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Risco maior

Arrombamentos de caixas eletrônicos no RS triplicam em cinco anos

Explosões e uso de maçaricos para roubar dinheiro de terminais de autoatendimento tiveram alta de 231,2% desde 2010. Conforme a polícia, aumento é resultado da migração de quadrilhas que assaltavam agências para ação menos arriscada

25/03/2015 - 04h03min

Atualizada em: 25/03/2015 - 04h03min




A multiplicação de casos também se justifica porque os ladrões "descobriram" que correm menor risco na calada da noite do que em ações à luz do dia. Haveria migração de quadrilhas que antes praticavam assaltos, com bancários e clientes sob mira de armas - este modo de agir retrocedeu 6,5% em 2014 no RS.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
No primeiro dia do ano, polícia flagrou duas mulheres que guardavam 15 quilos de explosivos de uma quadrilha

O caixa eletrônico se consolida como um dos alvos preferidos da bandidagem. Nos últimos cinco anos, arrombamentos de terminais, incluindo uso de maçarico e explosivos, cresceram 231,2% no Estado. O aumento mais significativo ocorreu no ano passado, com 65,6% a mais de registros em relação a 2013. A estatística é da Polícia Civil e leva em conta crimes consumados e tentativas. Em números absolutos, foram 53 ataques em 2014 no RS, média de um por semana. Em 2015, até 10 de março, a polícia contabiliza 14 casos - dois a menos do que em todo ano de 2010.

Dos 53 casos do ano passado, 10 ocorreram em Porto Alegre. Na Capital e em municípios de médio porte, os ataques, em geral, ocorrem com uso de maçarico. A maior incidência de explosão de terminais está em cidades do Interior, com policiamento reduzido.

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Os ataques também avançam conforme o serviço bancário se populariza. Entre 2004 e 2011, o número de terminais no país subiu de 32 mil para 182 mil - alta de 468%, com equipamentos em postos de combustíveis, shoppings e outros estabelecimentos.

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A punição para roubo varia de quatro a 15 anos de prisão. E os ataques a caixas eletrônicos são enquadrados como furto qualificado (chamado de arrombamento), porque não há ameaças a pessoas. Nesses casos, a pena vai de um a oito anos de cadeia. Se vier a ser condenado, o criminoso ingressa no regime semiaberto. Como não há unidades com vagas, os apenados acabam voltando para casa, com tornozeleiras eletrônicas ou em prisão domiciliar, o que, na prática, pouco difere da liberdade absoluta.

- Assumimos em abril de 2013. Desde então, prendemos 200 pessoas. Acredito que grande parte esteja nas ruas - lamenta o delegado Joel Wagner, da Delegacia de Repressão a Roubos e Extorsões, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).

A situação é tão preocupante que policiais civis e militares de todo o Brasil, além de integrantes do Exército, vêm discutindo medidas de repressão desde o ano passado, em reuniões periódicas, em Brasília.

Uma das propostas é alterar o Código Penal, equiparando a pena de furto com uso de explosivos à punição por roubo. Outra sugestão prevê criação de lei específica para esse tipo de crime e regras mais rígidas para quem armazena e trabalha com explosivos. Hoje, segundo o delegado Wagner, quem é preso com dinamite responde por porte ilegal de arma de uso restrito, com penas entre três e seis anos de prisão.

Casos seguem em alta em 2015

Os ataques a caixas eletrônicos entraram 2015 em ritmo alucinante. Até 10 de março, a polícia contabiliza 14 crimes, média de um caso a cada cinco dias.

Somente no feriadão de Carnaval (entre 14 e 17 de fevereiro), ocorreram sete casos em seis cidades. Foram arrombamentos na Capital, em Novo Hamburgo, um furto com maçarico em Taquara e tentativas em Parobé e em Cachoeirinha. Em Vale Verde, no Vale do Rio Pardo, uma quadrilha explodiu a agência do Banrisul e tentou dinamitar a do Sicredi.

Em 1º de março, ocorreram explosões em agências do Banco do Brasil e do Banrisul de Barão, no Vale do Caí. Entre os dias 6 e 8, quadrilhas arrombaram com maçaricos bancos em Planalto, Jaguarão, Ivoti e Santo Antônio da Patrulha. No último sábado, também ocorreu o mesmo tipo de ataque em Barão do Triunfo e, no domingo, em Esteio.

- Desde o primeiro dia de 2015, estamos em ação. Naquela manhã, prendemos parte do bando que horas antes explodiu o Banco do Brasil em General Câmara - enfatiza o delegado Joel Wagner, da Delegacia de Repressão a Roubos e Extorsões do Deic.

Duas mulheres foram flagradas em Canoas com material de uma quadrilha que fez sete ataques em 2014. A polícia apreendeu dois fuzis, espingarda, munição, 15 quilos de explosivos, cordel detonante, coletes à prova de balas, miguelitos e dois carros. Integrantes do bando estão com prisão preventiva decretada pela Justiça.

Bancos investem, mas bancários cobram mais

Os bancos garantem investir em tecnologia para dificultar a ação dos ladrões. Prejuízos com arrombamento causam "extrema preocupação", afirmou em nota a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Os bancários cobram medidas mais efetivas.

Segundo informa a Febraban, "os bancos investem constantemente em tecnologia e outras formas para aperfeiçoar seus mecanismos de segurança". Dispositivos que mancham de tinta notas de dinheiro e soltam fumaça em caso de os caixas serem danificados ou explodidos são exemplos.

A federação afirma que investe cerca de R$ 20 bilhões por ano em tecnologia de proteção.

- Há necessidade dos bancos investirem muito mais, de aumentar a fiscalização do Exército com empresas que usam explosivos e maior ação policial de monitoramento de quadrilhas - afirma Lúcio Paz, diretor jurídico do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, integrante do Coletivo Nacional de Segurança Bancária.

A Associação dos Bancos no RS (Asbancos) afirma que tem estudado alternativas junto à Secretaria de Segurança Pública e acompanha as diretrizes da Febraban.

*Colaborou Carlos Ismael Moreira


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