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Resgate, tapa e cativeiro

Como foram as três horas do sequestro do prefeito de Mostardas

Capturado por volta das 23h de quinta-feira, Alexandre Galdino Dorneles Lopes foi libertado em ação policial que prendeu um casal, apreendeu dois adolescentes e terminou com a morte de um sequestrador

19/12/2014 - 12h34min

Atualizada em: 19/12/2014 - 12h34min


Débora Ely
Débora Ely
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Passava da 1h30min da madrugada desta sexta-feira quando o prefeito de Mostardas ouviu estampidos. Trata-se de barulhos da casa, pensou, até que os sons ficaram mais intensos e o prenúncio de tiroteio se confirmou. Fazia quase três horas que Alexandre Galdino Dorneles Lopes, 34 anos, estava sob controle de uma quadrilha que exigia R$ 300 mil para seu resgate - tempo demais para a vítima, mas de menos para o bando que pretendia entrar a sexta-feira em negociações.

A rápida descoberta do cativeiro deu-se pela investigação já em curso há meses. A Polícia Civil monitorava a quadrilha suspeita de cometer pelo menos outros dois sequestros nas últimas semanas, de empresários de São Leopoldo e Gravataí. Assim, o esconderijo - a casa de classe média em Gravataí, com piscina, vista para a área rural e próxima à ERS-020 - se tornou o cenário de confronto, de prisões e do resgate de Lopes. Um local para não levantar suspeitas, aponta o titular da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Joel Wagner.

- Surpreendeu a maneira como agiam e monitoravam as vítimas. Eram muito bem organizados - avalia Wagner. - Eles monitoram (o prefeito) por menos de um mês, um período até bastante longo para eles, que sempre contavam com informações privilegiadas.

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Fechado por uma caminhonete na estrada enquanto voltava da casa da mãe, o prefeito de Mostardas - cidade de 12 mil habitantes no Litoral - foi algemado por homens que se apresentaram como policiais por volta das 23h de quinta-feira. Colocado no banco de trás do veículo equipado com sirenes, foi vendado, agredido com um tapa no rosto e transportado por cerca de duas horas até o cativeiro. Durante o caminho, os criminosos anunciaram o sequestro à mãe de Lopes e exigiram o pagamento de resgate.

- Eles disseram: "Foi a quarta vez que tentamos te pegar. Já estamos te monitorando, a tua família, sabemos tudo". E contaram todo um histórico, detalhado - relatou o político. 

Nesta manhã, após prestar depoimento na delegacia, o político afirmou, em fala pausada, ter se mantido calmo durante o sequestro. Contou que, ao chegar à residência que funcionava como cativeiro, os bandidos lhe ofereceram água, colocaram um ventilador e ligaram a televisão no quarto onde a vítima foi trancada - e Lopes chegou a tentar adormecer.

O quarto azul era mobiliado com uma cama, cômoda e armários brancos. Não fosse a janela encoberta por um pano para impedir que a vítima avistasse o exterior, pareceria um dormitório comum de uma criança - sobre prateleiras suspensas, estavam mais de 50 carrinhos de brinquedo.

Com 30 agentes participando da operação, a polícia só agiu quando uma caminhonete deixou a casa e foi abordada quase na ERS-020. Os dois ocupantes do veículo revidaram com tiros - um foi preso, outro conseguiu fugir. A partir da reação dos criminosos, foi dado o comando para entrar no cativeiro, onde ocorreu mais um tiroteio. Um sequestrador acabou morto, uma mulher foi presa e dois adolescentes de 15 e 16 anos, apreendidos. Outro bandido conseguiu escapar pelos fundos.

Prefeito fala sobre as horas de sequestro:



Sete carros, um jetski, cinco coletes à prova de balas, armas, munição e miguelitos foram apreendidos no local - indicando, segundo a polícia, se tratar de uma quadrilha bem equipada que, possivelmente, vinha cometendo outros crimes. O delegado Wagner ainda afirmou que, pelo acompanhamento dos bandidos nos últimos meses, conseguiu evitar outros dois sequestros.

Lopes, prefeito de Mostardas pelo PMDB desde 2013, se surpreendeu com o conhecimento da quadrilha sobre a sua rotina e da família. Os criminosos sabiam, por exemplo, o dia que a filha do político havia chegado de viagem e o horário que o irmão saía para a lavoura. Para ele, que nunca havia sequer sido assaltado, não há indicação de motivação política - mas, sim, de um crime audacioso incentivado pela exposição que tem na cidade. A tese é corroborada pela polícia.

- Tem de procurar manter a tranquilidade, tocar a vida porque, senão, a gente vai pirar - disse, agora aliviado, Lopes.



* Zero Hora

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Prefeito de Mostardas, Alexandre Galdino Dorneles Lopes, foi sequestrado na noite de quinta-feira

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