Violência na Vila Cruzeiro
Reabertura do Postão: prefeitura e comunidade dizem sim, médicos dizem não
Fechado desde a sexta-feira devido à violência, Pronto Atendimento poderá voltar a funcionar nesta segunda
Após três horas de manifestações e debates, o secretário municipal da Saúde, Fernando Ritter, servidores do Pronto-Atendimento Cruzeiro do Sul (Pacs) e moradores da região fizeram uma espécie de pacto para que a unidade de saúde seja reaberta nesta segunda-feira, a partir das 7h.
O Pacs está fechado desde a sexta-feira, quando dois episódios de violência foram registrados nas proximidade do local.
Cartaz anuncia o fechamento
Foto: Renato Dornelles
No início da tarde de sexta, um grupo de pessoas sofreu um ataque de submetralhadora - um morreu e sete ficaram feridos - numa rua atrás do Postão.
Carregando os feridos, moradores invadiram o Pronto Atendimento e teriam agredido funcionários, enquanto exigiam atendimento prioritário a seus familiares ou amigos.
Até mesmo Ademir Rodrigo Carpes, conhecido na região como Biquinha, que já estava morto, foi "atendido" e, depois, removido ao HPS, por exigência do grupo que invadiu o prédio.
Por volta das 20h também de sexta-feira, na frente de uma das entradas laterais do Pacs, três homens com toucas ninjas atearam fogo em um ônibus que fazia a linha Santa Tereza. Pelo menos quatro passageiros foram intoxicados pela fumaça.
Uma reunião entre o prefeito José Fortunati e o governador José Ivo Sartori foi agendada para as 10h desta segunda-feira, no Palácio Piratini, para tratar da questão da segurança pública na Capital.
Guarda Municipal
Durante a reunião desde domingo, realizada no próprio Pacs, além das autoridades, tiveram direito a fala dez representantes da comunidade e igual número de servidores.
Os moradores, de um modo geral, salientaram a necessidade de reabertura do Pasc para o atendimento da população local. Os funcionários, por sua vez, destacaram os problemas causados pela falta de segurança:
- Trabalho aqui há muitos anos, mas nunca havia visto funcionários serem agredidos, como na sexta-feira - disse uma das servidoras.
A Brigada Militar, que, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), recebeu convite oficial para participar da reunião, não enviou representantes. A corporação emitiu nota oficial garantindo que realiza um policiamento permanente na região da Cruzeiro do Sul.
Nota oficial da BM
Foto: Reprodução
Sem a garantia de policiamento da BM, os participantes acabaram optando por reabrir o posto nesta segunda-feira com policiamento da Guarda Municipal. À noite, no entanto, o comandante do Policiamento da Capital, tenente-coronel Mario Ikeda, garantiu que duas viaturas serão mantidas nas imediações do Pacs, enquanto a situação de insegurança perdurar.
Estrutura do Presidente Vargas
Porém, não há garantia de pleno funcionamento do posto. Simultaneamente à reunião da SMS com a comunidade, outra ocorria no Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), reunindo médicos e enfermeiros lotados no Pacs e a direção da entidade.
A posição retirada do encontro é a proposta, para a prefeitura, de que a estrutura e os funcionários do Pacs sejam transferidos ao Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas (HMIPV), no Bairro Independência, na Região Central da cidade.
No pedido, o Simers lembra que, além dos fatos ocorridos nesta sexta-feira, em novembro do ano passado um homem havia sido executado dentro do Pacs.
Na noite de domingo, o Simers ingressou com um pedido de liminar para que não ocorra a reabertura do Pacs.
No sábado, a entidade havia registrado na 2ª DPPA, no Palácio da Polícia, uma ocorrência relatando "a absoluta impossibilidade de atendimento" no Pronto Atendimento da Cruzeiro.
Ônibus desviados
O fechamento do Pacs durante a noite de sexta-feira e todo o final de semana não foi o único transtorno causado pela violência na região da Vila Cruzeiro. Já na sexta-feira, após o incêndio do ônibus, os veículos das linhas que atendem a região (Santa Tereza, Cruzeiro, Pereira Passos, Mariano de Matos, TV e Orfanotrófio) foram retirados de circulação.
Pessoas que retornavam da jornada de trabalho ou de turno escolar tiveram dificuldades para chegar em casa. Na faculdade Ritter dos Reis, localizada na Rua Orfanotrófio, no Bairro Alto Teresópolis, estudantes tiveram de recorrer a caronas.
Neste domingo, os ônibus circulavam, mas cinco linhas tiveram seus trajetos desviados para evitar a área de conflito: Santa Teresa, Cruzeiro, Pereira Passos, Mariano de Matos (do consórcio STS) e T3 (da Carris).
Prisão de suspeito
Em relação à tentativa de chacina, que resultou em uma morte de deixou sete feridos, no sábado, a polícia prendeu um suspeito de participação neste crime. Rodrigo de Lima Pinheiro, 31 anos, seria um dos atirados que chegou à Rua Nossa Senhora do Brasil, no Bairro Santa Tereza, em um carro branco, do qual foram feitos os disparos.
Rodrigo foi encontrado no Hospital de Alvorada, onde foi buscar atendimento devido a um tiro em uma das pernas. Ele teria sido baleado por um dos feridos, que reagiu ao ataque.
Seis dos sete feridos pelos atiradores seguem hospitalizados: três no HPS e três no Hospital Cristo Redentor. Pelo menos um deles, de acordo com a delegada Elisa Souza, titular da 6ª DHPP, não teria qualquer ligação com a criminalidade. Estaria "no lugar e na hora errados".
Ademir Rodrigo Carpes, o Biquinha, que morreu, segundo o que levantou a polícia, seria o líder do tráfico de drogas no local onde ocorreu a tentativa de chacina.