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Após terem os salários roubados, recicladores de Caxias pedem socorro

Tesoureiro de associação no loteamento Monte Carmelo foi assaltado e ladrões levaram R$ 18 mil que seriam divididos entre 17 trabalhadores

14/02/2018 - 09h42min


Lucas Demeda
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Diogo Sallaberry / Agencia RBS

Dezessete cooperados da Associação de Recicladores Monte Carmelo, na zona sul de Caxias, passaram o Carnaval desesperados: na última sexta-feira (9), eles tiveram os salários roubados em um assalto. Agora, dependem de doações para sobreviver durante o próximo mês.

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Conforme o presidente da entidade, Sérgio Lopes, dois homens armados renderam o tesoureiro da associação quando ele chegava para entregar o pagamento destinado aos trabalhadores, por volta das 15h30min da sexta. Foram levados cerca de R$ 18 mil, que seriam divididos entre todos os associados. O valor era referente ao trabalho realizado em janeiro.

— Tem gente que tem crianças para sustentar e não vai ter nem alimento — lamenta Lopes.

A associação não trabalha nesta quarta-feira (14), mas, a partir de quinta (15), os interessados em ajudar podem deixar donativos diretamente no local (saiba como abaixo). 

Partilhado entre os 17 recicladores, o dinheiro renderia um salário de pouco mais de R$ 1 mil para cada um. De acordo com a vice-presidente da associação, Miriam Reis da Silva, o mês de janeiro havia sido um dos mais lucrativos para os cooperados.

— Era o mês em que mais íamos ganhar, tem vezes que tiramos cerca de R$ 700. Eu estava muito feliz, isso me entristeceu muito — relata.

Miriam diz que a Associação de Recicladores Monte Carmelo é composta majoritariamente por mulheres, quatro delas mães solteiras. Ou seja, a atividade é a única fonte de renda para várias famílias. 

— Nós estamos lá selecionando o lixo, separando da cidade inteira, para tentar ter uma vida digna e vem alguém e rouba de gente pobre — desabafa a vice-presidente.

Diogo Sallaberry / Agencia RBS
Recicladora Patrícia de Souza da Luz, 28, com filha Isadora, três (à esquerda), Miriam Reis da Silva, vice-presidente da associação (ao centro), e Jucemara Tomaz, 45 (direita).

O Pioneiro esteve no bairro Esplanada nesta terça-feira (13) para conversar com alguns recicladores da associação. Lá, o clima geral era de indignação e incerteza: Jucemara Tomaz, 45, trabalha na entidade há sete anos e evita pensar sobre o que aconteceu. 

— É a primeira vez que passo por isso. Eu já sou avó, mas sou eu quem bota comida dentro de casa. Não sei o que vou fazer.

O baque de saber que teria de passar os próximos 30 dias sem renda foi tão grande que Patrícia de Souza da Luz, 28, teve de buscar atendimento no Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão). A recicladora depende do salário para sustentar, sozinha, os três filhos. 

O mês de janeiro foi o primeiro de Douglas William Gonçalves, 19, na associação. A atividade de reciclador foi a oportunidade que ele encontrou para sair do desemprego e ajudar a manter o filho Taylor, de apenas três meses. Sem o salário, a família terá que achar outro jeito para passar o mês de fevereiro. 

Durante seu relato, a vice-presidente Miriam da Silva se esforça para deixar claro que pedir ajuda é difícil, mas é a única alternativa dos recicladores no momento. 

— Nós não temos patrão para nos reembolsar, não temos como recuperar o dinheiro. A associação somos nós, os 17 recicladores. Tudo o que vem, nós dividimos — explica. 

Criminosos estariam aguardando nas redondezas

A volta ao trabalho, na quinta, não será tranquila. O assalto aconteceu quase em frente à associação, quando o tesoureiro descia do transporte coletivo. De acordo com relatos dos recicladores, os criminosos aguardavam pelas redondezas desde o início da tarde. Como o pagamento é feito sempre no dia 9 de cada mês, eles suspeitam que os autores do crime sabiam que o dinheiro ia chegar.

— Agora só queremos que a polícia investigue e encontre um culpado para, quem sabe, recuperar parte do valor — reforça Miriam. 

A Associação de Recicladores Monte Carmelo é uma das 13 entidades conveniadas com a prefeitura de Caxias do Sul. Após a coleta seletiva, a Codeca distribui os resíduos entre os locais. Ali, os associados separam os materiais e revendem para a indústria para que possam ser reaproveitados.

COMO AJUDAR

Diogo Sallaberry / Agencia RBS
Apreensiva, recicladora Jéssica Vieira, 22, abraça o filho Peterson

:: A partir da quinta-feira (15), é possível deixar doações na própria reciclagem, das 8h às 17h, na Rua Emílio Ernesto Schmidt, 251, loteamento Jardim Teresópolis (prolongamento da Rua Cândido Portinari, no bairro Esplanada, atrás do Aeroporto Hugo Cantergiani).

:: Os itens mais urgentes são alimentos, leite e fraldas descartáveis para as crianças.

:: Materiais escolares também são necessários, já que algumas famílias estavam se programando para o início do ano letivo.

:: Qualquer valor para pagar as contas de água e energia, inadiáveis, também é bem-vindo. 

:: Mais informações podem ser obtidas com a vice-presidente da associação, Miriam da Silva, pelo telefone (54) 99699-0295. Também é possível combinar um horário alternativo para a entrega das doações.

:: A torcida organizada do Grêmio Garra Tricolor também começou uma campanha para ajudar os recicladores. Os integrantes da entidade se dispõem a buscar os donativos de quem quiser contribuir e entregar na associação. É só entrar em contato com Alexandre Andrade, membro da diretoria da torcida, pelo telefone (54) 98170-5570.

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