Insegurança
Aulas são suspensas após mãe de estudante ser baleada em frente a escola estadual em Viamão
Criminosos em carro passaram atirando em frente à instituição
No meio da tarde desta quinta-feira, a poucos metros do local onde uma mulher de 39 anos foi baleada na quarta-feira quando levava o filho para a aula na Escola Estadual Adonis dos Santos, em Viamão, um estudante do turno da noite aproximou-se do portão. Enquanto a vice-diretora, Sandra Cunha Murillo, conversava com a reportagem de ZH, o estudante da Educação de Jovens e Adultos (EJA) pediu atenção para comunicar à professora que deixará de ir às aulas. O motivo: a violência no entorno da escola no bairro Martinica.
– Ontem de noite, estava indo para casa e começou um tiroteio. Era tiro para tudo quanto é lado. Fui correndo para dentro. Não vou mais vir, vou esperar o ano que vem – disse o jovem.
Leia mais
RS tem 30 casos de violência por dia no entorno de escolas estaduais
"Tiro, porrada e bomba": a rotina na escola sitiada pelo tráfico na Capital
Escola da Capital suspende aulas por medo da violência
A professora admite: não há perspectiva de que a situação de insegurança vá melhorar até 2017. Ela diz que entende a desistência do estudante como uma maneira de não arriscar a própria vida no trajeto entre o colégio e a invasão da Santo Onofre, onde ele mora.
– Conversamos com a Brigada Militar e com a comunidade, e vamos reabrir na segunda-feira. Estão todos muito assustados – resume Sandra.
O caso da mãe baleada é investigado pela Polícia Civil. Segundo testemunhas ouvidas pela reportagem, um jovem seria o alvo de criminosos que estavam a bordo de um carro com vidros escuros. Ele teria tentado fugir para dentro da escola quando houve o disparo que feriu a mulher. As câmeras de segurança do local flagraram a ação.
Pai de dois estudantes de 7 e 12 anos, o repositor de supermercado Anderson Mendonça Pinto disse que os alunos estavam instituição quando iniciaram os barulhos de tiro.
– Eles estavam na frente da igreja, do lado da escola, quando ouviram estampido e correria geral. O pessoal falava 'tiro, tiro, tiro'. Eles ficaram muito assustados, minha filha não conseguiu correr – afirmou. Uma vizinha passava de carro pelo local e conseguiu pegar os alunos e levá-los para casa.
O comandante do 18º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel José Carlos Pacheco, afirmou que vai aumentar o policiamento na região por conta do ocorrido. No entanto, admitiu que não há número de agentes suficiente para deixar um exclusivamente na instituição. Ele também prometeu aumentar as ações de inteligência.
Na Capital, conflitos do tráfico forçam fechamento das portas
A situação enfrentada pela instituição de ensino de Viamão, que ontem manteve as portas fechadas por medida de segurança, se repete em diversos locais da Região Metropolitana. Em Porto Alegre, a suspensão das aulas em decorrência de toques de recolher e do risco de tiroteios nas proximidades é frequente em algumas regiões. Em julho, na Zona Sul, cinco colégios tiveram a rotina alterada em razão de conflitos entre traficantes – duas anteciparam as férias. Mesmo quando são reabertos, os professores observam que muitos estudantes aumentam a frequência de faltas.
– É um problema sério, vários alunos deixam de vir. A violência dentro da escola temos como trabalhar, mas no entorno, não. É questão de segurança pública – explica a diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professores Langendonck, Kátia Bicca.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental Matias de Albuquerque, à margem da Avenida Juca Batista, parou por dois dias devido à insegurança. A diretora, Cláudia Campos, afirma que professores têm tentado mudar a abordagem para que os alunos não faltem.
– Não há lugar seguro em Porto Alegre. Tive de fechar a escola para evitar problemas, mas não é assustando as crianças que vamos melhorar algo. Eles já vivem a violência onde moram. Aqui, precisam ver que podem ter futuro melhor.
Violência nas escolas
Levantamento feito pela Secretaria da Educação em 1.255 das 2,5 mil escolas estaduais mostra que foram registrados num período de seis meses mais de 5,6 mil casos de violência no entorno das instituições de ensino.
São casos em que as atividades escolares foram prejudicadas em função de toque de recolher, tiroteios, ônibus incendiados, confrontos entre criminosos e a polícia, entre outros exemplos. Para se ter uma ideia da dimensão, se o número total é dividido pelos seis meses do levantamento, a média diária é de 30 casos.