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Serra Gaúcha

Apreensão de droga em Bento Gonçalves confirma as rotas preferenciais do tráfico internacional

Para PF, transporte de grandes quantidades de maconha atende aos lucros das quadrilhas

19/11/2015 - 17h02min

Atualizada em: 19/11/2015 - 17h02min


Jonas Ramos / Agencia RBS
A droga estava distribuída em 1.229 tijolos

Transportar grandes quantidades de maconha pela Serra se tornou crime tão corriqueiro a ponto de a polícia interceptar fartos carregamentos numa mesma rota, caso da apreensão de 1,14 tonelada da droga na BR-470, em Bento Gonçalves, na madrugada de quinta-feira.

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Apostando na fiscalização fragilizada das fronteiras e rodovias, a exemplo de tantos outros traficantes, um homem de 36 anos não teve receio de transportar 1.229 tijolos da erva escondidos no fundo falso de um caminhão. É uma das maiores apreensões desse tipo de entorpecente da história na Serra.

A viagem começou na manhã de quarta-feira, em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai, conhecido entreposto de venda de armas e drogas. Pela versão dada à Polícia Federal (PF), o homem deveria ter entregue a remessa na Região Metropolitana, mas foi flagrado no posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na BR-470, às 3h30min de quinta. Em depoimento, alegou ter sido contratado por R$ 4 mil para levar um contrabando de notebooks e ignorava estar a serviço do tráfico. A versão não convence os investigadores da PF.




O trajeto entre a Serra e a Capital é uma rota preferencial das quadrilhas internacionais por um motivo simples: são longos trechos sem policiamento ou unidades de vistoria de carga. O motorista preso não revelou se foi abordado pela fiscalização durante a travessia do Mato Grosso do Sul ao RS. Ainda assim, teria percorrido cerca de 1,150 quilômetros e permanecido por pouco mais de 16 horas na estrada sem ser percebido.

Na Serra, o único posto de fiscalização fixo é na BR-116, em Vacaria, na divisa com Santa Catarina, cujo perfil é mais lidar com ilícitos contra a receita estadual do que crimes como drogas negociadas por atacado. Como são muitos caminhões circulando pela Serra, flagrar um grande carregamento como o de Bento depende principalmente de denúncias e de barreiras aleatórias das polícias estaduais ou federal. É por essa brecha que as mulas do tráfico ousam se embrenhar cada vez mais, o que só reforça a importância da investigação.

- É uma rota bem antiga e os traficantes estão acostumados a usá-la. Há pouco tempo apreendemos 118 quilos de maconha em Farroupilha, que também é na região ali de Bento - reitera o delegado regional da PF, Noerci da Silva Melo.

Relação custo/benefício

A localização da maconha em Bento é um golpe no tráfico, mas é o desdobramento da investigação federal que levará a outros envolvidos e pode abalar, de fato, as estruturas do grupo por trás da remessa.

Por outro lado, o delegado Noerci vê como o normal o transporte de grandes cargas devido à relação custo/benefício. Segundo ele, a erva é muito mais barata se comparada à cocaína: o preço de revenda na Serra varia de R$ 600 a R$ 1 mil ao quilo, enquanto o pó pode custar de RS 25 mil a R$ 30 mil. Por esse motivo, traficantes trazem grandes carregamentos para obter lucro e manter a oferta no mercado.

- Notamos que aumentou o transporte de grandes quantias, mas é uma característica do tráfico de maconha. Às vezes, usam batedores para identificar barreiras policiais. Nesse caso de Bento, não teve isso porque o motorista escondia no fundo falso - explica Noerci.

O promotor de Justiça João Pedro de Freitas Xavier, que coordenou o Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais do MP, tem opinião semelhante:

- Às vezes, transportar uma quantidade absurda não faz tanta diferença. Só demonstra que é um tráfico de vulto e forma organizada. Revela um grande atacadista por trás e investimento alto por parte dos traficantes. É algo planejado.

Doutor em Sociologia e consultor em Segurança Pública e Direitos Humanos, Marcos Rolim tem uma visão cética a respeito:

- A apreensão de uma tonelada de maconha pode não ser nada. Quantas outras cargas passaram? - avalia.

OUTRAS GRANDES APREENSÕES DE MACONHA NA SERRA

Todos os casos abaixo resultaram em prisões e indiciamentos:

Maio de 2011: Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) flagra 1,5 tonelada de maconha num sítio em Carlos Barbosa.
 
Outubro de 2011: a Brigada Militar apreende 700 quilos de maconha num apartamento no bairro Santa Catarina.
 
Setembro de 2013: a Polícia Fazendária da BM encontra 556,8 quilos dentro de um carro em Vacaria.
 
Novembro de 2012: BM e PF localizam 329 quilos de maconha num caminhão no bairro Santa Catarina, em Caxias.


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