Conto do vigário
Golpe do bilhete falso segue fazendo vítimas em Porto Alegre
Mulher de 76 anos foi enganada por dupla de vigaristas que aplicaram truque da loteria premiada
- O sermão da igreja, no dia anterior, falava em ajudar o próximo. Ao longo da tarde, eu contei todo o evangelho para aquela coitada que parecia precisar de ajuda.
Em lágrimas, uma idosa de 76 anos tentava explicar como caiu num golpe antigo, mas que ainda faz muitas vítimas: o bilhete premiado. Na manhã de segunda-feira, a aposentada foi abordada por duas estelionatárias que, durante cerca de quatro horas, a fizeram percorrer bancos, efetuar saques e fazer um empréstimo pessoal. Em troca, receberia uma parcela de um suposto prêmio da loteria federal. Ao final da tarde, o prejuízo financeiro era de R$ 13 mil, e o emocional, incalculável.
- As marcas vão ficar em mim para sempre. Como eu não percebi antes? - lamenta a idosa.
O golpe começou por volta do meio-dia. Uma mulher abordou a senhora dizendo que era do Interior, analfabeta, e que não sabia andar na Capital. Mostrava um bilhete de loteria e dizia que tinha sido orientada a ir em uma agência da Caixa, pois teria direito a prêmio de R$ 1,5 milhão.
- Outra mulher apareceu. Muito bem vestida, usando joias. Se ofereceu para ajudar, fez uma ligação de celular. Um homem se dizia funcionário da Caixa. Disse que, se a dona do bilhete era analfabeta, eu e a outra mulher deveríamos acompanhá-la. Foi aí que entrei no carro dessa mulher - relata a vítima.
Dentro do carro, continuou a farsa. Se retirasse o prêmio, prometia a mulher, daria R$ 100 mil a cada uma das duas. Para garantir que era uma pessoa de bem, a comparsa fingiu entrar em um banco e voltou com um bolo de falsos dólares. Exigiram que a senhora fizesse o mesmo. Sob pressão, nervosa e atordoada, acabou cedendo:
- Elas falavam sem parar, me tontearam. Me deram água e, assim que tomei, passei mal. Acho que me doparam. Depois de limpar a conta da vítima, as vigaristas a largaram em um posto de gasolina e sumiram.
Principal alvo são mulheres
Só na 2ª DP da Capital, são 16 registros desse golpe nos últimos três meses, garante o delegado César Carrion.
- O perfil das vítimas é invariavelmente o mesmo: mulheres idosas. Na maioria das vezes, a ganância alimenta esse tipo de golpe, mas também se aproveitam da fragilidade do idoso, apelam para o emocional - explica o delegado.
Ele destaca ainda que estes criminosos estão cada vez mais ousados.
- Agora, eles colocam a vítima em um carro e circulam com ela, entram nas agências, ajudam a sacar o dinheiro. Também é comum darem água para a vítima. Ainda não tivemos confirmação, mas é possível que esteja batizada para dopar - afirma.
Como os criminosos agem
* A vítima é abordada na rua por uma pessoa malvestida que diz ser do Interior e que precisa ir a um banco. Outra pessoa, bem vestida, chega, como quem quer ajudar.
* A malvestida informa ter um bilhete premiado e que não pode ir ao banco, pois está sem documentos. A bem vestida faz falsa consulta (via celular) e confirma que o bilhete é premiado.
* A malvestida diz que dará parte à vítima e à bem vestida (seu comparsa) se forem ao banco trocá-lo. Mas pede dinheiro como garantia de boa-fé.
* O comparsa, na frente da vítima, entrega à dona do bilhete uma quantia e encoraja a vítima a fazer o mesmo.
* O trio vai à agência da vítima e a orienta a sacar o que tem em conta e a fazer empréstimos rápidos.
* Em seguida, dão um jeito de despistar a vítima e somem com o dinheiro.
Diário Gaúcho