Polícia



Desfecho inusitado

Ladrão arrependido devolve carro e manda carta para a vítima

Vendedora autônoma foi surpreendida pela reação do assaltante, que disse que não serve para o crime 

06/06/2016 - 19h21min

Atualizada em: 06/06/2016 - 21h50min


Renato Dornelles
Enviar E-mail
Pâmela feliz ao recuperar o HB20

A vendedora autônoma Pâmela Ortolan, 30 anos, de Canoas, experimentou diferentes e até contraditórios sentimentos nos últimos dias. Na quarta-feira passada, foi a vez do susto e do pavor: um homem a assaltou quando ela estava com o filho de 10 anos e roubou o seu carro.

No dia seguinte, veio a surpresa: em um bilhete dirigido a ela, o ladrão alegou arrependimento e indicou onde ela poderia encontrar o veículo. Nesta segunda-feira, ao recuperar o carro, a vendedora manifestou o perdão e até certa compaixão com a situação descrita pelo assaltante.

A curiosa e inusitada história teve início no final da tarde de quarta. Pâmela havia pego o filho na escola, em Canoas, e, antes de ir para casa, decidiu dar uma rápida passada na casa de uma amiga, no Bairro Rio Branco, naquele mesmo município.

Estacionou o carro, um Hyundai HB20, e desembarcou, deixando o menino no veículo. Nesse instante, foi abordada pelo assaltante.

– Ele me mandou entregar a chave, e eu disse que ela não estava comigo. Ele então colocou a mão numa pistola cromada que carregava na cintura e me disse: "Passa a chave e manda o teu filho descer". Como vi que ele tinha visto o meu filho, resolvi obedecer – contou.

Só o extintor

O ladrão esperou o menino descer do carro e fugiu com tudo o que estava dentro do veículo. No dia seguinte, a mochila do filho da vendedora foi encontrada nas proximidades da escola. Era só o início das surpresas.

– Meu filho chegou em casa dizendo que tinha algo para me mostrar. Em uma das folhas do caderno dele, o homem que tinha roubado o carro escreveu um bilhete, dizendo que estava arrependido, que só havia feito aquilo porque estava desesperado, sem emprego, que a arma era de brinquedo e que tinha chegado à conclusão de que não servia para ladrão – contou Pâmela.

Como Pâmela havia registrado a ocorrência de roubo, o carro foi recolhido ao depósito do Detran. No final da tarde desta segunda, ela foi buscá-lo. Só deu falta do extintor de incêndio.

– Não é nada, para quem achava que tinha perdido o carro. Todo mundo dizia que iam cloná-lo. Eu cheguei a ter esperança de que usassem em algum assalto e depois o liberassem, mas já não estava acreditando mais – disse.

"Nem dá mais aquela raiva"

Pâmela, como a maioria das pessoas assaltadas ou vítimas de outros tipos de violência, chegou a ficar revoltada no momento da ameaça e na concretização do roubo.

– Ele, no início, estava tranquilo. Depois, como eu resisti, ele chegou a ficar um pouco alterado. Mas agora nem me dá mais aquela raiva que deu na hora – admite.

Mais do que eliminar o rancor, a vendedora autônoma não esconde certa preocupação e a vontade de ajudar o homem que roubou o seu carro.

– Ele disse que está desesperado por causa do desemprego. Cheguei a pensar em buscar contato para ver se alguém pode ajudá-lo a conseguir um emprego.

Letra bonita, português correto

O bilhete

No bilhete deixado no caderno do filho da vendedora, com uma letra bem legível e um português correto, o assaltante, além de alegar arrependimento, disse que não tem jeito para ações criminosas, deu conselhos e até elogiou a vítima:

"Moça, desculpa ter roubado teu carro, me arrependi. Abandonei ele na rua primeiro de maio, não tirei nada dele. Só a mochila que eu ia dar para o meu filho, mas me arrependi e vou abandonar ela perto do La Salle. Desculpa. Também sou vítima da sociedade, mas não sirvo para ladrão. A arma era de brinquedo. Que o susto sirva de exemplo para nós dois. Para mim também não foi fácil. Vou continuar procurando emprego. Nunca deixe a chave na ignição. Você é muito linda e desculpe pelo que fiz você passar. Obs: A bolsa eu deixei você levar na hora".

Cinco homens são mortos em saída de bar em Eldorado do Sul

Leia outras notícias

Últimas Notícias