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Crise na segurança

Assaltos a ônibus e lotações viram rotina em Porto Alegre

Passageiros, motoristas e cobradores convivem com o medo ao circular no transporte público

29/01/2016 - 02h01min

Atualizada em: 29/01/2016 - 02h01min


Caetanno Freitas
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Adriana Franciosi / Agencia RBS
Raquel aguarda nomeação na Polícia Civil há um ano e meio. Entrar para estatística de vítimas de roubos não demorou



Os tiros contra um jovem de 23 anos, passageiro da linha Rápida Bento, na quarta-feira, escancaram a insegurança que amedronta usuários do transporte público da Capital. Viraram rotina os assaltos a ônibus e lotações, alvos fáceis para criminosos, que agem a qualquer momento.

Aprovada no último concurso da Polícia Civil, a fisioterapeuta Raquel Nunes Rocha, 33 anos, aguarda com ansiedade ao chamado do governo para exercer a função de escrivã. Durante a espera, que já dura mais de um ano e meio, acabou entrando para as estatísticas da criminalidade em Porto Alegre - foi vítima de um assalto à linha Chácara das Pedras.

Dois homens entraram no coletivo, sem pagar, na Praça Dom Feliciano, no Centro. O motorista seguiu o itinerário até a Avenida Cristóvão Colombo, na Zona Norte, onde foi obrigado pelos ladrões a continuar o trajeto sem parar nos pontos seguintes. Em minutos, a dupla fez um arrastão nos pertences dos passageiros e roubou o dinheiro do cobrador. Tudo à luz do dia, por volta das 16h30min.

A insegurança para andar de ônibus na Capital fez Raquel mudar de comportamento. Agora, ela esconde os objetos pessoais e usa a mochila na frente do corpo:

- Guardo meus documentos e celular fora da mochila, ou da minha bolsa. Levo na cintura, por baixo da roupa, tamanha é a insegurança que vejo diariamente. Não só no Centro, mas no próprio bairro onde moro, onde trabalho. Chego tensa em casa todos os dias.

A Brigada Militar informou que não poderia fornecer estatísticas oficiais quanto aos ataques a ônibus na Capital porque o levantamento dos números "demandaria várias horas" e não havia como designar alguém para atender ao pedido de ZH.

 
A doméstica Vânia temeu pela duas sobrinhas que presenciaram com ela um arrastão na linha Liberal

Para quem anda com crianças, o medo é ainda maior. A doméstica Vânia Gonçalves, por exemplo, foi roubada quando estava com duas sobrinhas na linha Liberal. Na Rua Padre João Batista Reus, na Zona Sul, dois homens anunciaram o assalto. O relógio marcava 17h.

- Pertinho de casa, um pouco antes de descer, um deles foi no cobrador e o outro começou a limpar os passageiros. O motorista abriu a porta de trás e todo mundo desceu correndo - recorda.

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Um simples passeio também pode se tornar trauma para quem depende dos ônibus diariamente. A segurança Edileuza de Souza já foi assaltada diversas vezes. Na última, estava levando a filha para passear no aeroporto, a bordo do T5, quando teve de entregar seus pertences aos criminosos.

- Todos armados, um com faca, outros com revólver. Fui obrigada a dar tudo - diz. - Fico com medo de qualquer pessoa que sente perto de mim (no ônibus) - completa.

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Os casos descritos, por sorte, não terminaram em tragédia. Apenas bens materiais foram levados dos donos. Mas a frequência com que ocorrem preocupa usuários e trabalhadores do setor, especialmente os motoristas e cobradores, normalmente, os principais alvos.

- Foi um pouco de descuido meu. Ele (ladrão) subiu quando eu estava atendendo um passageiro, sentou no banco da frente e me encostou a tesoura no pescoço - conta o cobrador Denis Souza.

Apesar do susto, o assaltante apenas pegou o dinheiro e desceu na parada seguinte.

- A gente tenta manter a calma na hora, mas dá aquele medo. Ele não tinha nada a perder no momento. É aí que a gente cai na realidade. Às vezes, é muito rápido, um minuto, nem isso. O problema são os próximos passageiros, a próxima viagem. Fica com receio de qualquer um que passar - acrescenta o cobrador.

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Há 15 anos como motorista de lotação, Edson Henrique Alves aprendeu a lidar com a situação depois de diversos ataques:

- Tem casos em que os caras não ficam contentes. Pegam pouco dinheiro. Aí, dão uma coronhada no motorista. Às vezes, as pessoas reagem. Não dá para reagir, tem de entregar tudo.


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