Polícia



Novo Hamburgo

"Tudo o que tínhamos até agora é mentira, é uma farsa", diz delegado que apura caso de suposto ritual satânico

Rogério Baggio, que conduz o inquérito, fala sobre a reviravolta na investigação

08/02/2018 - 10h49min


Bibiana Dihl
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Renato Dornelles
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Bibiana Dihl / Agência RBS

Após uma reviravolta no caso que apura a morte de duas crianças esquartejadas em suposto ritual satânico, o delegado que conduz a investigação, Rogério Baggio, concedeu entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (7), na Delegacia de Polícia Civil de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.

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— Surgiu uma terceira testemunha que fez ligação dos fatos, e tudo encaminhava para a linha do ritual satânico. A gente não descarta, mas a investigação agora volta ao zero. Tudo o que tínhamos até agora é mentira, é uma farsa. Mentiram com riqueza de detalhes e a investigação traçou o rumo pelas testemunhas. Por isso, ressalto a importância do inquérito policial. Os três depoimentos são mentirosos.

A desconfiança

— Quando voltei das minhas férias, estudei esse caso detalhadamente. A desconfiança chegou no momento da segunda testemunha, que foi a que teria visto parte dos corpos ser deixada na estrada. Essa testemunha disse que viu as pessoas largando as caixas e os sacos de lixo. Perguntei como a pessoa se lembrava do fato, a testemunha disse que era porque tinha um filho, que fazia aniversário na data e foi visitá-lo. Realmente, a testemunha tem um filho que faz aniversário em 4 de setembro. Só que essa pessoa disse que estava com ela um companheiro de trabalho, mas ela não soube dar a qualificação. A investigação tentou buscar quem ele seria e chegou uma informação de quem ele poderia ser. Após uma logística, uma equipe iria ouvi-lo — ele moraria em Santa Catarina. A equipe não foi, porque descobriu que ele era um médico. Como um médico vai trabalhar numa obra? Foi feito um auto de reconhecimento e entendeu-se que a pessoa não era a mesma, as pessoas eram diferentes. Como alguém no carona não reconhece quem estava do lado? Até que a pessoa disse que era mentira e confessou quem teve a ideia — era a pessoa que foi em presa em São Leopoldo.

A verdade

As testemunhas acabaram contando a verdade depois que a investigação começou a duvidar da história contada. O homem preso preventivamente não tem envolvimento com religião, mas é investigado se ele tinha alguma proximidade com a polícia, já que tinha conhecimento de detalhes da investigação. O motivo pelo qual ele coagiu as testemunhas a mentir já é conhecido, mas a polícia prefere manter em sigilo, por enquanto.

— Nós investigamos todas as testemunhas. Nós soubemos tudo dessas testemunhas. A gente fez outro depoimento e essas pessoas não tiveram outra alternativa a não ser contar a verdade.

Ouça a íntegra da entrevista:

Quem induziu?

Na manhã desta quarta-feira, a polícia prendeu um homem por ter coagido as três testemunhas da investigação: o filho dele e dois amigos.

— Uma pessoa foi presa preventivamente em São Leopoldo por induzir as três testemunhas a mentir. As pessoas estavam em dificuldades financeiras e foram coagidas e bem orientadas por pessoas que conhecem a investigação para  poder dar riqueza de detalhes. O nome não vai ser revelado porque a polícia investiga outras pessoas ligadas a ele. A motivação para incriminar não tem interesse pessoal, pelo depoimento. A verdadeira motivação do crime desse suspeito é agora o motivo da investigação. Com certeza essa pessoa conhece muito bem a investigação policial.

Tudo o que tínhamos até agora é mentira, é uma farsa. Mentiram com riqueza de detalhes e a investigação traçou o rumo pelas testemunhas. Por isso, ressalto a importância do inquérito policial. Os três depoimentos são mentirosos.

ROGÉRIO BAGGIO

Delegado de Novo Hamburgo

A liberdade

Até esta quarta-feira, cinco pessoas estavam presas e outras duas estavam foragidas suspeits de envolvimento em um ritual satânico que teria  causado a morte das duas crianças supostamente trazidas da Argentina. Como todo o inquérito, conduzido até então pelo delegado Moacir Fermino, era baseado em depoimentos de testemunhas, a polícia pediu a soltura dos sete (só cinco estavam presos), e a Justiça concedeu.

— Eu, em nome da Polícia Civil, imediatamente fiz um pedido de liberdade. A polícia está aqui para buscar a verdade dos fatos. A gente trabalhou e ficou ciente de que as pessoas que estavam presas eram inocentes. Quando tive certeza, eu pedi a liberdade dessas pessoas. A magistrada acatou o pedido.

De volta à estaca zero

Conforme o delegado Rogério Baggio, titular da 2ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, todas as provas periciais feitas até agora descartam a hipótese de ritual satânico envolvendo humanos, já que, tanto nas vestes apreendidas quanto no templo encontrado em Gravataí, foi encontrado apenas sangue animal, e não humano.

Agora, a investigação sobre a morte das crianças voltou à estaca zero, e a polícia não descarta nenhuma hipótese:

— 99% eles são inocentes. Tiveram sua vida devastada, foram publicamente condenados. Agora não descarto nada, não descarto ritual satânico também, porque não faço ideia do que possa ter acontecido.

Sobre a condução da investigação pelo delegado Moacir Fermino, Baggio preferiu não se manifestar quando perguntado. A Corregedoria da Polícia Civil vai apurar a conduta dele no caso.

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