Notícias



Caso Bernardo

Vigília, alegação de inocência e silêncio: o dia de depoimentos em Três Passos

Pela primeira vez, os quatro principais suspeitos de terem participado da morte do menino falaram à Justiça

27/05/2015 - 20h24min

Atualizada em: 27/05/2015 - 20h24min


Débora Ely
Débora Ely
Enviar E-mail
Ricardo Duarte / Agencia RBS

A cidade que chorou a morte de Bernardo amanheceu cinza e chuvosa nesta quarta-feira - o dia em que os quatro principais suspeitos de terem cometido o crime falaram à Justiça de Três Passos.

Os pedidos de socorro do menino extraídos de uma gravação ecoaram pelo centro da cidade junto a um apitaço desde o início da manhã - e ganharam volume por volta das 9h30min, quando o pai Leandro Boldrini, a madrasta Graciele Ugulini e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz chegaram ao Fórum saídos de viaturas da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).

Veja o que cada réu do Caso Bernardo falou durante audiência

- A chuva dessa noite não foi em vão. Foram as lágrimas para o Bê - disse a cuidadora hospitalar Rosane Lange, 50 anos, que estava na vigília armada em frente ao Judiciário.

Cerca de 50 pessoas participaram da homenagem que teve música, oração e distribuição de lembranças com terços da cor azul - mais uma lembrança ao menino, que era coroinha na igreja que frequentava. Entre os participantes, a maioria era morador de Três Passos, convivia com Bernardo e conhecia os episódios de negligência protagonizados pelo pai e pela madrasta à criança. Mas teve quem se deslocou de longe.

Saiba o que acontece agora com os réus do Caso Bernardo

Agricultoras e moradoras de cidades vizinhas, Tânia Mate, 39, e Lovaine Puhl, 53, se conheceram pelos grupos do Facebook que mantêm viva a memória do menino. Elas nunca haviam se encontrado pessoalmente, mas decidiram, juntas, participar da vigília. Moradoras de Espumoso e Tapejara, respectivamente, viajaram cerca de quatro horas para se fazerem presente no ato.

- Aprendi a amá-lo como se fosse meu filho - garantiu Tânia, com os olhos marejados.

Evandro diz que não abriu a cova: "Eu estava pescando"

Evandro foi o primeiro réu a chegar ao Fórum, seguido de Leandro, Graciele e Edelvânia. Os quatro desceram já no estacionamento do prédio e, algemados, subiram diretamente para as salas onde permaneceram separados durante todo o dia.

Escoltados por agentes penitenciários, tiveram um deslocamento distante das lentes da imprensa e rápido - mas com tempo necessário para que se ouvisse os gritos de quem se empilhava nas grades do portão: "assassino" e "justiça" eram as palavras mais ouvidas. A Brigada Militar garantiu que não foi necessário chamar reforço para o dia da audiência, mas pelo menos 15 policiais acompanharam os depoimentos de dentro do prédio.

Veja como foi o dia de depoimentos em Três Passos:

O depoimento de Leandro foi o primeiro - e, também, o mais demorado. O médico falou por pouco mais de três horas. Denunciado por homicídio triplamente qualificado pela morte da criança, ele negou envolvimento no crime e garantiu que foi "traído" pela mulher, Graciele.

- Estou destruído, perdi meu filho. Estou na UTI, com tubo, em coma. Estou nocauteado na lona - disse, pedindo clemência ao juiz.

Boldrini nega envolvimento na morte e acusa madrasta: "Ela me traiu"

Leandro calçava tênis sem cadarços e vestia calça jeans e um blusão bege sob o colete à prova de balas. Gerou comentários na plateia a magreza do médico - as mangas sobravam sobre seus braços -, mesma impressão deixada por Graciele. De cabeça baixa, a madrasta entrou na sala e sequer respondeu às perguntas iniciais feitas pelo juiz Marcos Luís Agostini: nome, profissão e endereço, por exemplo.

- A senhora esqueceu a sua profissão? - quis saber o magistrado.

Depois, Graciele falou em voz tão baixa que foi impossível ouvi-la da plateia. Ela usou do direito assegurado por lei de permanecer em silêncio e, assim, nada disse. A mesma garantia foi requisitada por Edelvânia:

- Eu vim à força. Não tinha condições, estou fazendo tratamento. Só vou falar no dia do júri - assegurou, em voz alta e clara.

Réus são recepcionados com gravação de Bernardo pedindo socorro

Do lado de fora da sala de audiência, seguia a vigília, mas com adesão inferior à da manhã. Ao longo do dia, curiosos paravam embaixo da tenda para dividir solidariedade principalmente à família Petry, que acolheu Bernardo nos momentos de ausência da família e por quem o menino gostaria de ter sido adotado.

Se Edelvânia repetiu Graciele e permaneceu calada, Evandro fez como Leandro e negou envolvimento na morte do garoto. O motorista é apontado como o autor do buraco cavado à beira de um rio onde Bernardo foi enterrado - ele garante que estava na localidade pescando na ocasião. Durante o depoimento de Evandro, da sala de audiência ouviu-se a mesma gritaria armada na chegada dos réus. Eram Graciele e Edelvânia deixando o local sob os berros de parte da população.

Leia todas as notícias do Caso Bernardo

Antes das 17h, os depoimentos tiveram fim, e as tendas armadas para a vigília foram desarmadas. Era Três Passos retomando a rotina após um dia crucial no caso que marcou a história da cidade do Noroeste gaúcho - e havia voltado a chover.

Veja imagens do dia em Três Passos:

 


MAIS SOBRE

Últimas Notícias