Notícias



Medo na saúde

Aumento da violência em hospitais assusta funcionários e pacientes

Preocupados com o problema, administradores reclamam que serviços de saúde estão "desaparelhados" para fiscalização

27/03/2015 - 16h26min

Atualizada em: 27/03/2015 - 16h26min


Fernanda da Costa
Enviar E-mail

Não foi difícil para um homem agredir a ex-companheira no hospital onde ela faria um exame e assassiná-la em frente ao local, em Venâncio Aires, no último domingo. Também não enfrentaram barreiras para entrarem armados em um hospital de Porto Alegre os quatro homens que balearam um agente penitenciário, na última semana.

Hospitais precisam controlar melhor entrada de visitantes, dizem especialistas

O controle do ingresso nesses locais é tão precário que, ano passado, uma mulher conseguiu sair tranquilamente de um hospital da Capital levando um recém-nascido. Cada vez mais comuns, casos de violência em serviços de saúde têm assustado trabalhadores e pacientes e alertado gestores.

Um levantamento feito por Zero Hora mostrou que foram registrados pelo menos 16 casos de homicídio, tentativa de homicídio, agressão ou invasão em unidades de saúde desde 2011, uma média de 3,2 ocorrências por ano.

Foram seis casos apenas em 2014, o triplo do ano anterior. Das seis ocorrências registradas ano passado, metade corresponde a homicídios. Ou seja, três pacientes perderam a vida nos locais onde recebiam atendimento médico. A Secretaria de Segurança Pública do Estado afirmou não ser possível levantar os dados, por serem muito específicos.

Na linha do tempo, relembre os últimos casos no RS:


No infográfico, veja a evolução dos casos ano a ano
:



Para o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes, a indignação diante da insegurança na área é resumida em uma frase:

- Os serviços de saúde são terra sem lei.

Há anos convivendo com problemas como assassinato de pacientes, agressões e invasões em hospitais e postos de saúde, o Simers peregrina em órgãos públicos pedindo providências. Argollo comenta que foram feitas várias reuniões com os antigos comandos da Brigada Militar e da Secretaria de Segurança Pública, todas sem que houvesse medida prática para combater a violência nos serviços de saúde. Com a troca de governo, o presidente do sindicado planeja bater nas mesmas portas atrás de mudanças. As reuniões devem ser realizadas nos próximos dias. 

- Todo mundo sabe que é muito fácil invadir hospitais e postos de saúde e ainda sair impune. Defendemos há anos que os postos de saúde precisam de dois policiais militares na porta. São locais inseguros, onde há muitos tumultos - relata Argollo.

Conforme um levantamento do sindicato, desde 2006, houve pelo menos 75 casos de violência em serviços de saúde. A pesquisa envolve assassinatos, assaltos, furtos, invasões, agressões, ameaças e dano ao patrimônio em hospitais e postos de saúde. 

- Há um clima geral de insegurança que pode ser resolvido, mas depende da vontade do poder público - relata o presidente.

Além da ausência de policiamento, há um segundo problema grave que contribui para a insegurança nos serviços de saúde, segundo Argollo: a irresponsabilidade dos gestores ao sobrecarregar profissionais de trabalho. Isso acaba acirrando os ânimos de quem passa horas esperando por atendimento, o que muitas vezes motiva tumultos e agressões, explica o presidente.

Leia as últimas notícias do dia

Hospitais dizem estar "desaparelhados" para fiscalização

O problema tem preocupado administradores. Conforme a Alcides Pozzobon, assessor da presidência da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Estado (Fehosul), uma das carências na área é a falta de uma normatização que especifique a operação do setor de segurança dos serviços de saúde, o que dificulta a atuação das entidades.

Segundo Pozzobon, casos violentos fizeram estabelecimentos implantarem ou melhorarem sistemas de cadastro de visitantes, mas isso não impede que eles entrem com armas escondidas, já que não há regras para revistas. 

- Nos sentimos desaparelhados para fiscalizar - desabafa.

Conforme o assessor, a Fehosul tem conscientizado os administradores sobre a importância de capacitar funcionários, com objetivo de minimizar a violência. 

-  O futuro para a área de hospitais é incluir segurança no treinamento, mas isso representaria maiores custos - explica.

Zero Hora tenta contato com o comando da BM desde quarta-feira, mas não havia recebido retorno até o horário de publicação desta reportagem.

Divulgação / MPRS
No último domingo, mulher foi morta em frente ao Hospital São Sebastião Mártir, em Venâncio Aires

| Create infographics


MAIS SOBRE

Últimas Notícias