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"Entendemos o direito à defesa, mas esperamos justiça", diz pai de adolescente morto em Charqueadas

Primeira audiência sobre assassinato de Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior ocorre nesta quarta-feira

13/01/2016 - 09h42min

Atualizada em: 09/11/2017 - 12h35min


Jaqueline Sordi
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De um lado da quadra, tensão e expectativa de familiares dos réus. Do outro, a emoção do pai da vítima, que relembra a fatídica noite em que viu o filho morrer. Esse era o cenário em frente ao Fórum de Charqueadas na manhã desta quarta-feira, horas antes do início da primeira audiência sobre o assassinato do adolescente Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior, morto após ser espancado na saída de uma festa, no dia 1º de agosto, na cidade.

Enquanto parentes dos réus aguardavam desde às 8h a abertura das portas do Fórum, o pai de Ronei permanecia do outro lado da quadra, escorado, sozinho, em um poste. A audiência, que iniciou por volta das 9h30min, prevê o depoimento de 19 testemunhas.

Divulgação / Arquivo pessoal
Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior morreu após ser espancado na saída de uma festa, no dia 1º de agosto

Antes do início dos depoimentos, o pai do jovem, visivelmente abatido, optou por não se aproximar dos demais. Só saiu de onde estava quando um grupo de manifestantes apareceu no local com camisetas pedindo paz e carregando cartazes com a foto de Rodnei. O pai falou sobre os cinco meses depois de ter perdido o filho:

– A dor só aumenta com o passar dos meses. A cada vez que escuto uma sirene, tudo que vivi volta. Isso parece que não vai ter fim.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro disse que até agora o trabalho de investigação tem sido satisfatório

Desde a morte do filho, a rotina na casa de Ronei mudou drasticamente. A mãe do jovem, que gerenciava alguns negócios da família, deixou o trabalho. O pai enfrenta dificuldades para sair da cama todos os dias. Além de visitas frequentes a psicólogos e psiquiatras _ e de tomarem doses cada vez maiores de medicamentos anti-depressivos _ os pais passaram a frequentar grupos de apoio pelo menos uma vez por semana:

_ Se eu disser que minha mulher está deprimida e debilitada, estarei sendo muito brando. Não dá pra descrever o que sentimos. E o que mais me assusta é conversar com outros pais, que perderam os filhos há mais tempo, e ver que eles nunca se recuperaram _ desabafou.

Prestes a confrontar os réus do caso pela primeira vez, ele afirmou que estava na expectativa de um desfecho justo:

– Esse é um momento difícil, visto que o caso envolve muita gente. Entendemos o direito à defesa, mas esperamos que a justiça ocorra e que sirva de reflexão para as pessoas pensarem antes de tomar qualquer atitude – afirmou.

Pai da vítima foi o primeiro a depor

Na sala de audiência, a juíza Paula Fernandes Benedeti, o promotor João Cláudio Sidou e oito advogados dos nove réus, acusados de homicídio triplamente qualificado do adolescente, três tentativas triplamente qualificadas (contra o pai de Ronei e um casal de amigos que também foram agredidos) e por formação de quadrilha, escutaram os depoimentos de testemunhas.

São nove reús adultos no processo. Oito estão na cadeia e um em prisão domiciliar.

Em setembro, quatro dos sete adolescentes que também respondiam pelo assassinato de Ronei foram condenados pelo Juizado da Infância e Juventude da Comarca de Charqueadas – o juiz Francisco Morsch aplicou a medida socioeducativa de internação pelo prazo máximo, que é de até três anos. Dois adolescentes foram absolvidos por falta de provas, e para o sétimo rapaz contra o qual o Ministério Público ofereceu representação (que equivale à denúncia de adultos) ainda não foi proferida sentença.

O primeiro a depor foi o pai do jovem, Ronei Jurkfitz Faleiro. Durante cerca de 1h30min, ele relembrou, com detalhes, a noite de 1º de agosto. Em diversos momentos se emocionou, como quando como falou sobre os momentos após o filho ser agredido:

– No hospital, ele estava bem e falava comigo. A única coisa que ele perguntava era se eu estava bem, se eles haviam me machucado.

Ronei afirmou ainda que optou por não ver fotos dos réus nem ler as matérias publicadas sobre o assunto. Afirmou lembrar somente do rosto de um dos jovens, que o teria agredido ao tentar entrar no carro. Quando os réus ficaram frente a frente com ele após o depoimento, Ronei identificou este agressor.

_ Foi péssimo ver os réus, pois reparei que, entre eles, tinham inclusive alguns jovens que moravam perto de nossa casa. É uma sensação horrível, tanto por não ter conseguido defender meu filho como por ver eles na minha frente.

Enquanto falava na sala de audiência, os manifestantes que estavam em frente ao local fizeram um abraço coletivo ao redor do Fórum, pedindo paz e homenageando Ronei Jr.

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Antes de finalizar o depoimento, o pai do jovem pediu licença para fazer um relato:

– Recebi, através de conhecidos, um recado: de que o que estava preparado para mim, eu iria receber. Foi uma ameaça, mas nem dei queixa. O pior que poderia acontecer pra mim, já aconteceu – finalizou.

O depoimento do pai de Ronei Jr. foi seguido pelo relato de outros dois jovens agredidos, que estavam no veículo com a vítima. Um deles relatou também ter sofrido ameaças nas últimas semanas. Pela tarde, serão ouvidos os adolescentes agressores, além do delegado e testemunhas que estavam na festa no dia do crime.

Veja fotos da audiência desta quarta-feira:

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