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Desaparecimento

Pai encontra filha desaparecida havia 12 dias: "Estava perdendo as forças, mas continuava tendo fé"

A busca pela filha de 13 anos custou o emprego de Elias Santos. A adolescente foi encontrada na Praça XV de Novembro, no Centro da Capital

21/04/2016 - 11h01min

Atualizada em: 21/04/2016 - 15h51min


Schirlei Alves
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Inconformado com o desaparecimento da filha de apenas 13 anos, Elias Santos, 36 anos, procurou por ela durante 12 dias. Embora soubesse do trabalho da polícia, não conseguiu ficar em casa aguardando por notícias. Após oito dias fazendo buscas por Novo Hamburgo, descobriu que a filha teria viajado a Porto Alegre. Passou mais quatro dias quase sem comer ou dormir, procurando por ela no Centro da Capital. A peregrinação lhe custou o emprego, mas a fez encontrá-la, na noite do último sábado, na Praça XV de Novembro.

Depois de passar 12 dias procurando, pai encontrou filha no Centro de Porto Alegre

Quando a filha Laura Santos, de 13 anos, pediu para passar o fim de semana na casa de uma colega, o pai Elias Santos, 36 anos, não imaginava o que estava por vir. Na segunda-feira, 4 de abril, a mãe da colega Karla Danielle Goulart, também de 13 anos, ligou para avisar que as duas haviam desaparecido. Elas teriam saído da casa da Karla, no Bairro Canudos, para ir à casa da Laura, no Vila Nova. Porém, no meio do caminho mudaram de ideia e decidiram se aventurar em Porto Alegre.

As meninas pegaram o trem e se encontraram com colegas no Centro da Capital. A intenção era retornar para casa no mesmo dia, mas acabaram passando a noite. Os supostos "colegas" teriam se desencontrado das meninas, que conheceram outras pessoas e permaneceram sem rumo pelos dias seguintes.

A primeira noite longe da filha foi o sinal de que algo estava errado. O desaparecimento foi registrado na delegacia da cidade. Uma detetive particular também foi contratada pela família da Karla. Até então, Elias não imaginava que as duas estivessem na Capital. Ele passou oito dias fazendo buscas em Novo Hamburgo até que, na terça-feira (12), Karla voltou para casa sozinha. Já fazia cinco dias que ela tinha se perdido da Laura e não sabia o que havia acontecido com a amiga.

Peregrinação em Porto Alegre

A esperança de encontrar a filha com vida era maior do que todas as apostas negativas feitas por amigos, pela polícia e por desconhecidos que comentavam o caso pelas redes sociais. "Deve estar em uma boca de fumo, está viciada, foi vendida para a prostituição, procura nos necrotérios", diziam ao pai.

No dia seguinte, quarta-feira (13), Elias se largou para Porto Alegre, onde iniciou mais um peregrinação em busca da filha.

– Fiquei assustado, é muito perigoso no Centro de Porto Alegre. Na madrugada é uma terra sem lei.

Passou o dia na companhia da mulher rodando as imediações do Mercado Público, onde pessoas teriam visto as meninas perambulando. Sem sucesso na busca, o casal retornou para casa.

Na quinta-feira (14), os pais passaram mais um dia fazendo buscas, desta vez, com ajuda da polícia. No fim do dia, todos retornaram a Novo Hamburgo, menos Elias. O pai decidiu passar a noite em claro à procura da filha. Sem dormir ou se alimentar, circulou por locais de festas conhecidos como "inferninhos", conversou com andarilhos e descobriu que a filha teria aceitado ajuda de uma moradora de rua. A pista o fez seguir o rastro da mulher misteriosa. A peregrinação exaustiva seguiu ininterrupta até o sábado.

Mesmo cansado, pai tinha fé de que iria encontrar a filha

Elias ficou conhecido pelos moradores de rua, ambulantes, vendedores de banca e feirantes. "Não achou a filha ainda, pai?", perguntavam os que se comoviam com a angústia dele.

