Geral e Polícia



Abuso sexual e estupro

Crianças são as vítimas preferenciais dos criminosos sexuais

Dos 53 casos registrados em Santa Maria neste ano, 48 foram contra crianças ou adolescentes

01/08/2015 - 07h07min

Atualizada em: 01/08/2015 - 07h07min


Naion Curcino
Naion Curcino
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Salmo Duarte / Agencia RBS

Por sua vulnerabilidade, as crianças são recorrentes de criminosos sexuais. E a psicóloga Liége Suptitz alerta que os pais reforcem o cuidado não apenas com estranhos, já que a estimativa é que 90% dos abusos sejam cometidos por familiares ou pessoas muito próximas da vítima.

_ A vulnerabilidade da criança lhe torna um alvo. Os familiares ou conhecidos têm um acesso fácil a vítima. No imaginário social, pessoas da família ou conhecidos não seriam capazes de cometer a violência sexual contra crianças e os agressores se utilizam dessas crenças como facilitadoras _ explica Jean Von Hohendorft, doutorando em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pela University of Alabama, autor do livro Violência Sexual Contra Menino.

Por não saber como agir _ e, por muitas vezes, ser ameaçada ou convencida pelo agressor de que aquela é uma situação aceitável _ o abuso sexual pode gerar uma cadeia de ocorrências traumáticas e clandestinas, que alimentam as chamadas síndromes de Segredo e de Adição. 

Na síndrome de adição, o perpetrador tenta convencer a vítima de que seu ato, mesmo que social e eticamente condenável, é uma doença ou vício. Já a do segredo é alimentada pelo violador por meio de ameaças _ das físicas até perturbação psicológica, como afirmar que as revelações da vítima seriam responsáveis pela destruição da família.

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Já que elas não falam "com todas as letras" o que está acontecendo, é importante que familiares, vizinhos e professores prestem atenção aos sinais que as vítimas podem demonstrar.

_ A ansiedade de estar sempre vigilante consome toda a energia da criança e ela não consegue foca sua atenção em sala de aula, por exemplo. Caso se confirme a ocorrência, é preciso notificar os órgãos responsáveis e é preciso manter a calma, dizer para a criança que acredita nela e que a culpa pelo ocorrido não é dela _ acrescenta Von Hohendorff.

Dar crédito ao que conta a criança também é essencial.

_ No momento da revelação do abuso sexual, algumas crianças são desacreditadas, rotuladas de mentirosas. Crianças não mentem sobre abuso sexual. É imprescindível dar credibilidade ao discurso da vítima e tomar providências para protegê-la e apoiá-la _ acrescenta Liége

Segundo os especialistas, a família, em parceria com os serviços de uma rede de assistência em saúde mental, a criança pode resgatar e edificar possibilidades de elaboração da vivência traumática.


Conheça o perfil de agressores, como identificar se uma criança ou adolescente sofre em silêncio e quais as melhores formas de tratar sobre o assunto.

A fragilidade que o crime sexual imputa à vítimas - sejam elas adultas ou menores de idade - exige um atendimento especializado. Isso porque a frieza de procedimentos técnicos, como depoimentos e exames físicos, podem significar uma nova violência. Por isso, em unidades especializadas, como a Delegacia da Mulher e a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), a primeira atitude é confortar a vítima. Depois vem a busca por indícios, pistas, testemunhas e provas que incriminem o abusador ou estuprador.

- A vítima não pode sofrer uma vitimização secundária. Por isso, a primeira providência que tomamos é encaminhá-la para acompanhamento psicológico. Depois, um parecer do profissional é remetido e anexado ao inquérito - explica a titular da DPCA, Carla Dolores Castro de Almeida.

- A polícia tem de ter essa capacidade e tentar minimizar o problema para não revitimizar essa pessoa, tendo que relembrar os fatos - afirma o delegado regional de Polícia Civil, Sandro Meinerz.

Por sugestão da Promotoria da Infância e da Juventude, desde 23 de julho, o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) organiza uma equipe especializada para o atendimento de vítimas de violência sexual. O plano é que os profissionais sejam capacitados para detectar até os casos não são declarados pelas vítimas.

- Temos que ser capazes de perceber não só por sintomas físicos, mas também por mudanças comportamentais  - diz a Enfermeira Verginia Rossato, do Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Husm.

A cada ano, em média, 30 pessoas buscam o Husm relatando casos de violência sexual. Com a implantação do serviço, elas serão acolhidas no pronto-socorro, atendidas e encaminhadas para fazer boletim de ocorrência policial e coleta de material biológico no Posto Médico Legal. A equipe será composta por ginecologista, pediatra, psicólogo, enfermeiro e assistente social.


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