Polícia



Após a prisão

"O espaço sagrado foi destruído", diz líder de templo solto há um mês

Silvio Rodrigues, que chegou a ser preso como suspeito do esquartejamento de duas crianças, afirma que sítio em Gravataí virou ponto turístico de curiosos e reclama de prejuízos financeiros

07/03/2018 - 10h03min


Hygino Vasconcellos
Hygino Vasconcellos
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Um mês após sair da prisão, a vida de Silvio Rodrigues ainda não voltou à rotina. Em dezembro de 2017, ele foi preso, apontado como suspeito pela morte de duas crianças encontradas esquartejadas em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Depois de 46 dias recluso, deixou a penitenciária após a investigação voltar à estaca zero com a constatação da polícia de que três testemunhas mentiram no inquérito. Além dele, outras seis pessoas tiveram a prisão revogada.

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O mestre de magia falou por mais de uma hora a GaúchaZH no Templo de Lúcifer, em Gravataí. Antes de ser detido, Rodrigues morava na casa de três quartos com a mulher e o filho, de 21 anos. Agora, se diz incomodado de estar ali, a ponto de só ter ido ao sítio duas vezes desde que está livre:

— Vim aqui para ver como estavam as coisas e me apavorei. Virou ponto turístico de curiosos, de pessoas que batem fotos, segundo relato de vizinhos. A tranquilidade foi quebrada, o espaço sagrado foi destruído, de sagrado não tem mais nada aqui dentro. Meus pertences particulares, religiosos, sumiram após ter sido preso.

Na sala, onde eram realizados os rituais, parte do forro ainda está caído, fruto de buscas da polícia no local. Uma escultura do templo apresenta perfurações e teve alguns adereços retirados. Além disso, Sílvio afirma que moedas de ouro desapareceram da casa.

Possível troca de endereço avaliada

Do lado de fora, ainda estão abertos buracos de mais de um metro de profundidade, feitos a pedido da polícia para procurar possíveis restos humanos – apenas o fêmur de um animal foi achado. Inicialmente, acreditava-se que poderiam estar enterradas no sítio as cabeças das crianças, até agora não localizadas.

Mesmo livre, Rodrigues ainda não retomou os rituais, o que teria resultado em prejuízo financeiro. 

— A minha casa está virada num buraco, como se tivessem ratos perfurando. E o mato tomou conta, o desleixo tomou conta porque não tem mais energia nesse momento aqui. Como vou retomar um trabalho nessas condições, que ajuda vou poder dar nessas condições? — questiona Rodrigues.

Félix Zucco / Agencia RBS
Templo fica no bairro Morungava, em Gravataí

O mestre de magia relata que, “numa época boa”, chegava a receber R$ 100 mil por mês. Na última segunda-feira, segundo ele, o saldo em sua conta era de R$ 0,47:

— Hoje está bem complicado financeiramente, mas vou voltar, pode ter certeza disso.

Ter sido apontado como suspeito pela morte de duas crianças teria afetado sua credibilidade.

— Destruíram minha vida, perdi muito cliente com isso, as pessoas ficam com medo. Não é isso que elas querem para a vida. Elas procuram a prosperidade.

Após a saída da prisão, Rodrigues foi morar na casa da mulher, também em Gravataí. Hoje, o templo é moradia do filho do casal. Trinta dias depois de deixar o cárcere, o homem relata ainda ser reconhecido na rua:

— Se fosse oportunista, me candidataria a vereador. Iria incomodar, todo mundo me reconhece. É claro, alguns são um pouco ásperos ao me verem, outros não. E aqueles que são ásperos simplesmente olho, ergo minha cabeça, porque não devo nada a ninguém.

Rodrigues não descarta mudar o templo de lugar. A troca de endereço, segundo ele, depende de avaliação das entidades espirituais pelas quais diz ser acompanhado há mais de 20 anos:

— Não faço nada sem consultar eles, porque minha vida quem rege são eles, em todos os sentidos.

Jefferson Botega / Agencia RBS
Após um mês, Sílvio Rodrigues ainda não voltou à rotina e nem retornou a morar em templo


Caso inconcluso

- Os corpos de duas crianças foram encontrados nos dias 4 e 18 de setembro de 2017, no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo.

-Perícias nos restos mortais comprovaram que se tratavam de dois irmãos, por parte de mãe. A investigação foi conduzida inicialmente pelo delegado Rogério Baggio, mas foi assumida nas férias dele pelo delegado Moacir Fermino.

- Na época, uma testemunha relatou a Fermino ter presenciado um ritual satânico em uma casa em construção, no qual teria visto duas crianças e os sete suspeitos, para os quais o delegado pediu a Justiça e obteve prisão preventiva. Após o retorno do delegado Baggio ao caso, constatou-se que tudo era uma “farsa” e que testemunhas mentiram após promessa de dinheiro.

- As prisões foram revogadas e a investigação voltou à estaca zero. Um homem, que teria orientado os testemunhos falsos, foi preso – ele não teve a identidade revelada. O delegado Fermino foi afastado das funções e a Corregedoria da Polícia Civil abriu apuração sobre o equívoco.

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