Polícia



Audácia de matadores

Polícia acredita que crime no Postão da Cruzeiro foi um acerto de contas

Paciente foi executado no corredor da maior unidade de saúde emergencial da Zona Sul de Porto Alegre

28/11/2014 - 09h06min

Atualizada em: 28/11/2014 - 09h06min


Luiz Armando Vaz / Agencia RBS

"Todo mundo fica quieto! Ninguém se mete, que não é com vocês! O grito vinha de um dos dois homens armados que invadia o Pronto-Atendimento Cruzeiro do Sul, na Vila Cruzeiro, Zona Sul de Porto Alegre, por volta das 18h30min de ontem. Eles, e pelo menos outros cinco homens - todos armados - que entraram no local, não tomaram conhecimento da sala de espera lotada.
Foram direto ao corredor que dá acesso à ala psiquiátrica e, ao encontrarem José Chrisóstomo Júnior, 37 anos, o executaram com aproximadamente dez tiros de pistolas 7.65 e .380.

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 "Ninguém viu nada"

O pânico tomou conta do Postão. Indiferente à correria, a dona de casa Terezinha da Costa Reis, 48 anos, em vez de fugir para a rua, correu em direção ao corredor onde a vítima estava estirada. Precisava ver como estava o pai, em atendimento em uma das salas do mesmo corredor.
- Nem pensei na hora. Tinha que correr para ver como estava o meu pai, era o que mais me importava. Nem vi que os bandidos passaram correndo por mim - lembrava do lado de fora do posto, minutos depois do crime.

Os criminosos saíram correndo e, apontando as armas para quem ousasse olhá-los, já na rua, diziam em tom ameaçador:
- Ninguém viu nada.

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Polícia analisa imagens

Uma ordem já bem conhecida e temida na comunidade.
- Já aconteceram outras ameaças, mas nunca vi uma violência como essa dentro do posto. Eu não entendo como não colocam um posto da Brigada Militar aqui para a segurança nossa e dos usuários - desabafou um dos funcionários do Postão, que foi fechado após o episódio.

No local, os investigadores da 6ª DHPP já tiveram acesso às imagens das câmeras de monitoramento, na tentativa de identificar os criminosos. Segundo os policiais, apenas dois atiradores estavam com os rostos cobertos.

Assassinos foram ousados

O que mais chamou a atenção da polícia foi a ousadia dos assassinos. Não apenas pelo local do crime, mas pela estratégia usada para executar José. Ele havia sido levado ao Postão pela Brigada Militar, depois de passar mal ao ver o cunhado, Ademir Ribeiro Lange, 30 anos, assassinado no começo da tarde, em casa, no Bairro Coronel Aparício Borges, na Zona Leste.
Segundo testemunhas, quando os PMs chegaram com o paciente na unidade de saúde, os suspeitos já estariam espreitando. Eles esperaram os policiais saírem para atacar.

O medo de José era evidente. De acordo com a polícia, ao executarem Ademir, por volta das 12h30min, os dois homens, vestidos de preto, que invadiram a sua casa, na Rua Jorge Luís Domingues, perguntavam por José. O plano seria, acreditam os investigadores, executar os dois.
José, que morava no mesmo terreno, só soube da morte de Ademir minutos depois, ao chegar no local. O rapaz havia sido executado com pelo menos sete tiros de pistola pela dupla, que invadiu a residência se fazendo passar por policiais. Eles encontraram Ademir no banheiro e o mataram com tiros à queima-roupa - à exemplo do que fariam com o cunhado horas depois.


Foto: Luiz Armando Vaz

Crimes teriam relação com tráfico de drogas

Os casos serão investigados pela e pela 6ª DHPPs. De acordo com o delegado Róger Bittencourt, as duas mortes parecem acertos de contas. A motivação ainda não está clara.
Segundo Róger, Ademir tinha envolvimento com o tráfico de drogas - já tinha antecedentes por esse crime, além de roubo. José atuava como cambista e ambulante no Centro. Não é descartada a possibilidade de que eles tenham sido mortos por algum desentendimento antigo, relacionado ao tráfico na Capital. Adriano seria primo de um traficante conhecido como Coxa, que já teve papel de destaque no crime na Zona Sul.

- É um traficante meio fora da cena ultimamente, mas nenhuma hipótese pode ser descartada - diz o delegado.

Pedido de policiamento

O Postão ficou fechado até a noite. 
- É algo que nos surpreendeu, porque nunca aconteceu algo parecido com isso aqui na Cruzeiro. É inegável que há violência na comunidade, mas o posto sempre foi respeitado - diz o técnico de enfermagem Jair Fortes Rodrigues, que atua há 15 anos na unidade e representa o conselho de saúde da região.

A instalação de um posto policial no local é uma reivindicação antiga dos funcionários.
- Antes, eu trabalhava no HPS. Lá, temos esse serviço e eu achei estranho não existir aqui. Se perguntar aos moradores, todos querem, porque é para a segurança de todos - desabafa.


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