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Violência urbana

Assassinato completa sete meses de mistério em Porto Alegre

Jorge Vicente da Silva, 42 anos, instrutor de tiro, foi morto no portão da garagem onde vivia no bairro Bom Fim

01/12/2015 - 03h31min

Atualizada em: 01/12/2015 - 03h31min


Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Apaixonado por motos, vítima lutava contra esclerose múltipla e dizia que veículo era seu remédio

Em meados de abril, o instrutor de tiro Jorge Vicente Goulart da Silva, 42 anos, telefonou para Sirlei, 74 anos, e comentou:

- Mãe, preciso ir na tua casa para te contar uma coisa.

Uma semana depois, na madrugada de sábado, 25, sem ter feito a visita, Jorginho, como era conhecido, foi surpreendido ao chegar ao prédio onde morava no bairro Bom Fim, na Capital. De dentro de um Fiesta prata dispararam duas vezes contra instrutor de tiro, perfurando o pulmão e o braço esquerdo.

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Jorginho morreu logo depois, cinco quadras dali no Hospital de Pronto-Socorro. Passados sete meses, o assassinato ainda é um mistério. A família suspeita que Jorginho foi vítima de um crime sob encomenda. A polícia não fala sobre o caso.

- Ele tinha algo para me dizer e não sei o que era - lamenta a mãe, aos prantos.

Sirlei lembra que na noite da morte do filho, ela, a filha Izabel e uma neta não dormiram.

- Perdemos o sono. Sentia dor no peito, uma angústia, parecia uma premonição - recorda Izabel, 54 anos, irmã de Jorginho.

Apaixonado por motos, desde que comprou uma Harley-Davidson Iron 883, em 2010, o instrutor fazia parte de um clube de motociclistas e costumava sair à noite. Na madrugada do crime, Jorginho descia a Rua Santo Antônio com o veículo e um Fiesta rodava na frente dele.

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No meio da quadra, entre a Rua Irmão José Otão e a Avenida Osvaldo Aranha, o carro reduziu a velocidade, ficando ao lado da moto. Em seguida vieram os tiros. Jorginho tombou sob a moto diante do portão da garagem do apartamento que vivia com a mulher, Renata Breyer.

O matador fugiu sem levar nada do instrutor. O Fiesta logo desapareceu na escuridão. Renata estava em casa e afirma ter se acordado com os gritos de socorro do marido. Um vigilante que trabalha nas proximidades ouviu os disparos, mas não saberia detalhes do crime. Imagens de câmeras de segurança instaladas na região não teriam registrado o momento dos disparos nem a placa do Fiesta.

Segundo familiares, o instrutor não tinha inimizades. Pelo contrário, colecionava amigos, inclusive policiais, por dar aula para agentes federais, civis e PMs.

- Era trabalhador, de espírito esportivo, ajudava todo mundo e confiava nas pessoas - conta o irmão Carlos Eduardo, 34 anos, que reúne medalhas de Jorginho conquistadas em competições de tiro, diplomas e homenagens por serviços prestados às forças policiais.

Viúva diz viver à espera de respostas

A família não encontra razão para o assassinato.

- Não sei o que dizer. Ele saía de moto, e eu não ia, porque nossos horários eram incompatíveis. A gente só se angustia sem respostas - desabafa Renata, servidora pública estadual.

Carlos Alberto suspeita que o irmão possa ter sido vítima de uma cilada, mas não sabe apontar motivos. A morte abreviou uma vida de luta contra uma enfermidade grave. Em 2007, em meio a dificuldades financeiras, o instrutor descobriu que tinha esclerose múltipla - doença que ataca o sistema nervoso central e pode provocar perdas na capacidade motora e na fala. Em vez de se abater, Jorginho buscou tratamento médico.

- Ele vivia bem. Se cuidava, aplicava injeções e só bebia refrigerante. Não se entregou para a doença. Reergueu-se, comprou apartamento e a Harley que chamava de remédio - lembra Carlos Alberto.

Além da dor da perda, a família sofre com o passar dos meses sem saber o que levou o instrutor à morte. Um advogado foi contratado para acompanhar o caso junto à Polícia Civil, mas não teve acesso ao inquérito porque é tratado como sigiloso.

A VISÃO DA POLÍCIA

O que diz o delegado Filipe Bringhenti, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa, responsável por investigar o crime:

É um caso complicado, diferente dos demais que ocorrem todos os dias envolvendo brigas entre criminosos. A vítima era pessoa de bem. Não há atraso injustificado no trabalho. Pelo contrário, está sendo muito bem conduzido. O inquérito é sigiloso, e não podemos revelar detalhes. Temos uma linha de investigação, temos suspeitos, mas informações não serão divulgados porque ainda não produzimos as provas de autoria suficientes para remeter o inquérito ao Judiciário. Neste momento, não é possível estimar prazo de conclusão.


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