos - diz a delegada.

A esperança é de que a chegada da jovem ao hospital revele alguma pista. Imagens das câmeras de monitoramento do hospital foram analisadas e até o momento nenhuma pista muito importante foi encontrada. No seu depoimento, a vítima relatou que havia recebido roupas limpas de uma senhora, quando as que ela vestia já estavam ensanguentadas.

A jovem, que sofre de hidrocefalia, no entanto, não soube precisar quem era essa mulher. Nem explicou de que forma conseguiu chegar até o Hospital Conceição.

Os policiais acreditam que alguma pessoa a tenha deixado lá depois que as imagens da jovem circularam as redes sociais como desaparecida, na manhã daquele sábado.

- Quando conseguirmos fechar o caminho dos lugares por onde ela passou, talvez consigamos identificar o autor do estupro - diz a delegada.

É que foram colhidos materiais da jovem pelo DML. Se houver algum suspeito, será possível a comparação por exames de DNA.

Inquérito foi devolvido

As investigações de estupro fazem parte das atribuições da Delegacia da Mulher, mas ao receber o relatório feito pela 5ª DHPP na última segunda, com os depoimentos dos familiares da jovem, dos policiais militares envolvidos na ocorrência e ainda dos plantonistas de duas DPs da Capital, a delegada Anita Klein se negou a dar continuidade ao inquérito. O procedimento foi devolvido à delegacia que investiga homicídios e desaparecidos.

- Já que eles começaram a apuração e não nos repassaram imediatamente o caso com a gravidade de um estupro, melhor seria que dessem continuidade a esse trabalho, sem qualquer prejuízo ao inquérito - resume a delegada.

A recusa, no entanto, deverá ser incluída na sindicância já aberta pela Corregedoria da Polícia Civil nesta semana.

O órgão já apura as condutas dos plantonistas da 14ª DP, que, alegando estar em horário de janta, não registrou o desaparecimento da jovem na noite de 22 de outubro, e da 21ª DP, que, na mesma noite, registrou o reencontro dela quando os PMs a apresentaram na delegacia, mas os encaminhou para que a apresentassem no plantão do Departamento de Homicídios, no Palácio da Polícia.

Ao invés de apresentá-la, os PMs a liberaram na Avenida João Pessoa, alegando que ela poderia pegar um ônibus para casa, no Bairro Mario Quintana, Zona Norte da Capital. Ela se perdeu de novo e foi encontrada três dias depois, estuprada.

O 19º BPM também abriu um inquérito para apurar a conduta dos policiais. A tenente-coronel Nádia Gerhard não comenta o caso antes de concluir as apurações.

O que aconteceu:

* Jovem de 19 anos, com deficiência mental, desapareceu na tarde de 22 de outubro no Centro de Porto Alegre.

* Horas depois, foi encontrada perdida no campus da Ufrgs, no Bairro Agronomia. Dois policiais militares a levaram até a 21ª DP, onde foi feito o registro do encontro dela.

* O plantonista teria tentado contatos com a família dela e, sem conseguir, encaminhou os PMs até o plantão da 5ª DHPP, no Palácio da Polícia.

* Sem comparecerem ao plantão, e alegando não terem percebido a deficiência mental da jovem - apesar disso estar escrito na ocorrência de desaparecimento -, a deixaram na rua. Ela se perdeu novamente e só foi encontrada três dias depois, estuprada, no Hospital Conceição.

O envolvimento dos PMs:

* O artigo 13 do Código Penal estabelece que "o resultado de um crime somente é imputável a quem lhe deu causa (por ação ou omissão) sem a qual o resultado não teria ocorrido".

* A omissão é penalmente relevante quando o omitente podia agir para evitar o resultado. E o dever de agir é: de que tem obrigação por lei de proteger ou vigiar; de quem assumiu a responsabilidade de impedir o resultado do crime; de quem, por seu comportamento anterior, correu o risco da ocorrência.

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