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Suspeito de pedofilia

"Foi uma pessoa que tornou a vida da gente difícil", diz bispo sobre dom Marcos de Santa Helena

Responsável pela excomunhão, dom Irineu Wilges relembra os problemas de relacionamentos e os comentários de abusos envolvendo o ex-padre de Caçapava do Sul

09/12/2014 - 18h46min

Atualizada em: 09/12/2014 - 18h46min


Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Dom Marcos foi preso nesta terça-feira por suspeita de pedofilia

Bispo da Diocese de Cachoeira do Sul, responsável pela cidade de Caçapava do Sul, quando João Marcos Porto Maciel foi excomungado em 2009, dom Irineu Wilges recordou em entrevista a Zero Hora do temperamento difícil do ex-padre. Por 12 anos no comando de 13 cidades da região, o bispo emérito - hoje aposentado - admite que teve conhecimento do que definiu como "fofocas" sobre abusos sexuais cometidos por dom Marcos, mas que não tinha nenhum relato concreto que o acusasse.

Em 2009, o senhor era o bispo da região que abrangia Caçapava do Sul. Recorda por que dom Marcos foi excomungado?

Ele mesmo se colocou fora da Igreja, fez uma própria igreja e esse foi o motivo. Fizemos uma visita em Caçapava, ficamos um dia e pouco conversando com ele e os candidatos, examinando a regra que ele tinha escrito (para o mosteiro que pretendia criar). Prometemos até ajuda, mas ele não quis aceitar, achou que era inspirado por Deus. Cada um é livre, né? O principal motivo da saída foi esse aí. Havia também uma conversa de que existia desconfiança (de abusos), mas sempre foi negado.

Na época vocês não tinham nenhuma denúncia de pedofilia?

Digamos que não, denúncia mesmo e pessoa que afirmasse não me lembro de nenhuma. Quando passamos por lá, tinha só um menino e procuramos conversar, ele dizia que não via nada. Eram fofocas.

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Vocês não tinham argumentos para denunciar à polícia?

Não, nada. Isso de fato, não. Cheguei a estar lá e perguntar e o menino negou. Ele (ex-padre) dizia que o menino foi entregue, que ele só estava cuidando. Na época, o assunto (pedofilia) não era tão explorado e divulgado como é hoje. Claro que já era um problema, porque a Igreja sempre determinou que os sacerdotes fossem heterossexuais, não fossem pedófilos, e assim por diante. Isso era um sinal de que não tinha vocação para ser padre.

Mas vocês não achavam estranho?

O bispo tem tantas coisas para correr atrás e vem um caso de uma pessoa que está incomodando. Pensamos: deixa esse negócio de lado aqui, vamos cuidar da Diocese, do nosso povo, e esse cara sempre incomodou desde que chegou. Era uma pessoa muito difícil. Quanto menos se mexe nessas coisas, melhor é. Foi uma pessoa que tornou a vida da gente difícil, em geral. Sempre megalomaníaco, sempre quis aparecer mais. Ele conseguiu agora se tornar uma figura nacional, isso é ótimo para ele, isso que ele precisa.

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O senhor acha que ele gosta desta divulgação, mesmo que negativa?

Meu Deus do céu! A psique dele para mim é isso. É como os outros dizem: "falem mal de mim, mas contanto que falem". Claro, de um lado, ele não gosta, mas do outro, é projeção.

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