Segurança pública
Diário Gaúcho percorre 26 ruas de Porto Alegre e encontra só dois PMs a pé
Reportagem rodou 330km em dois dias, cruzou por nove viaturas, mas por apenas uma dupla de policias militares caminhando
Quando se fala em segurança pública, uma das principais queixas dos porto-alegrenses é a falta de policiais militares nas ruas - o chamado policiamento ostensivo. A reportagem do Diário Gaúcho percorreu 330km em dois dias desta semana - passando por vias das zonas Sul, Leste e Norte - para conferir a presença de PMs. O levantamento não tem rigor científico, mas sua conclusão segue a linha das reclamações da população.
Na terça-feira, a reportagem andou por 15 ruas e avenidas em seis horas e meia: neste trajeto, encontramos quatro viaturas (circulando na Bento Gonçalves, na Antônio de Carvalho e na Edgar Pires de Castro e uma estacionada na Ipiranga, em frente ao Palácio da Polícia) e nenhum PM a pé.
No dia seguinte, passamos por 11 vias - havia dois PMs a pé na Getúlio Vargas, uma viatura estacionada na Otto Niemeyer e outra circulando pela Cavalhada. Na Getúlio Vargas, havia cinco policiais de moto, acompanhando uma manifestação. Fora das ruas do trajeto, deparamos com outras três viaturas (duas circulando e uma estacionada fazendo policiamento).
De acordo com o presidente da Associação Beneficente Antonio Mendes Filho (Abamf), Leonel Lucas, uma das razões para os poucos PMs vistos nas ruas é o déficit histórico de efetivo da Brigada Militar.
- O segundo motivo é que o governo de agora cortou 40% das horas extras. E atinge Porto Alegre. Tinha batalhões que recebiam mil horas extras e, hoje, recebem apenas cem - diz Leonel.
A entidade representa os soldados da corporação.
"Efetivo é suficiente"
Titular do Comando de Policiamento da Capital (CPC), o tenente-coronel Mario Yukio Ikeda ressalta que, para avaliar o número de viaturas nas ruas, é necessário fazer uma comparação com a extensão do município, onde 330 quilômetros significa uma amostra:
- Pelo tamanho da cidade, vamos ver que tem bastante viaturas atendendo, que a cidade está bem patrulhada.
Em relação aos PMs que fazem o patrulhamento caminhando, o oficial salienta que é priorizado o horário comercial (a reportagem fez o teste a partir da metade da tarde) e em regiões centrais.
- Principalmente na região central tem mais policiamento a pé, porque a população está mais a pé - diz o oficial.
Por uma questão estratégica, o comandante não divulga qual é o efetivo, mas garante que "é suficiente para garantir a segurança da população de Porto Alegre" e que o atendimento de ocorrências pelo 190 é prioridade para a corporação.
Veja no mapa as ruas percorridas pela reportagem
Queixas de falta de policiamento
A sensação de insegurança da população se reflete em suas reclamações: moradores de diferentes regiões da Capital que conversaram com a reportagem dizem que até veem viaturas circulando, mas sentem falta da presença do policial militar a pé.
- A gente vê passando a pé uma vez por dia, normalmente. Mas aquele policiamento ostensivo, a presença permanente, não existe - diz o comerciante Vasquinho Lorenzi, 63 anos, da Avenida Getúlio Vargas, no Bairro Menino Deus. Ele já foi assaltado seis vezes.
A queixa é semelhante a de outro comerciante, na Rua Wolfram Metzler, no Rubem Berta, onde há uma unidade do Território da Paz.
- A polícia só circula de carro. Se olhares, todo o bairro tem grade - reclama o homem, que pediu para não ser identificado.
Na Zona Sul, a situação não é muito diferente. Dono de uma loja na Avenida Otto Niemeyer, Airton Moraes, 62 anos, afirma que a insegurança já foi tema de reuniões com autoridades da segurança pública.
- Tem gente contratando segurança particular. No final da tarde, tem viatura aqui, mas no restante do dia é raro.
*Diário Gaúcho