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Sequência de furtos impede construção de casa na zona norte de Porto Alegre

Faz quatro meses que o guincheiro Lucas Correia tenta dar início às obras em terreno no bairro Mario Quintana, mas a cada avanço, o local é alvo dos bandidos

30/11/2017 - 17h21min

Atualizada em: 30/11/2017 - 17h21min


Eduardo Torres
Eduardo Torres
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Eduardo Torres / Diário Gaúcho
Lucas tenta erguer a sua casa há quatro meses, mas só contabiliza os prejuízos com os furtos

A série de furtos começou há quatro meses. Quando, finalmente, o guincheiro Lucas Lacerda Correia, 36 anos, conseguiu a liberação junto à companhia elétrica para a colocação de um poste na Rua Adão Campos Torres, no bairro Mario Quintana, zona norte de Porto Alegre, instalou o relógio medidor de luz. Mas não durou um dia. Na madrugada seguinte, constatou que o equipamento e parte dos fios haviam sido arrancados do poste. Ele não desistiu. Instalou o relógio para o fornecimento de água, inclusive dando início à colocação dos canos para estruturar a futura construção.

— Como já tinha acontecido o primeiro furto, eu escondi com um pouco de mato, folhas e areia a caixa do relógio. Dias depois, encontraram e levaram tudo, até parte dos canos que estavam debaixo da terra — conta.

Só com esta parte da obra levada pelo crime, o guincheiro estima que tenha perdido R$ 1 mil.

Há dois anos ele comprou o terreno onde pretende realizar o sonho da casa própria para a família. Planejou e, quando a situação financeira melhorou, iniciou as obras. Ou melhor, tentou iniciar. Até agora, a criminalidade não o deixou. Correia já perdeu pelo menos R$ 3,4 mil nos últimos quatro meses, com os furtos ao terreno. Uma semana atrás, depois de mais um ataque na madrugada, ele resolveu parar. E agora pensa em desistir de tudo.

— Acho que só não levaram a mim e ao meu pai, que me ajuda na obra, porque nós nos mexemos, se não, levavam também. Minha esposa está com medo de vir aqui com as crianças. E se a gente chegar a erguer a casinha, quando voltar do trabalho, podemos não encontrar mais nada aqui — desabafa.

A suspeita do guincheiro é de que os bandidos ficam à espreita, controlando cada vez que há movimento no terreno. À noite, eles agem. E não adiantou contratar vigilância privada.

Depois dos primeiros ataques, levou um tempo para ele se recompor e, há dois meses, iniciou uma nova tentativa de erguer a tão sonhada casa. No fundo do terreno, ergueu uma espécie de galpão, pequeno, de madeira, onde deixou guardados alguns materiais. Perdeu tudo. Os criminosos levaram as madeiras usadas para erguer a peça, a madeira que estava guardada dentro dela e os materiais de construção que já estavam armazenados. Prejuízo de R$ 1,2 mil.

E o guincheiro, desta vez, não parou. Mesmo sem o relógio da água, reiniciou a instalação hidráulica, e perdeu outra vez. Prejuízo de pelo menos R$ 500 com as caixas de esgoto e parte do encanamento levados.

O furto mais recente aconteceu na última sexta-feira (24). Durante a semana, Correia havia começado a erguer as paredes da construção, inclusive com a colocação dos ferros que dariam estrutura aos pilares. Desta vez, sofreu prejuízo de pelo menos R$ 700. Os criminosos furtaram parte dos tijolos já assentados, os ferros dos pilares, o carrinho de mão e ferramentas de metal.

Enquanto imagina alguma solução, Lucas Correia não pode tirar o olho do terreno. É que ainda estão ali os tijolos que já recebeu para erguer a casa.

Eduardo Torres / Diário Gaúcho
Criminosos levaram até os ferros da obra e atacam também as casas da vizinhança

Furtos são frequentes na região

De acordo com os investigadores da 18ª Delegacia de Polícia (DP) de Porto Alegre, onde os furtos foram registrados, já houve uma investigação naquela região contra criminosos que furtavam materiais de uma obra maior, em edifícios, quase em frente ao terreno de Lucas Correia. Pelo menos dois homens foram presos meses atrás, mas casos como o do guincheiro, admitem os policiais, não são raros. E são consideradas ações isoladas, sem nenhuma organização criminosa envolvida.

Estes crimes deixam marcas na vizinhança. Na casa que fica no terreno dos fundos à construção de Correia, os moradores foram embora. É que os bandidos pulavam o muro que divide as duas áreas para furtar daquela casa. Na última vez, há cerca de dois meses, levaram até parte das telhas.

A uma quadra dali, onde um morador construiu três casas geminadas, o mesmo problema foi enfrentado na época da construção. A solução encontrada foi erguer de qualquer jeito, mesmo sem qualquer acabamento, a primeira casa. Foi uma forma de manter sempre alguém na obra e, com isso, inibir a ação dos bandidos.

O comandante do 20º BPM, major Clademir Barbosa Otero, admite que os furtos naquele ponto do bairro Mario Quintana são frequentes. Um problema, segundo ele, que reflete a vulnerabilidade social da região.

— É impossível garantirmos vigilância para cada terreno e morador, mas fazemos o possível — diz o oficial.

Em uma reunião recente com moradores, o comandante garantiu a inclusão da área nas rondas com viaturas. Mas nem sempre é suficiente, ou possível.

— Temos 243 soldados para garantir a segurança de 400 mil pessoas neste ponto da zona norte. São mais de 70 vilas e bairros. Temos conseguido recuperar 38,5% dos carros roubados e prender entre seis e oito pessoas diariamente. E ainda damos conta de pelo menos 700 chamadas para o 190 a cada dia. Agimos com a maior eficiência que é possível — explica.



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