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Homicídio

Após reconstituição da morte de surfista, delegado avalia que versão sobre legítima defesa ficou enfraquecida

Polícia não revela detalhes sobre reconstituição na Guarda do Embaú; inquérito com investigação deve ser concluído até quinta-feira

27/01/2015 - 23h08min

Atualizada em: 27/01/2015 - 23h08min


 Ao final de três horas de reconstituição, longe dos manifestantes e sem a presença da imprensa, a polícia afirmou que conseguiu sanar dúvidas sobre o assassinato do surfista Ricardo dos Santos, o Ricardinho, na praia da Guarda do Embaú, em Palhoça. Porém, não foram divulgados detalhes sobre as versões apresentadas e continua em xeque a justificativa apresentada pelo policial Luís Paulo Mota Brentano de que teria atirado em legítima defesa. Apesar disso, a manifestação do delegado Marcelo Arruda foi clara: a versão do PM que matou o surfista ficou enfraquecida, já que não foi localizado o facão e um dos tiros foi nas costas.

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Segundo ele, Ricardinho o teria atacado com um facão. A arma citada durante a reconstituição ainda não foi localizada pela polícia. Nesta terça-feira, a simulação contou com a presença do soldado da Polícia Militar, Luís Paulo Mota Brentano, que está preso como o autor confesso dos tiros que mataram Ricardinho.

Um forte aparato de segurança foi montado no local, com acesso aos policiais, peritos, advogados e poucos familiares da vítima. Dezenas de pessoas ficaram a 200 metros da cena, atrás de viaturas que interditaram a Rua Maria Cândida. Jornalistas também não puderam acompanhar. A simulação do crime teve ainda protestos pacíficos, de um lado pedindo justiça ao homicídio e de outro, apoiando o PM. À noite, a comunidade celebrou a missa de sétimo dia de Ricardinho.

O Instituto Geral de Perícias (IGP) participou e a ação foi observada pelo Ministério Público. Responsável pelo inquérito, o titular da Delegacia de Palhoça, Marcelo Arruda, disse que a reconstituição teve quatro versões: do policial Mota, do irmão dele, do avô do surfista, Nicolau dos Santos, e do tio do surfista, Mauro dos Santos, ambos testemunhas.

- Deu para sanar dúvidas. Mas surgiram outros questionamentos que serão confrontados com depoimentos e laudos periciais, além de contradições que precisam ser melhor investigadas, nada que atrase a conclusão do inquérito - afirmou.


Missa de sétimo dia de Ricardinho foi celebrada nesta terça-feira à noite, na Guarda do Embaú

A principal dúvida do delegado, embora não tornada pública, segue sendo a tese de legítima defesa apresentada pelo policial. Arruda deixa claro que a versão da defesa está enfraquecida porque não foi localizado nenhum facão mencionado pelo soldado Mota, com o qual supostamente o surfista teria partido para cima dele e também em razão de um dos tiros ter sido disparado nas costas de Ricardinho.

- Consideramos todas as informações. O policial manteve a legítima defesa e investigamos as hipóteses. O inquérito está bem instruído e vamos chegar numa boa conclusão do que aconteceu - declarou o delegado, que pretende concluir a análise até quinta-feira.

Laudos periciais ainda serão confrontados com depoimentos

Para concluir o inquérito, a polícia espera a conclusão do laudo do IGP sobre a reconstituição e irá confrontar os resultados periciais com os depoimentos. A expectativa policial é que o trabalho dos peritos derrube versões não viáveis e considere a plausível.

- A perícia vai analisar as contradições. Temos quatro versões e acredito que será possível, sim, chegarmos a uma conclusão com as medidas e os procedimentos que realizamos do local - ressaltou o perito Walmir Djalma Gomes Júnior.

O promotor Alexandre Muniz, que também acompanhou a simulação, lembrou que as contradições apresentadas são as mesmas já conhecidas desde o início - tese da legítima defesa do policial - e espera que ainda nesta semana a polícia conclua a investigação para decidir sobre o oferecimento da denúncia criminal.

- Não havia nenhum facão, está descartada a legítima defesa dele (soldado) - disse um dos advogados que colabora com a família do surfista, Luiz Eduardo Guimarães.

O que as testemunhas disseram

Luís Paulo Mota Brentano, policial
Disse que atirou em Ricardo dos Santos porque ele teria partido para cima dele com um facão.

Irmão menor do policial
Confirmou a versão de Mota e afirmou que eles dois estavam dentro do carro na hora do conflito.

Nicolau dos Santos, avô de Ricardo
Contou à polícia que ele e o surfista foram até o carro e pediram para eles saírem dali. Porém, o policial teria se negado. Tentaram uma segunda conversa e novamente houve a negativa. Explicou que quando ambos saíram de perto do veículo, Mota atirou e atingiu Ricardinho pelas costas.

Mauro Santos, tio de Ricardo
Esta versão não foi detalhada pela polícia, mas o relato aponta que o policial teria atirado injustificadamente.

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Marco Favero / Agencia RBS
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