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Região Metropolitana

Empreiteiros afirmam que sofreram calote de construtora das "casas de papel"

Pessoas que ajudaram a fazer as obras dizem que foram lesadas

14/08/2018 - 22h01min

Atualizada em: 15/08/2018 - 09h22min


José Luís Costa
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Renato Dornelles
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Jefferson Botega / Agencia RBS
Sem ter recebido nada, mesmo após o término do serviço, Adélio Monzon Fontoura recorreu à Justiça

Não são apenas clientes que reclamam da Construtora Martins, que vem sendo motivo de reportagens do Grupo de Investigações (GDI) da RBS desde sexta-feira. A empresa com sede em Viamão, que acumula queixas de compradores de casas pré-fabricadas e de alvenaria por não cumprimento de contratos, é alvo também de empreiteiros e operários, que alegam terem sido lesados. 

Entre os que prestaram serviços à construtora e dizem não terem sido pagos está o empreiteiro Adélio Monzon Fontoura, 66 anos. Em março de 2017, ele foi contratado por R$ 1,5 mil para concluir a construção de uma casa pré-fabricada em Gravataí. A promessa era que o pagamento seria feito em duas parcelas: a primeira depois de iniciada a obra, e a segunda, na conclusão. 

Sem ter recebido nada, mesmo após o término do serviço, ele recorreu à Justiça. No Fórum de Viamão, em uma audiência, foi estipulado à empresa o pagamento dos R$ 1,5 mil em três parcelas mensais, em agosto, setembro e outubro do ano passado. Novamente, a construtora não honrou o compromisso. 

– Já faz um ano que deveriam ter pago a primeira parcela e, até agora, não vi a cor do dinheiro. O pior de tudo é que, antes de entrar na Justiça, quando fui na sede cobrar, fui empurrado para fora por seis seguranças. Agiram comigo como se eu fosse o errado na história e estivesse importunando – relata. 

O empreiteiro afirma ainda que teve dificuldades para a execução do trabalho. 

– Não mandavam o material ou era de segunda ou terceira linha – diz, fazendo coro a reclamações feitas por clientes em relação à qualidade dos itens de construção. 

O caso de Kelven Gambini, 24 anos, é mais complexo. Sua empreiteira, a Kelvi’s, já havia prestado serviços à Construtora Martins em 2013 e em 2014, sem o recebimento do valor. Apesar disso, no início deste ano, voltou a executar obras para a empresa. Novamente, não houve pagamento. 

A empreiteira arcou com R$ 5 mil para pagar operários contratados. Kelven afirma que teve de vender o carro para cumprir o compromisso. Ele estima que a dívida com a sua empresa esteja entre R$ 8 mil e R$ 10 mil.

"Não perguntaram nem exigiram nada", diz empreiteiro

 Quando procurou a Construtora Martins para oferecer seus serviços, juntamente a colega, em março passado, o empreiteiro Jonatan Gustavo Garcia da Silva, 30 anos, estranhou o fato de não terem solicitado referências ou comprovação de experiência, com a mostra de trabalhos executados:

– Não nos perguntaram nem exigiram nada. Já nos enviaram para um trabalho. Nos largaram lá no meio de um mato, no bairro Lami (extremo sul de Porto Alegre).

De acordo com o empreiteiro, quando os levaram ao local, deixaram uma pequena parte do material necessário para a obra. Depois, ele e seu colega não conseguiam mais contatos com a construtora. 

– Deixaram de nos atender. E o pior é que a cliente já estava esperando a casa há um ano e sete meses. Ela nos disse que haviam trocado de empreiteira umas cinco vezes – relata. 

 De acordo com o empreiteiro, ele e o colega executaram a obra em um domingo e, na segunda-feira, já entregaram a casa. Ao procurarem novamente a empresa, receberam a promessa de que seriam pagos na sexta-feira seguinte. Mas, antes disso, teria de trabalhar em outra obra, durante aquela semana. 

 – Era para uma senhora de 78 anos, bem humilde. Fizemas a casinha e ainda faltou parte do telhado e as conexões do banheiro.

 Jonatan e seu colega enfrentaram dificuldades semelhantes às relatadas por outros empreiteiros na hora de cobrar o pagamento. 

– Eles ameaçavam, empurravam para fora de lá (da sede). Acabaram pagando R$ 600 e deviam mais de R$ 3 mil – conta ele, que ainda pretende buscar outros meios de receber.  

Contraponto

A reportagem manteve contato telefônico com a Construtora Martins na tarde de. A pessoa que atendeu alegou que não havia representantes da empresa no local e que não poderia fornecer seus contatos. Na segunda-feira, uma pessoa identificada como José Martins prometeu conceder entrevista hoje. 

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