Estilo Al Capone
Como funcionava o esquema de lavagem de dinheiro da quadrilha de Xandi, que movimentou R$ 18 milhões
Operação Laranja Mecânica desencadeada nesta quarta prendeu o irmão e a viúva do traficante
A derrubada da rede de lavagem de dinheiro coordenada pelo traficante Alexandre Goulart Madeira, o Xandi, teve início na Operação Dilúvio, do Denarc, que, em 2011, atacou os pontos de tráfico comandados pela quadrilha. E a partir dali, surgiram os primeiros indícios da estruturação dos negócios do tráfico.
- Eles conseguiram aliar táticas do estilo Al Capone, com a máfia de Chicago, fazendo com que o dinheiro sujo do tráfico circulasse legalmente e cada vez mais distante do crime, e do estilo Pablo Escobar, ao criarem uma rede de compras de permissões para táxis, que tanto serviam para lavar dinheiro quanto para garantir a logística dos negócios - aponta o delegado Marcio Moreno.
Segundo ele, em cinco anos foram detectados pelo menos R$ 18 milhões em transações financeiras do bando. Mas a estimativa é de que, de maneira ilegal, até cinco vezes este valor tenha passado pelo grupo criminoso.
A investigação de lavagem de dinheiro ganhou fôlego no ano passado - e foi fundamental para derrubar a herança do Xandi -, quando foi equipado o laboratório de lavagem de dinheiro, no Gabinete de Inteligência da Polícia Civil.
São sete agentes especializados em cruzar dados de quebras de sigilos bancários, financeiros e telefônicos.
- Somos auxiliados por softwares que facilitam esse cruzamento e conseguimos detectar exatamente quem transaciona com quem. Em uma investigação, isso é fundamental - avalia a delegada Greta Anzanello, que comanda o laboratório.
Este grupo é o embrião de uma Delegacia para Lavagem de Dinheiro que a Polícia Civil pretende estruturar nos próximos meses.
As inspirações
O estilo Al Capone:
Nos anos 1920, o mafioso Al Capone deu origem ao termo "lavagem de dinheiro" quando criou uma rede de lavanderias de fachada que serviam para "limpar" o dinheiro do crime. A estratégia adaptada por Xandi seguia a mesma lógica. Afastar o dinheiro o máximo possível de sua origem criminosa.
O estilo Pablo Escobar:
A origem do líder do Cartel de Medelín era a fachada de uma empresa de táxis que criou na sua cidade como forma de justificar a fortuna adquirida com o tráfico de drogas. Isso lhe garantia controle logístico da região e a lavagem do dinheiro do crime, assim como Xandi implementou na Capital.
O estilo Rio de Janeiro:
A ostentação e o lucro que o funk dá viraram ferramenta do tráfico carioca. É uma das formas mais eficientes e de difícil detecção da lavagem de dinheiro. Na Capital, Xandi era sócio e criador da Nível A Produções, a principal do gênero que seria movimentada com o dinheiro sujo.
Operação Laranja Mecânica
A Polícia Civil desencadeou, na manhã desta quarta-feira, uma operação contra a lavagem de dinheiro da quadrilha de Xandi - morto no início de 2015 em Tramandaí. Pelo menos 11 pessoas já foram presas, entre elas, um irmão do traficante. Os mandados foram cumpridos em Porto Alegre, Viamão, Canoas, Santa Maria, Santo Antônio da Patrulha e Florianópolis.
A polícia também prendeu uma mulher apontada como companheira de Xandi. Ela foi detida em um condomínio de alto padrão de Canoas, com uma caminhonete Tribeca blindada e pelo menos R$ 19 mil em dinheiro. A mulher foi encaminhada ao Denarc, onde está sendo ouvida pelos policiais na manhã desta quarta-feira.
Foto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Ao todo, R$ 5,5 milhões em imóveis e veículos devem ser sequestrados. O levantamento inclui um apartamento avaliado em R$ 1 milhão, em Florianópolis, onde uma equipe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul cumpre mandados.
A polícia pretende cumpriu mandados de prisão, busca e sequestro de bens. O montante dos sequestros somam R$ 18 milhões - entre eles, 13 táxis que, somados, valem R$ 3 milhões, e seis imóveis, avaliados em R$ 2,5 milhões.
O Xandi
Xandi morreu na tarde de um domingo de janeiro de 2015, enquanto fazia churrasco em uma casa alugada a uma quadra da orla de Tramandaí. O assassinato aconteceu quando quatro homens, em um Corsa, estacionaram em frente à casa alugada pelo criminoso e dispararam rajadas de fuzil, acertando-o na cabeça. O traficante morreu na hora.
Foto: Brigada Militar / Divulgação
Conforme o delegado Paulo Perez, responsável pela investigação, as características da execução são típicas de um acerto de contas com gangue rival. Os autores do crime ainda não foram identificados.
* Diário Gaúcho