Porto Alegre



Violência

À espera da polícia, populares prendem homem no Menino Deus

Suspeito de tentar furtar carro foi agredido e imobilizado por civis

07/09/2015 - 14h08min

Atualizada em: 07/09/2015 - 14h08min


Gustavo Foster
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Vanessa Kannenberg / Uruguaiana
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Homem foi rendido e agredido por populares após ter supostamente tentado roubar carro no Menino Deus

Flagrado ao supostamente tentar furtar um carro no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, um homem identificado como Santiago da Costa, 32 anos, foi agredido e rendido por populares na manhã desta segunda-feira. No meio da tarde, ele foi encaminhado para atendimento no Hospital de Pronto-Socorro (HPS).

Segundo informações da Polícia Civil, Costa teve uma fratura no rosto e hematomas na cabeça e pelo corpo. O seu quadro de saúde é estável. Assim que receber alta, o suspeito será encaminhado para registro do flagrante no Palácio da Polícia. Ele deve responder por furto qualificado tentado.

O fato ocorreu na esquina da Avenida Ganzo com a Rua Vicente Lopes dos Santos. Uma moradora do bairro que não quis se identificar conta ter ouvido uma gritaria de "pega, pega" e visto a ação dos populares.

- Quando vimos, tinha uns três caras chutando, e ele foi para baixo do carro para não ser pego. O sentimento é de tristeza por não podermos sair no nosso bairro. Se a polícia não faz nossa segurança, a gente tem de fazer.

Santiago da Costa tem uma lista extensa de antecedentes criminais: receptações, roubos, furtos, lesões corporais, porte de arma e formação de quadrilha. O primeiro registro da ficha criminal do homem de 32 anos aconteceu ainda na adolescência. No Palácio da Polícia, a delegada Andréa Nicotti Gomes Ferreira disse que ele responderá por furto qualificado, sendo o agravante o fato de ter usado duas chaves falsas e conseguido abrir o carro:

- Agora, ele vai ser medicado, volta para cá e começa o procedimento de flagrante. Depois, vai para o Presídio Central.

A delegada afirma que a conduta dos agressores também será investigada. Se for configurado exagero, eles poderão responder criminalmente.

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BM demorou mais de uma hora para chegar ao local

Assim que o suposto ladrão foi rendido, a Brigada Militar (BM) foi chamada - como o atendimento demorou, populares ligaram para a Polícia Civil, que enviou, em cerca de meia hora, dois plantonistas para controlar a situação. Depois disso, a BM demorou ainda cerca de uma hora para enviar duas viaturas e cinco oficiais para dar conta da situação. No local, informaram que o pedido recém havia sido despachado.

Dono do veículo, o segurança particular Bruno Michel Gonçalves, 25 anos, disse não ter agredido o homem.

- Fui entrar no meu carro, e ele estava abrindo o veículo com uma chave micha. Me viu e tentou vir contra. Como sou ex-militar, fui imobilizá-lo, e ele acabou caindo e se machucou. O pessoal veio, mas a gente não deixou chegar perto.


Suposto assaltante é socorrido ao hospital. Foto: Ronaldo Bernardi

Cerca de 50 pessoas acompanharam a cena. Dentro do período de uma hora e 30 minutos que a BM demorou para chegar ao local, uma ambulância do Samu foi enviada para prestar os primeiros socorros ao suspeito, que apresentava lesões e sangrava no rosto e nos braços. Quando a ambulância chegou, ouviram-se gritos de protesto: "queremos Justiça", "onde está a polícia?" e "estão preocupados com a ambulância?". Os populares tentaram impedir a saída da ambulância, que tentava levar o homem, ferido, para o Hospital de Pronto-Socorro (HPS).

André Crasoves, que também mora nas proximidades, conta que é comum a ação de arrombadores, que seriam usuários de drogas. E a falta de policiamento seria costumeira.

- O pessoal está revoltado, mas exagera.

Gilberto Marques, securitário, acompanhou o protesto:

- Moro na Botafogo, estava vindo, passou um pessoal de bicicleta e gritou: "cuidado". A gente está aqui sempre no bairro, não tem horário para assalto e não tem polícia. Está tudo largado às traças.

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Jornalista, escritor e morador do Menino Deus, Rafael Guimaraens voltava do supermercado para casa, com a mulher, quando o suposto criminoso começou a ser perseguido.

- Ele jogou o ladrão no chão bem na nossa frente e começou a bater nele. Vieram outros dois, que não o conheciam, nem sabiam de nada, com muita disposição para agredir. Eu estava carregado de sacolas e disse: "vamos esperar a polícia". Não quiseram saber. Mas eu insisti: "na minha frente não vai ter linchamento!" - conta Guimaraens.

Segundo ele, outros moradores corroboraram o pedido dele, e, por isso, não houve linchamento. O escritor diz ainda que foi ameaçado por querer impedir que as agressões continuassem.

- Esse episódio é muito revelador dessa sensação de insegurança que às vezes não é só sensação, é insegurança mesmo. Acredito que o rapaz deva responder pelo crime, mas não ser assassinado por isso. Não justifica a violência - concluiu Guimaraens.

Veja mais imagens do episódio:


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