Novas medidas
Pacotão da segurança de Sartori não representa solução imediata para a criminalidade, avaliam especialistas
Governo anunciou nesta quinta-feira a convocação de novos policiais, a retomada das horas extras e uma reestruturação do sistema penitenciário
Na avaliação de especialistas em segurança, o anúncio do Plano Estadual de Segurança Pública pelo governo Sartori, nesta quinta-feira, é importante – mas tem maior caráter político do que efetivo em termos de redução da criminalidade.
Abaixo, veja o que Sartori prometeu e para quando:
Para o ex-comandante da Brigada Militar (BM) e atual juiz do Tribunal Militar, coronel Paulo Mendes, as ações mostram preocupação com o tema, o que reduz a sensação de insegurança da população.
– As pessoas querem ver policiais nas ruas. Essas contratações não resolvem, mas dão um fôlego. E serão percebidas lá no final do ano, quando começar a Operação Golfinho e as cidades não ficarem esvaziadas com a debandada de PMs para o Litoral – afirma Mendes.
Ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho destaca o tempo que as medidas levarão para provocar efeito.
– A retomada é sempre mais lenta que a perda. Estimo que levará mais de dois anos para haver queda na criminalidade. Ou seja, Sartori provavelmente não verá os resultados – projeta o consultor, que também é professor da pós-graduação profissional da Polícia Militar de São Paulo.
Embora considere que é urgente a reposição de efetivo, Silva alerta para o perigo de apressar o treinamento dos novos policiais. Segundo ele, o tempo mínimo que um concursado leva para estar apto a patrulhar ruas é de seis meses – mas a mais recente turma de brigadianos deve ser formada em quatro.
– Menos de seis meses é suicídio institucional, porque esses dois meses podem fazer muita diferença lá na frente – aponta Silva.
Para o sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a reposição de efetivo e abertura de vagas nas cadeias são "absolutamente necessárias", mas são o "mínimo":
– Estamos fazendo mais do mesmo, sem capacidade de inovação – aponta Azevedo.
Conforme Azevedo, o Estado deveria levar em conta ações que deram respostas nas capitais mais violentas da América Latina, com aposta na prevenção e em mecanismos de integração entre diferentes áreas de governo, não apenas as de segurança, mas assistência social, prefeitura, associações de moradores, iniciativas de emprego e renda, opções para tirar jovens do meio ilegal:
– Agora está se tapando buraco, quando deveríamos estar inovando.
Sindicatos da área esperavam mais
Depois de diversos protestos no último um ano e meio, as associações que representam policiais militares e civis comemoram a nomeação de concursados, mas lamentam a demora.
– Deveriam ter sido chamados de imediato. Agora, esse número não vai nem repor a quantidade de colegas que se aposentaram na Brigada Militar – aponta Leonel Lucas, presidente da Abamf, associação dos servidores de nível médio da corporação.
Isaac Lopes Ortiz, presidente do Ugeirm-Sindicato, que representa escrivães, inspetores e investigadores da Polícia Civil, o chamamento de uma só vez, no lugar de em três etapas como anunciado, seria menos dispendiosa:
– Treinaria todos de uma vez só e começaria a colocar os alunos em plantões, serviços administrativos. Outros agentes poderiam estar na rua.
Além de torcer para que a situação melhore, o sindicalista afirma que "esperava mais" do pacotão da segurança.
– Pensávamos que iriam ser anunciados programas sociais, medidas para tirar guris do crime. Dessa forma, vamos continuar encarcerando gente e jamais vai ter vaga para todos.