Bala Perdida
Guerra do tráfico deixa crianças na rota de balas perdidas em Porto Alegre
Menina de dez anos e um menino de sete foram baleados em menos de 15 minutos na terça
Em um intervalo estimado em 15 minutos, uma menina de dez anos e um menino de sete foram baleados em Porto Alegre, no final da tarde de terça-feira. Eles não correm risco de morte, mas engrossam as estatísticas de vítimas de balas perdidas na Região Metropolitana.
Um adolescente é assassinado a cada três dias. Estas são as histórias deles
Foram duas ocorrências distintas, uma na Zona Norte e outra na Zona Sul. Mas, em ambas, as crianças ficaram sob o fogo cruzado da guerra do tráfico. Em um dos casos, um jovem foi morto e outras duas pessoas também ficaram feridas.
Por volta das 18h15min, na Vila Cruzeiro do Sul, na Zona Sul, duas meninas de dez anos brincavam na rua quando ouviram o som de tiros. Imediatamente, trataram de se esconder. Foi no local que escolheram como refúgio que uma delas percebeu que escorria sangue de sua perna.
- Eu não tinha sentido. Mas quando vi que tinha sangue na minha perna, eu disse pra minha amiga que eu tinha levado um tiro. Ela disse que era pra gente esperar acalmar (cessarem os tiros) para a gente pedir ajuda - contou a menina atingida.
O tiro atingiu a coxa esquerda da criança. A menina foi levada pelos pais ao Postão da Cruzeiro, de onde ela foi removida para o HPS. Ontem, já se recuperava em casa, juntamente com a família.
- A gente procura fechar os olhos para as coisas que acontecem por aí, mas, mesmo assim, por pouco não tivemos uma desgraça na família - disse o pai.
A Vila Cruzeiro é um dos pontos mais tensos e disputados na guerra do tráfico na Capital.
Criança havia saído para brincar
Foto: Mateus Bruxel
No outro caso, ocorrido cerca de 15 minutos antes, um menino de sete anos levou um tiro na canela direita, em sua casa, na Rua Egídio Piccoli, no Bairro Jardim Protásio Alves, Zona Norte. Os criminosos teriam chegado de carro ao local e, sem sair dele, efetuado vários disparos. Além da criança, outras três pessoas foram atingidas pelos tiros. Uma delas, o jovem Lucan Jian Coimbra, 21 anos, morreu no local.
Os feridos foram levados ao Hospital Cristo Redentor. Ontem, à noite, o menino permanecia hospitalizado.
A área onde ocorreu esse crime é uma das mais deflagradas pela guerra do tráfico na Capital, e a Rua Egídio Piccoli é considerada estratégica para o domínio da região. Bem próximo dali, na chamada Vila Esqueleto, no dia 9 de agosto, um domingo, três pessoas foram executadas.
Os casos das duas crianças baleadas na terça-feira aumentam as estatísticas das crianças atingidas por balas perdidas na guerra do tráfico na Região Metropolitana. Neste ano, foram registrados outras quatro casos que, diferentemente desses dois, tiveram finais trágicos.
Crianças mortas por balas perdidas em 2015
- Laura Machado Machado, sete anos, morta em abril enquanto dormia, com um tiro de fuzil durante um tiroteio entre traficantes na rua em frente à sua casa, na Vila Nova.
- Richard Kaun de Souza, 8 anos, morto a tiros em maio quando criminosos invadiram a casa da avó, no Bairro Mathias Velho, em Canoas, para executar o seu tio.
- Luis Felipe da Silva, 9 anos, morto a tiros em julho por criminosos que passaram em frente à casa, na Vila Jardim, em Porto Alegre, e também balearam seu primo, de 17 anos.
- Monique Oliveira da Silva, 2 anos, morta com um tiro na cabeça em julho quando criminosos abordaram o carro do seu pai e o executaram. Acertaram ela de graça.
Total de crianças assassinadas na Região Metropolitana em 2015: 9 (5 em Porto Alegre, 2 em São Leopoldo, 1 em Canoas e 1 em Guaíba)
- Em 2014, foram quatro crianças mortas. Nenhuma por bala perdida.
- Em 2013, foram 10 casos (2 até agosto). Três por bala perdida.
* Diário Gaúcho