Polícia



Confronto entre grupos

Guerra de bondes assusta Guaíba

Depois das mortes de dois adolescentes, moradores da Cohab, comunidade vive dias de tensão

17/03/2015 - 19h22min

Atualizada em: 17/03/2015 - 19h22min


Eduardo Torres / Diário Gaúcho
Em um dos becos da Rua Seis, onde VL foi morto, já houve uma debandada

- Na escola era um santo, mas do portão para fora, era como um herói para essa gurizada.

Aos 15 anos, D. S., executado a tiros na noite de domingo, era um símbolo dos bondes que agora mantêm o clima de tensão na comunidade, conforme descreve uma moradora do Bairro Cohab, em Guaíba. Segundo a mulher, de 46 anos, que vive há 20 no bairro, a violência não é propriamente uma novidade. O perfil é que apavora.

- A gente vê guri de 12 ou 13 anos já com arma na mão - diz.

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Filho de um homem apontado pela polícia como um dos traficantes do bairro, mesmo tão jovem, D. S. já tinha passagens policiais por furto e roubo a pedestre.

De acordo com a polícia, a morte dele revela um confronto entre dois bondes do bairro, que teria se iniciado com uma briga em uma festa na noite de sexta. D. S. e outro adolescente, conhecido como VL, 15 anos, teriam trocado socos. Na noite de sábado, os dois teriam se encontrado em uma das esquinas da Rua Seis. VL foi baleado e teria relatado aos PMs que D. S. era o autor dos tiros. O garoto não resistiu aos ferimentos e morreu no hospital. Horas depois, em uma possível vingança, D. S. foi executado na Avenida C.

- São grupos de adolescentes destemidos, que veem a necessidade de ostentar com roupas de marca. Eles acabam recrutados por criminosos e, com armas na mão, tornam as brigas entre eles ainda mais violentas. Não se pode dizer que seja um confronto motivado pelo tráfico, mas é inegável a influência disso - afirma a delegada Sabrina Dóris Teixeira, da DP de Guaíba.

Os dois bondes são do bairro. Por isso, o medo tomou conta da vizinhança. Moradores relatam que ninguém sai para a rua depois das 22h. Em um dos becos da Rua Seis, onde VL foi morto, já houve uma debandada. Pelo menos quatro famílias foram para casas de parentes até que as coisas se acalmem. Todos esperam que o grupo rival apareça para vingar a execução de D. S.

- O que dizem que é eles vão invadir isso aqui. Nós estamos entregues, porque a Brigada só aparece quando acontece alguma coisa - critica um morador de 25 anos.

A polícia desconhece que a comunidade esteja sob toque de recolher. Mas, na manhã desta terça-feira, quando normalmente a criançada estaria jogando bola na pracinha da Rua Seis, o local estava deserto. E as ruas, silenciosas.

Até a tarde desta terça-feira, a polícia ainda tentava localizar as famílias dos dois adolescentes para depoimentos. Nenhuma delas procurou a delegacia após as mortes.

Escola fechou em luto

Fazia apenas 15 dias que D. S. havia voltado a estudar. Foi a avó quem procurou a direção da Escola Estadual de Ensino Fundamental Carmem Alice Laviaguerre em busca de uma vaga para o menino, como uma nova chance. Ele frequentava uma das turmas do EJA, equivalente ao quinto ano do ensino fundamental, e, segundo a direção da escola, não apresentava problemas.

Na segunda-feira, a escola ficou fechada. De acordo com a direção, era em sinal de luto e respeito pela família do adolescente. Na terça-feira, o colégio funcionou normalmente.

*Diário Gaúcho


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