Polícia



Operação Gota D'Água

"Poço não é o bicho", diz químico da empresa Do Campo Branco sobre coleta de água

Em conversa com sócio da empresa, Marcelo Colling admite que encontrou pedaços de ferro dentro do local onde ocorria a captação e também sugere a combinação de uma versão conjunta para explicar os problemas no produto

23/06/2016 - 23h09min

Atualizada em: 23/06/2016 - 23h31min


– E vou dizer outra: em função do poço, que não é o bicho, que nós "temo". Se descobriu lá pedaço de ferro, cano amarrado com fio de luz, é dali que veio o problema.

A afirmação é do químico Marcelo Colling, da empresa Do Campo Branco, feita em uma ligação para o sócio da marca, Paulo Vivian, divulgada pelo Ministério Público (MP). A empresa foi alvo, na manhã desta quinta-feira, da Operação Gota D'Água, que desvendou um esquema criminoso que consistia na venda de água mineral em condições impróprias para consumo humano.

Na conversa, o químico fala ainda que é preciso encontrar uma justificativa para esclarecer o problema nos produtos que deve ser usada por todos.

– Vamos alinhavar e falar tudo a mesma coisa, vamos combinar – diz. – Porque, sinceramente, toda a verdade não dá pra contar – acrescenta.

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Na ligação, o sócio da empresa chega a dizer que, diante dos problemas apresentados nas águas minerais distribuídas, perdeu a "confiança" no produto:

– Eu não tenho nem confiança de abrir um cliente mais.

Colling, em vários momentos, insiste que é necessária uma reunião para que todos ensaiem a mesma versão a ser contada para explicar o problema.

– Como tu disse, tem que falar a verdade pro nosso cliente até certo ponto, a ponto de não perder ele – afirma o químico.

Nesta quinta-feira, a ofensiva do MP foi realizada nos municípios de Progresso, Lajeado e Porto Alegre, cumprindo um mandado de busca e apreensão na sede da Mineração Campo Branco Ltda, em Progresso, e prendendo três pessoas preventivamente: os sócios da empresa, Ademar Paulo Ferri e Paulo Moacir Vivian, e o químico industrial Marcelo Colling.

A operação constatou a presença, em lotes da água distribuída pela empresa, da bactéria Pseudomonas aeruginosa, coliformes totais, limo, sujeira e mofo. Além disso, a fonte de onde era captado o líquido estava em situação irregular e havia ainda um poço clandestino que era utilizado para a coleta.

No ano passado, a empresa havia sido fiscalizada pela Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), onde um agente havia aplicado multa – reduzida depois pelo coordenador, que teria sido pressionado pelos sócios da marca. Depois, em fevereiro deste ano, após nova vistoria, foi informado que se a situação não fosse regularizada, a empresa seria interditada. Aí então ocorreu uma limpeza na tubulação, usando químicos que soltaram resíduos dos canos e não exterminaram as bactérias. Clientes devolveram garrafas de água que apresentavam flocos no fundo.

A água mineral Do Campo Branco é vendida em grandes redes de supermercado, em eventos de esporte e de música e também foi oferecida em viagens por companhia aérea. O produto também era comercializado pelas marcas Roda D'Água e Carrefour.

O RISCO DE CONSUMO

– Os lotes testados pelo MP continham a bactéria Pseudomonas aeruginosa, coliformes totais, limo, sujeira e mofo.

– A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que a água mineral deve ser totalmente livre de coliformes e Pseudomonas, devido à vulnerabilidade de crianças e idosos.

– A bactéria é causadora de infecções respiratórias, urinárias e da corrente sanguínea em pessoas com a saúde debilitada.

– Já a ingestão de coliformes fecais provoca graves distúrbios gastrointestinais.

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