– Estava perdendo as forças, mas continuava tendo fé, muita fé. Não tinha nada que me dizia que ela estava morta, mas eu me doía por ela, pensava muitas coisas ruins que poderiam estar acontecendo.

Derradeiro dia

Quando o sábado (16) amanheceu, lá estava o pai, desolado. Já havia procurado por todos os lados, conversado com toda a gente e colado cartazes pelo caminho. Elias andou o dia inteiro, foi mais rígido ao especular sobre a filha com comerciantes e moradores de rua, quase discutiu com o dono de uma feira que reclamou por ele ocupar uma tomada com o carregador do celular.

A noite começava a cair, por volta de 19h30min, quando Elias sentou-se em um banco da praça 15 de Novembro. Embora cansado, os olhos ainda permaneciam atentos. Ao levantar a cabeça em direção ao Chalé da Praça 15, no Largo Glênio Peres, visualizou uma menina muito parecida com Laura.

– Estava ali sentado, olhando em volta, até que vi um corpinho sem futuro, com as características dela, cabelo amarrado, chinelo, camisetão branco, caminhando reto. Não tinha certeza se era ela, mas reconheci o jeito de caminhar. Bá, eu fui correndo na direção dela. Ela apavorou e começou a chorar, disse que estava com saudade e que queria ir embora. Eu não queria ficar nem mais um segundo ali. Peguei pela mão e disse: "Vamos embora".

Tímida, Laura não conversa muito sobre o que aconteceu. Apenas diz que a intenção dela e da amiga era de retornar no mesmo dia, mas que acabaram ficando mais tempo.

– Não sabia que eles estavam assim tão preocupados. Não voltei pra casa porque a gente combinou que só voltaria quando uma encontrasse a outra. Eu não sabia que ela já tinha voltado porque eu estava sem celular - explicou a menina de pouca idade e corpo mirrado.

O recomeço

Os 12 dias em que Elias, a esposa e os outros dois filhos passaram sem notícias de Laura foram o suficiente para que o casal perdesse o emprego. Ele como marceneiro e ela como merendeira em uma escola. Não havia condições de concentrar no trabalho, pois todo o tempo disponível ainda não era o suficiente em função da batalha em busca da filha.

O dia 16 de abril ficou marcado como um recomeço para a família Santos.

– Foi como se ela tivesse nascido de novo, estava em minhas mãos, protegida.

Por causa dos 12 dias à procura da filha, o pai e a mãe da menina perderam o emprego que tinham

O pai garante que fará o possível para conversar mais com a adolescente e compreendê-la melhor.

– Dói ouvir os comentários sobre o que aconteceu porque ela nunca foi de sair, foi a primeira vez. Eu não sei o que passa aqui (na cabeça dela), mas nós sempre conversamos. Ela poderia ter chegado pra mim e falado, tudo tem como ser conversado. Mas, agora ela deve ter visto o quanto a gente gosta dela. Filho pensa que, só porque a gente cobra, não gosta, mas não é verdade. Acho que ela aprendeu da pior maneira, mas aprendeu.

Investigação continua

O delegado responsável pelo caso, Enizaldo Plentz, ainda aguarda o resultado dos exames psicológico e de corpo de delito. Nenhuma hipótese está descartada, mas com base nos depoimentos das adolescentes o delegado acredita que elas viajaram a Porto Alegre e permaneceram na cidade por vontade própria. Plentz afirma que as equipes de investigação estiveram na Capital fazendo buscas, mas que as adolescentes apareciam em horários incertos e que, possivelmente, estariam evitando encontrar a polícia.

A investigação também pretende descobrir se pessoas que tiveram contato com as garotas teriam se aproveitado da vulnerabilidade delas tanto pela pouca idade quanto pelo fato de estarem sozinhas.


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