Polícia



Conto do vigário

Golpe do bilhete falso segue fazendo vítimas em Porto Alegre

Mulher de 76 anos foi enganada por dupla de vigaristas que aplicaram truque da loteria premiada

26/03/2015 - 14h53min

Atualizada em: 26/03/2015 - 14h53min


Cristiane Bazilio
Cristiane Bazilio
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Cristiane Bazilio / Agência RBS
Idosa teve prejuízo de R$ 13 mil

- O sermão da igreja, no dia anterior, falava em ajudar o próximo. Ao longo da tarde, eu contei todo o evangelho para aquela coitada que parecia precisar de ajuda.

Em lágrimas, uma idosa de 76 anos tentava explicar como caiu num golpe antigo, mas que ainda faz muitas vítimas: o bilhete premiado. Na manhã de segunda-feira, a aposentada foi abordada por duas estelionatárias que, durante cerca de quatro horas, a fizeram percorrer bancos, efetuar saques e fazer um empréstimo pessoal. Em troca, receberia uma parcela de um suposto prêmio da loteria federal. Ao final da tarde, o prejuízo financeiro era de R$ 13 mil, e o emocional, incalculável.

- As marcas vão ficar em mim para sempre. Como eu não percebi antes? - lamenta a idosa.

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O golpe começou por volta do meio-dia. Uma mulher abordou a senhora dizendo que era do Interior, analfabeta, e que não sabia andar na Capital. Mostrava um bilhete de loteria e dizia que tinha sido orientada a ir em uma agência da Caixa, pois teria direito a prêmio de R$ 1,5 milhão.

- Outra mulher apareceu. Muito bem vestida, usando joias. Se ofereceu para ajudar, fez uma ligação de celular. Um homem se dizia funcionário da Caixa. Disse que, se a dona do bilhete era analfabeta, eu e a outra mulher deveríamos acompanhá-la. Foi aí que entrei no carro dessa mulher - relata a vítima.

Dentro do carro, continuou a farsa. Se retirasse o prêmio, prometia a mulher, daria R$ 100 mil a cada uma das duas. Para garantir que era uma pessoa de bem, a comparsa fingiu entrar em um banco e voltou com um bolo de falsos dólares. Exigiram que a senhora fizesse o mesmo. Sob pressão, nervosa e atordoada, acabou cedendo:

- Elas falavam sem parar, me tontearam. Me deram água e, assim que tomei, passei mal. Acho que me doparam. Depois de limpar a conta da vítima, as vigaristas a largaram em um posto de gasolina e sumiram.

Principal alvo são mulheres

Só na 2ª DP da Capital, são 16 registros desse golpe nos últimos três meses, garante o delegado César Carrion.

- O perfil das vítimas é invariavelmente o mesmo: mulheres idosas. Na maioria das vezes, a ganância alimenta esse tipo de golpe, mas também se aproveitam da fragilidade do idoso, apelam para o emocional - explica o delegado.

Ele destaca ainda que estes criminosos estão cada vez mais ousados.

- Agora, eles colocam a vítima em um carro e circulam com ela, entram nas agências, ajudam a sacar o dinheiro. Também é comum darem água para a vítima. Ainda não tivemos confirmação, mas é possível que esteja batizada para dopar - afirma.

Como os criminosos agem

* A vítima é abordada na rua por uma pessoa malvestida que diz ser do Interior e que precisa ir a um banco. Outra pessoa, bem vestida, chega, como quem quer ajudar.

* A malvestida informa ter um bilhete premiado e que não pode ir ao banco, pois está sem documentos. A bem vestida faz falsa consulta (via celular) e confirma que o bilhete é premiado.

* A malvestida diz que dará parte à vítima e à bem vestida (seu comparsa) se forem ao banco trocá-lo. Mas pede dinheiro como garantia de boa-fé.

* O comparsa, na frente da vítima, entrega à dona do bilhete uma quantia e encoraja a vítima a fazer o mesmo.

* O trio vai à agência da vítima e a orienta a sacar o que tem em conta e a fazer empréstimos rápidos.

* Em seguida, dão um jeito de despistar a vítima e somem com o dinheiro.

Diário Gaúcho


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